Quando Demolidor: Renascido foi anunciado, a promessa era grandiosa: dar continuidade a uma das séries mais aclamadas do universo Marvel na TV, agora sob os cuidados diretos do Marvel Studios. A ideia de reposicionar o personagem como um dos pilares da nova fase da franquia, unindo heróis urbanos como Homem-Aranha, Kate Bishop e Ms. Marvel, acendeu o entusiasmo dos fãs. A proposta inicial de dezoito episódios reforçava esse compromisso, mas as mudanças nos bastidores — com troca de showrunners, diretores e até reescrita completa do roteiro após a greve de roteiristas e atores — fizeram a série perder força antes mesmo de estrear. O resultado final, agora com apenas nove episódios, é uma produção que tenta equilibrar nostalgia e renovação, mas que, no processo, perde parte do impacto que a série original possuía.
A tarefa de conectar o novo universo da Marvel com os acontecimentos das antigas séries da Netflix sempre foi um desafio. Aqui, isso é feito de maneira sutil, com pequenos diálogos e cenas que pincelam essas ligações, evitando grandes exposições e respeitando a continuidade emocional dos personagens. Apesar disso, Renascido parece relutar em abraçar completamente suas raízes. Ao invés de retomar relações já estabelecidas, como o trio Matt, Foggy e Karen, a série aposta em novos arcos narrativos e personagens, mas falha em dar a eles o mesmo peso e profundidade que vimos nas temporadas anteriores.
Essa nova abordagem gera um dos principais problemas da temporada. O ritmo narrativo é instável: começa com força, investindo em ação e na presença do próprio Demolidor, mas logo se transforma em um thriller investigativo com subtramas jurídicas. Apesar de isso dialogar com o histórico do personagem nos quadrinhos, o contraste é brusco. A narrativa esfria, e os novos personagens — como Heather Glenn, interpretada por Margarita Levieva — pouco acrescentam ao drama. Eles funcionam mais como ferramentas narrativas do que como figuras com peso dramático real.
A série tenta se reerguer por volta do quinto episódio, quando o vilão Muso entra em cena. Inicialmente promissor, o personagem logo é descartado, servindo apenas como catalisador para que Matt Murdock retome seu manto de vigilante. Mais uma vez, a produção se apoia no Rei do Crime como antagonista, uma decisão compreensível, dada a força do personagem, mas que também reforça a sensação de que a série prefere caminhar pelo seguro. Ter apostado em um novo vilão com mais tempo de tela e desenvolvimento poderia ter dado o frescor necessário à trama.
Nos episódios finais, a série se prepara para um clímax que entrega o básico. A revelação do assassinato de Foggy, que serve como mistério central da temporada, é resolvida sem o impacto emocional esperado. Ainda assim, algumas participações especiais e cenas pontuais conseguem resgatar parte do entusiasmo, sugerindo que o futuro pode ser mais promissor. Com rumores e fotos vazadas de uma segunda temporada repleta de rostos familiares, tudo indica que a Marvel pretende criar pequenos grupos urbanos, como um novo Defensores, preparando terreno para futuras formações nos filmes principais da franquia.
Demolidor: Renascido acerta em alguns pontos, especialmente no tom mais sombrio e nas lutas corpo a corpo bem coreografadas, que remetem ao que fez da série da Netflix um marco. Mas sua tentativa de renovar o que não precisava e preservar o que já estava exausto a impede de alcançar o mesmo nível de excelência. O resultado é uma temporada que oscila entre o morno e o eficiente, e que entrega mais promessas do que realizações.