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    A Vida Sexual das Universitárias
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    Taís Moraes
    Taís Moraes

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    Crítica da série
    4,5
    Enviada em 1 de dezembro de 2022
    A segunda temporada de “A vida sexual das universitárias”, está sendo lançada e resolvi assistir à primeira antes. A série da HBO conta a história de quatro calouras que dividem um quarto na universidade de Essex (nome bem sugestivo para a escola fictícia) enquanto elas descobrem a liberdade e a própria individualidade. 

    Já nas primeiras cenas entendemos o tom de humor e de questionamento que vai ser dado, com direito a vários abdomens masculinos trincados logo de cara.

    Criada e produzida por Mindy Kaling (“Eu Nunca” e “The Office”) e Justin Noble (“Eu Nunca” e “Brooklyn 99”), a série reverte a ideia dos antigos filmes adolescentes em que a mulher era apenas corpo e objeto de desejo ou rejeição ou então a ferramenta para ajudar o homem a cumprir uma jornada. Aqui, elas mesmas são protagonistas dos próprios desejos.

    Ao passar dos episódios, vamos conhecendo cada vez mais as questões de cada uma especificamente e, claro, as questões que são comuns a elas e a nós mesmas. Me atrevo a dizer que é de certa forma revolucionária, porque consegue aprofundar sem clichês nos temas que são recorrentes no dia a dia das mulheres, mas ainda não são tão comumente tratados nas telas - especialmente com tanta naturalidade e leveza.

    As histórias que as personagens vivem, são inspiradas nas experiências da própria Kaling e de Noble, assim como “Eu nunca”. Mas, diferente de “Sex and the city”, em que a personagem principal (Carrie) era a única tratada com mais profundidade, aqui, todas têm sua jornada de transformação já na primeira temporada. Podemos dizer que a Kimberly (Pauline Chalamet) tem levemente esse papel mais protagonista, mas suas amigas não estão ali apenas como artifício para a jornada dela. E isso é importante para a representação de minorias como donas da própria história e não acessórios dos brancos.

    As meninas

    Kimberly é de uma família de classe trabalhadora pobre. Ela não tem dinheiro, tempo (porque trabalha) ou bagagem escolar para enfrentar as aulas. Logo se envolve com o gostosão do campus, irmão de sua colega de quarto.

    Whitney é filha de uma senadora e seus problemas sempre reforçam a relação com a mãe, que começa em um lugar em que ela não presta atenção na filha por conta de sua carreira. 

    Bella é de família indiana e finge para os pais cumprir o estereótipo da “minoria nerd”, dizendo pra eles que quer ser uma neurocirurgiã, quando quer ser comediante. Passa por maus bocados ao sofrer com machismo e abuso no meio da comédia, desde o primeiro episódio.

    Leighton é a menina loira riquíssima de Nova York que vem para a faculdade esperando continuar com as amizades de infância, mas as antigas amigas dão um fora nela. Com o tempo, vai ficando mais gentil e amiga das colegas de quarto. Sua vida pessoal e amorosa é misteriosa.

    Leve e revolucionária

    A série tenta desconstruir os estereótipos de gênero e de personalidades. Como as quatro são principais, todas são desenvolvidas como personagens complexas que cumprem um arco narrativo dentro do próprio drama. As personagens não brancas, que muitas vezes vemos em filmes como só acessórias para o caminho da principal, aqui têm destinos e narrativas complexas em que podemos ver sua evolução.

    Alguns críticos não gostam de personagens complexas mulheres porque as acham “irritantes”. Essa ideia da mulher perfeita foi sempre construída na nossa mente pelos filmes que assistimos na infância e adolescência. Crescemos assistindo a desenhos e filmes em que a mulher é uma ‘cota’ e aí ela tem que ser a mais maravilhosa possível, tanto fisicamente como em personalidade. Ou é forte como os homens ou romântica serviçal que ajuda a todos. 

    Aqui elas são humanas acima de tudo. Termos produções audiovisuais com mulheres cheias de falhas e defeitos é ótimo para entendermos nosso lugar como mulheres no mundo, diminuir a cobrança e a necessidade de agradar. E não é “estar a serviço dos homens”. 

    Até mesmo a questão de corpos um pouco mais diversos faz diferença. Quando eu era adolescente, todos os filmes só tinham mulheres com corpos perfeitos para Hollywood, ou seja, muito muito magras e saradas. Aqui, apesar de não termos uma gorda entre as personagens principais, temos o corpo bonito da vida real, com curvas, e não só o corpo com padrão de magreza de hollywood. São mulheres bonitas e desejadas e não terem o corpo exageradamente magro não é uma questão.

    O título “A vida sexual das universitárias” pode até levar a gente a achar que é uma série só sobre sexo, mas não é verdade. Essa é uma série sobre relações pessoais e, principalmente, relações de amizade. É como um “Sex and the City” mais jovem, diverso e atualizado. 

    Assim como “Sex and the City” e “Girls” foram importantes para mostrar a amizade feminina para além daquela rivalidade que os homens querem fazer acreditar que existe, “A vida sexual…” é um avanço sobre isso. Amizades com pessoas diferentes de você podem ser mais enriquecedoras do que aquelas com quem você já está acostumada. 

    “Sex and The City” foi um passo para a sociedade enxergar de forma mais natural a sexualidade da mulher, mas ficou datado e com muitas questões superficiais, além de só tratar de problemas de mulheres super privilegiadas. Em “A vida sexual…”, vemos a vida de pessoas mais comuns com dramas comuns, mas tb complexos, mostrando muito do que já passamos pela nossa vida e a sexualidade é parte dela. 

    O sexo é tratado com a naturalidade que sempre deveria ser. Não é a finalidade e o início de cada questão, mas nessa época da vida – o início da fase adulta – são grandes as descobertas e as liberdades.

    Sonhos e amizades

    Todo mundo indo morar mais longe dos pais, percebendo que podem ser quem sonharam. É o início de uma fase de colocar em prática os sonhos e vivendo frustrações mais reais. É quando a gente está iniciando nossa carreira e nossa ‘vida de adulto’. Apesar de aqui no Brasil, quem mora nos grandes centros não ter muito o hábito de sair da casa dos pais nos anos universitários, é uma realidade muito comum para quem vem do interior, que se identificam muito. É como se pudéssemos ser o nosso eu que queremos ser. É o primeiro ano dos restos de nossas vidas. O primeiro ano de uma das nossas várias vidas que iremos ter.

    A ansiedade das novas amizades, dos novos amores e de quem vamos nos tornar estão todas ali, por isso são anos tão importantes. Por isso gostamos de revivê-los pela experiência das personagens. Elas já são adultas, mas não foram massacradas e moídas pelo sistema – nós também já fomos assim. Ainda estamos leves com o frescor da infância perto, mas sem os traumas e preocupações bizarras da adolescência.

    Podemos viver plenamente nosso despertar não só sexual, mas para a vida e pelas relações sem os vícios da escola e da família. Nos libertar do que os outros querem que a gente seja. Essa é a primeira vez em que nós começamos a nos ver como nós mesmos e com a família que escolhemos: nossos amigos.
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