Devil May Cry – Ação, Estilo e Contradições em uma Adaptação Polêmica
Sendo a grande surpresa da Netflix em 2025, Devil May Cry traz de volta a nostalgia e a ação clássica dos games, mas será que consegue carregar o peso desse nome? A história gira em torno de Dante (Johnny Yong Bosch / João Capelli) e de um demônio chamado Coelho (Hoon Lee / Ronaldo Júlio), que deseja abrir os portões do Inferno e instaurar um reinado demoníaco na Terra. Ao longo da trama, Dante se envolve com inúmeros demônios e agências que desejam neutralizar — ou explorar — seu poder.
Em primeiro lugar, é preciso destacar a beleza gráfica da série: o traço lembra um anime modernizado, mas preserva a essência dos clássicos. Há uma mescla com trechos em 3D que cria um ambiente visualmente impactante — isso, claro, sem mencionar as cenas de ação, que remetem fielmente aos jogos, com tiroteios rápidos e estilosos, sangue em profusão e um frenesi colérico. As referências a outros jogos da Capcom também são um deleite para os fãs atentos. Outro ponto positivo da série é sua trilha sonora, contando com nomes como Evanescence, Limp Bizkit e Rage Against The Machine.
Por outro lado, a história é um completo erro em relação ao jogo e falha de forma ridícula ao inovar suas fórmulas. Antes de entrar nesse mérito, vale dizer que nunca joguei Devil May Cry, mas sou fã do personagem Dante — então, perdoem eventuais equívocos. O roteiro possui diversos furos que comprometem a construção dos personagens — desde a fragilidade dos planos do vilão Coelho até a subestimação da força do protagonista — e isso reduz bastante o impacto dramático da narrativa. Além disso, alterações em relação aos personagens originais desagradaram os espectadores no geral, especialmente os fãs do jogo.
Outro ponto controverso é a inserção de discursos políticos. A série passa a impressão de ter sido feita com o propósito de comentar o cenário político dos Estados Unidos, usando Dante como “garoto-propaganda”. Há desde acusações envolvendo ataques ao Vaticano atribuídos aos russos, até soldados americanos invadindo o inferno e promovendo ações radicais “em nome do Senhor” — estas, inclusive, ditas pelo próprio vice-presidente norte-americano.
O desenvolvimento de vários personagens importantes também sofre com um ritmo mal dosado, exigindo trechos extensos ou até episódios inteiros para explicar suas motivações. Outro fator estranho é a presença frequente de “demônios do bem”, conceito raro nos jogos e explorado aqui com certa insistência. A ideia de que “os humanos são os verdadeiros demônios” pode até ser interessante, mas não se encaixa bem em uma adaptação de um jogo marcado por tiroteios, rock and roll e carnificina estilizada. Sobre seus personagens, o fator mais incômodo com certeza é a ausência de Dante, que foi praticamente substituído por uma Lady (Scout Taylor-Compton / Fernanda Crispim) piorada, sendo uma personagem severamente destruída pelo roteiro e completamente oposta ao material original da Capcom.
Diante de todos esses pontos, Devil May Cry é uma série que pode agradar espectadores que não conhecem os jogos ou fãs menos rigorosos em suas críticas, mas não chega nem perto do que deveria ser. A fragilização dos personagens em prol de um roteiro mais palatável, as mensagens políticas forçadas e a incoerência com o material original prejudicam a experiência. Ainda assim, a qualidade da animação e a fidelidade nas cenas de ação são destaques positivos.
A Netflix já confirmou uma segunda temporada. Agora, só nos resta esperar para ver como a história vai se desenrolar.
Nota final: 4,5/10
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