⚠ TEM SPOILERS ⚠
The Last of Us (2ª Temporada) 2025
A segunda temporada da série "The Last of Us" (que estreou na HBO em 13 de abril de 2025) é baseada na popular franquia de videogame da Naughty Dog, dessa vez sendo baseada no jogo lançado em 19 de junho de 2020 exclusivamente para PlayStation 4, "The Last of Us Part II", cuja história segue Joel Miller (Pedro Pascal) e Ellie (Bella Ramsey) cinco anos após os eventos da primeira temporada, depois de se estabelecerem em Jackson, Wyoming, com o irmão de Joel, Tommy (Gabriel Luna) e os amigos de Ellie, Dina (Isabela Merced) e Jesse (Young Mazino).
Quando eu escrevi a minha gigantesca análise sobre a primeira temporada da série, lá em março de 2023, eu frisei que a série de jogos "The Last of Us" é a minha terceira franquia preferida de jogos da história dos videogames. Também deixei bem claro o quanto eu sempre estive frustrado por sempre as adaptações de jogos de videogames serem em sua grande maioria ruins (e até péssimas). Dito isto, a primeira temporada da série "The Last of Us" veio para revolucionar este quesito das adaptações de jogos de videogames, se tornando, em minha opinião, a melhor adaptação de um jogo de videogame para um conteúdo audiovisual de toda a história.
Diante da excelente adaptação entregue na primeira temporada, a minha expectativa estava gigantesca em relação a segunda temporada, até porque dessa vez seria baseado no segundo jogo da série, que eu considero como top 5 melhores jogos que eu já joguei em toda a minha vida gamer. Porém, em todos estes meus longos anos cinéfilos eu aprendi uma coisa: quando você coloca a sua expectativa muita alta em relação à uma obra, a chance de você se decepcionar é maior do que a chance de você conseguir igualar com a sua expectativa criada. E cá estou eu com mais um desses exemplos, pois infelizmente a segunda temporada da série "The Last of Us" é decepcionante.
Analisando cada episódio:
O episódio 1 começa bastante interessante ao mostrar a Abby (Kaitlyn Dever) com seu grupo no local que está enterrado o pai dela, com ela jurando vingança ao Joel. Esta parte não existe no jogo mas eu considero extremamente necessária, pois um ponto que eu sempre questionei no game é justamente a forma como a Abby é encaixada na história do segundo jogo, onde ela é praticamente jogada na história assim do nada, sem ninguém saber da onde ela saiu. Pelo menos na série esta introdução dá um pequeno contexto de quem é esta Abby e qual é a sua motivação. Um ponto que foi muito questionado na escolha da atriz para viver a Abby foi justamente o físico da Kaitlyn Dever, que é um físico normal de uma garota, sem ter aquele físico musculoso da Abby do jogo. No jogo a Abby tem aquele físico musculoso justamente por ela ser uma das melhores soldadas que estava em busca de vingança. Ou seja, ela treinou e desenvolveu o seu corpo para este propósito, para ficar forte e musculosa para sobreviver, tanto que no jogo quando jogamos com ela vemos que de fato ela é muito forte. Então, não vou negar que ver a Kaitlyn Dever como Abby me incomodou um pouco, pois esta versão da Abby assim mais magra me lembrou a sua versão dos flashbacks no jogo da própria Abby mais nova, quando ela saia para caçar com seu pai, do que a versão atual da Abby já adulta.
O episódio segue com o núcleo do Joel e da Ellie que vivem em Jackson. Na série a Maria (Rutina Wesley) e o Tommy tem um filho, no jogo não. Joel faz terapia com a Gail (Catherine O'Hara), isso não existe no jogo e nem a personagem Gail. A Gail é viúva do Eugene (Joe Pantoliano), que este sim existe no jogo, apesar de já estar falecido durante a história e a única coisa que encontramos dele é uma foto. Posso encarar esta questão da terapia como um encaixe da série justamente por o Joel estar travando uma batalha mental em sua consciência por tudo que ele fez para salvar a Ellie e agora ela cobrando ele justamente nessa questão. A cena do beijo na festa entre a Dina e a Ellie é bem fiel ao jogo. Já esta questão dos galhos infectados estarem invadindo Jackson pelos canos quebrados é bastante curioso, já que isso não existe no jogo. A Ellie é mordida novamente, dessa vez na barriga. Curioso, já que nos dois jogos isso nunca aconteceu.
O episódio 2 é sem dúvidas o mais aguardado da temporada e de toda a série:
No jogo a Ellie sai com a Dina para a patrulha antes da morte do Joel, na série ela vai com o Jesse e a Dina com o Joel, no jogo o Joel vai com o Tommy. Esta mudança pode não parecer nada demais mas eu considero um erro grotesco da série que explicarei mais pra frente. O Jesse acha o local do cultivo de maconhas do Eugene com a Ellie, no jogo é a Ellie e a Dina que encontram, aliás rola uma ótima cena que pra quem jogou vai entender. Temos a garota da cadeira de rodas, Amy, que não existe no jogo. Toda a parte da Abby fugindo da horda de infectados e sendo salva justamente pelo Joel é bastante fiel ao jogo. Interessante também eles combinarem o ataque dos infectados em Jackson bem na hora que vai ocorrer o ataque da Abby ao Joel, junto com a Ellie e o Jesse que estão procurando por ele. Esta parte do ataque à Jackson, que não existe no jogo, ficou muito boa, apesar da cena em que o Tommy anda no meio dos infectados sem muita preocupação, que destoa bastante. Esta sacada dos roteiristas sobre o ataque à Jackson foi um uma ideia até coerente, visto que isso poderia acontecer a qualquer momento.
O ponto alto do episódio obviamente é a morte do Joel, que inicialmente eu achei interessante justamente por a Abby falar com o Joel sobre o dia que ele matou os soldados no hospital para salvar a vida da Ellie, junto dos soldados estava o pai da Abby. Ou seja, isso é algo que não existe no jogo, no jogo a Abby chega e já ataca o Joel até a morte, ele praticamente morre sem saber o real motivo. Esta parte na série ficou boa justamente por ela elucidar ele sobre quem ela era e a relação dela com aquele dia da matança no hospital. A cena da morte do Joel não tem o mesmo peso e nem o mesmo pânico do jogo, no jogo você fica angustiado e sofre quantas vezes você jogar, mesmo já sabendo o que vai acontecer. O problema dessa cena na série é justamente a Abby, no caso a atuação da Kaitlyn Dever, que pra mim não me convence como Abby e muito menos nessa cena. Eu não consigo ver nela aquela crueldade e aquele ódio da Abby do jogo, e aqui eu nem estou entrando na questão do físico dela. O que me pega é o fato dessa Abby me parecer muito menininha, e a cena em si ficou boa, mas não tem nem sombra do peso e do pânico do jogo, sem falar que matar o Joel com pancadas brutal de taco na cabeça (que acontece no jogo) é muito pior e muito mais pesado do que simplesmente bater só na perna machucada dele, dar uns soquinhos e enfiar o cabo do taco no pescoço.
Outro ponto que me incomodou bastante, é o fato de pegarem muito leve com a Dina, tendo todo um cuidado em pegar uma injeção para fazer ela dormir e não ver nada, quando simplesmente poderiam dar uma pancada na cabeça dela e pronto. Mais um ponto: esta decisão de trocarem o Tommy pela Dina na cena da morte do Joel pra mim foi um erro. Até porque tirou todo o peso emocional do Tommy em ver o irmão sendo morto e despertando a sua fúria e o seu sentimento de vingança para ir atrás da Abby e seu grupo (como exatamente acontece no jogo). E outra, ele não viu o rosto da Abby, como ele vai partir sozinho, igual no jogo, atrás dela? Outro ponto que eu considero um erro da série: no jogo quando você controla a Ellie, você está chegando na casa e quando adentra o local a Ellie escuta os gritos agonizantes do Joel enquanto a Abby está batendo nele com o taco. Esses gritos são extremamente importantes no contexto do jogo, porque eles viram um trauma para a Ellie a partir daí, onde constantemente ela acorda com esses gritos do Joel em sua mente durante todo o processo do jogo. Já na série em momento algum a Ellie escuta os gritos do Joel, e sim ela escuta os gritos da Abby enquanto ela dá aqueles soquinhos fofo no Joel. Este segundo episódio tem sua fidelidade com o jogo mas o contexto como ele é desenvolvido é ruim e com mudanças, como no caso do Tommy, que são completamente infundadas e que vai interferir diretamente no decorrer da história daqui pra frente.
Após a morte do Joel temos um salto no tempo de três meses no episódio 3. Isso é outra mudança que eu também considero como um erro, pois no jogo a morte do Joel é em um dia e no outro o Tommy já partiu atrás do grupo da Abby, e logo após a Ellie e a Dina também vão. Ou seja, tudo é muito recente e o ódio e o desejo de vingança está completamente aflorado, e não esperar três funcking meses para pensar em ir buscar vingança. Um ponto curioso desse episódio é justamente já ter uma aparição dos Serafitas/Cicatrizes assim tão cedo, sendo que no jogo eles aparecem bem mais pra frente. Como no jogo é o Tommy que está presente na morte do Joel, ele parte sozinho atrás do grupo da Abby. Já na série isso mudou, ele não foi sozinho e está em Jackson junto da Ellie e de todos. E aqui entra outro ponto que me incomodou demais: a decisão em ter um conselho com uma votação para decidir se vão atrás dos assassinos do Joel ou não, é simplesmente ridículo. No jogo o Tommy já partiu na frente e a Ellie vai logo em seguida junto com a Dina contra a vontade da própria Maria. Na série não parece que o Tommy está sentindo a morte do Joel com um desejo de vingança, e muito menos a Ellie. Onde está o sentimento de vingança do Tommy e da Ellie? Onde está aquela fúria da Ellie em querer ir até sozinha atrás da Abby? Tiraram o peso dessa parte da história, deixaram o Tommy como um bundão pau-mandado da esposa, onde claramente ele não está nem um pouco preocupado em ir buscar vingança. Ridículo o que fizeram com o Tommy na série. O mesmo vale para a Ellie, que está completamente submissa, complacente, aceitando todas as ordens. Esta Ellie da Bella Ramsey não traduz 10% da Ellie do jogo.
Outro ponto que eu me questionei nesse episódio é justamente sobre a química entre a Ellie e a Dina. Pois não sinto química entre a Dina e a Ellie igual no jogo, elas parecem distantes. Tanto que na série a Dina nem diz que quer ir junto com a Ellie na missão como uma prova de amor e companheirismo (como acontece no jogo), ela apenas dá a ideia do que fazer e só vai junto com a Ellie. E como eu pensei, não teve a cena em que a Dina e a Ellie se pegam de calcinha, uma ótima cena no game por sinal. Na série a Dina só puxa o assunto do beijo na barraca e fala da nota, como no jogo, e o assunto morre. Uma cena bem fraquinha, realmente falta muita química entre as duas. Este terceiro episódio faz a série se afastar ainda mais do jogo e enfraquece os personagens. O episódio não é só um dos episódios mais fraco da temporada, como ele prejudica os personagens do Tommy e da Ellie. Por deixarem eles muito enfraquecidos, sem aquele sentimento de ódio e vingança.
O episódio 4 inicia com uma cena do Isaac Dixon (Jeffrey Wright) no passado onde mostra a sua troca de aliança da FEDRA para a WLF. Logo após temos aquela cena onde ele tortura um Serafita para conseguir informações a respeito da localização do seu grupo (por sinal, uma cena bem fiel ao jogo). Por fim nesse episódio temos uma das cenas mais icônicas da história dos jogos de videogames; que é justamente a cena na loja de instrumentos musicais em que a Ellie toca no violão e canta a belíssima canção "Take On Me" do a-ha para a Dina. Esta cena é linda, é tocante, é profunda, é emblemática, pois na primeira vez que eu joguei o jogo eu me emocionei nessa cena, e na série eu tenho que aplaudir de pé esta cena, pois ficou perfeita, não devendo em absolutamente nada à cena no jogo. Sem falar que nessa cena a Bella Ramsey e a Isabela Merced deram um verdadeiro show de atuações. Temos a cena do subsolo do metrô, que foi encurtada mas ficou boa. Curiosa a cena em que a Ellie deixa ser mordida para salvar a Dina, uma parte que não existe no jogo. Dado o contexto da mordida na Ellie a Dina fica extremamente confusa e perturbada, sem saber como agir no momento, naturalmente ele se vê ameaçada. Esta cena é boa até a parte em que a Dina enfim revela para a Ellie que está grávida e as duas caem em uma cena sexual completamente patética.
Nesse quarto episódio claramente vemos uma Ellie totalmente diferente do jogo, pois no jogo após a morte do Joel a Ellie se apresenta totalmente fechada, sombria, obscura, introspectiva, morta por dentro, o tempo todo você percebe o seu desejo e sua fúria pela vingança. Na série isso tudo é deixado de lado, tudo é muito leve, muito vago, muito raso, parece que as duas estão apenas em uma aventura na floresta curtindo e se divertindo, falta peso, falta emoção, falta dor, falta fúria, falta aquele ódio da Ellie que ela expressa apenas no olhar na capa original do jogo. Nesse quarto episódio claramente vemos que as coisas estão sendo muito atropeladas pelos acontecimentos, tudo muito corrido, com uma urgência em passar logos os acontecimentos. Nesse episódio vemos uma Ellie como a figura da boazinha, muito compassiva, muito complacente, que aceita tudo, como no caso da revelação da gravidez da Dina, que no jogo temos um diálogo pesado entre as duas, onde a Ellie é extremamente dura com a Dina e até revela que sim, que a Dina tinha se tornado um fardo pra ela, como a própria Dina havia mencionado em não querer ser ao ter escondido a sua gravidez. Por outro lado o que temos na série é a cara de pamonha da Ellie dizendo: "eu vou ser pai"! Definitivamente não dá!
O episódio 5 começa com um ponto muito importante no jogo mas que até então nunca tinha sido mencionado na série - que é a questão dos esporos de Cordyceps. Já na parte do teatro, no jogo na primeira vez que a Ellie sai após chegar ao teatro não é com a Dina, ela sai sozinha visto que a Dina estava passando mal por causa da gravidez. Na série elas vão juntas, a Dina está bem, elas estão a pé, até porque elas simplesmente esqueceram a égua Estrela na loja de instrumentos musicais no episódio passado (no jogo a Estrela é atingida por um explosivo plantado no chão junto com a Ellie). Temos aquele ótimo discurso da Dina sobre sua primeira morte na infância, que soa como um tapa na cara da Ellie sobre a sua vingança pelo Joel. O que me parece que a Dina sente mais desejo de vingança do que a própria Ellie - ridículo isso! O Jesse aparece para ajudar, só que no jogo ele aparece para ajudar a Ellie que está sozinha, já na série ele ajuda as duas. E como eu estava imaginando em como eles iriam encaixar o Tommy nessa história, o Jesse revela que ele veio com o Tommy atrás das duas para resgatá-las de volta. Ou seja, o Tommy só está ali para resgatar as meninas e não pelo seu desejo de vingança - ridículo mais uma vez!
O episódio continua com a Ellie, a Dina e o Jesse fugindo de uma perseguição dos soldados da WLF, quando eles são emboscados em um local onde presenciam os Serafitas estripando um soldado da WLF. Nesse momento a Dina é atingida na perna por uma flecha e carregada dali pelo Jesse (isso não acontece no jogo). Esta foi a forma que arrumaram para retirar a Dina e o Jesse do local para a Ellie seguir sozinha atrás da Nora (Tati Gabrielle). A cena da Ellie contra a Nora ficou boa, finalmente eu vi um pouco da caracterização da Ellie do jogo na Bella Ramsey, pois ela até consegue mostrar um pouco da sua fúria em suas expressões ao atacar a Nora. E mais uma vez na cena a Ellie ataca a Nora batendo em suas pernas e não na cabeça como no jogo. Por essas e outras que o jogo sempre será superior à série, pois no jogo não temos estas censuras como nessa cena da Nora e na morte do Joel.
O episódio 6 começa com uma cena um tanto quanto curiosa, que é justamente uma cena no passado, em Austin, no Texas, em 1983, com o policial interpretado pelo sempre maravilhoso ator Tony Dalton. Esta cena apresenta o Joel com seu irmão Tommy em uma situação com seu pai que era policial, e no futuro esta cena fez sentido na formação do caráter do Joel. Este episódio é voltado para os dias dos aniversários da Ellie no passado com o Joel. A parte do aniversário da Ellie no museu é bem curta, como eu já imaginava, porém a parte da capsula espacial é muito boa e muito fiel ao jogo. O engraçado desse episódio são as passagens de tempo de acordo com cada ano de aniversário da Ellie, e a Ellie continua exatamente do mesmo jeito, não tem crescimento, não tem mudança, só uns detalhes aqui e acolá, como no cabelo, na sobrancelha, até porque obviamente é a mesma atriz o tempo todo (este é um diferencial no jogo). Outro ponto interessante nesse sexto episódio é o fato da série mostrar a parte do Eugene quando ele foi mordido e como o Joel matou ele, já que isso não existe no jogo. No jogo ele é apenas citado mas já está morto. Curioso que a Ellie aproveita a oportunidade para desmentir o Joel em relação ao Eugene, já que ele havia mentido para a Gail quanto à sua morte. A Ellie aproveitou a ocasião para expor aquela mentira do Joel por ele também já ter mentido para ela como já sabemos de toda a história. O final desse episódio temos aquele diálogo pesado, emocionante e bastante revelador entre a Ellie e o Joel na varanda da casa do Joel. Por sinal, uma cena belíssima e completamente fiel ao jogo.
O episódio 7 marca o fim da segunda temporada:
O episódio começa com a cena do Jesse ajudando a Dina com a flecha em sua perna, que é uma cena que não existe no jogo mas na série ficou boa. Temos a cena da Ellie no teatro com Dina cuidando dos machucados em suas costas, por sinal outra cena bastante fiel ao jogo. Esta cena é curiosa por vários pontos: primeiro a Ellie abalada pelo seu embate com a Nora, sendo que ela revela para a Dina que não matou a Nora (Ai não!!!). Depois a Ellie revela para a Dina como tudo ocorreu naquele dia do ataque do Joel ao hospital, incluindo a morte do pai da Abby, o que faz sentindo para a Dina entender tudo de uma vez. Logo após a Ellie e o Jesse vão tentar encontrar o paradeiro do Tommy, e curioso que a partir daí temos alguns diálogos bem pertinentes entre o Jesse e a Ellie; como no fato do Jesse revelar para a Ellie que ainda ama a Dina, e a própria Dina já havia revelado para a Ellie na cena da barraca que ainda gostava dele, curioso. Tudo isso não existe no jogo, não dessa forma específica. Outra discursão entre a Ellie e o Jesse envolve justamente na decisão de um querer ir encontrar o Tommy e o outro ir caçar a Abby. Obviamente a Ellie vai de barco na direção do aquário na esperança de encontrar a Abby.
A cena da Ellie indo de barco até o aquário estava se desenrolando muito bem, até pelas enormes ondas, como justamente acontece no jogo. Porém colocarem esta cena dos Serafitas capturando a Ellie e a levando para sua ilha foi mais uma falha grotesca dessa série. Sinceramente eu não entendi qual o propósito dessa cena em específico, às vezes poderia ser apenas um gancho para nos mostrar o grupo dos Serafitas para a próxima temporada, que sim lá eles terão muito mais relevância. Mas já havíamos presenciado cenas com os Serafitas anteriormente. Outro ponto, é o fato dessa cena ser exatamente igual com a cena do jogo na parte da Abby quando ela é capturada pelos Serafitas, onde ela conhece a Yara e o Lev, que é uma parte muito importante da história da Abby no jogo. Sinceramente eu não entendi!
Por fim a Ellie chega no aquário de Seattle. No jogo assim que ela entra no local ela logo mata a cadela da Mel, a Alice. Mas adivinhem!!! Na série simplesmente a cadela Alice, que sim no jogo é extremamente importante, não existe. E então temos a cena que a Ellie enfrenta o Owen (Spencer Lord) e a Mel (Ariela Barer). Esta cena no jogo é excelente, pois a Ellie chega no local procurando a Abby e sai matando a sangue frio todo mundo que atravessa em seu caminho, incluindo a cadela Alice, o Owen e a Mel. Na série esta cena é absurdamente ridícula, pois a Ellie dá um tiro no Owen que de raspão pega no pescoço da Mel. O Owen obviamente morre mas a Mel ainda fica agonizando, sabendo que iria morrer ela revela que está grávida para a Ellie e pede para a Ellie fazer uma incisão em sua barriga para tentar retirar seu bebê ainda com vida. Uma cena absurdamente patética e deplorável, e mais uma vez temos uma Ellie na série completamente diferente da personalidade da Ellie do jogo, pois no jogo a Ellie também lamenta por ter matado a Mel grávida, mas é só. Na série a Ellie claramente não queria matar a Mel, ela morre quase como um acidente, e ainda a Ellie iria tentar salvar o seu bebê por compaixão - ah, faça-me um favor! Definitivamente esta Ellie é muito bunda-mole!
Logo após esta cena o Tommy e o Jesse aparecem para resgatar a Ellie do local e retornarem juntos para o teatro. Esta cena final do teatro é muito boa e completamente fiel ao jogo, onde até os diálogos são parecidos com o jogo. A seguir temos a cena que a Abby invade o teatro e ataca o Tommy, juntamente com a parte da morte do Jesse, que é exatamente igual ao jogo. Esta cena é mais uma que merece aplausos, pois temos aqui uma ótima cena, com um ótimo nível de fidelidade, sem falar na atuação da Kaitlyn Dever, que dessa vez eu gostei. No fim a Abby dispara contra a Ellie, mas naturalmente não aconteceu absolutamente nada, apenas para compor um impacto de fechamento. O corte seguinte é exatamente a cena da Abby na base do Isaac voltando para o dia 1, ou seja, obviamente uma apresentação para a terceira temporada da série, que será inteiramente focada na história da Abby.
Sobre o elenco:
Um dos principais pontos que na minha visão fizeram esta segunda temporada decair tanto em relação a primeira é exatamente a atriz Bella Ramsey. Na minha análise da primeira temporada eu elogiei a performance da Bella com todos os méritos possíveis, justamente por ela entregar uma atuação perfeita, com um timming perfeito, muito bem ajustada na personagem, onde ela soube incorporar com muita maestria a verdadeira Ellie do jogo. A Bella Ramsey superou e calou todos os críticos que julgaram a sua escolha, principalmente pela sua aparência com relação a Ellie do jogo. Porém, na primeira temporada a Bella Ramsey encaixou perfeitamente sendo aquela Ellie com 14 anos e não sendo uma Ellie já adulta com 19 anos. Você olha para a Bella e você jamais irá comprar a ideia que ela é a Ellie adulta, sendo que ela está exatamente igual na primeira temporada, por mais que ela apresente algumas mudanças como o cabelo, a sobrancelha e a tatuagem sobre a queimadura no braço. Este é o principal ponto da Bella Ramsey nessa segunda temporada.
E aqui eu preciso frisar que o problema em si não é somente da atriz Bella Ramsey e sim de quem a escalou para continuar vivendo a Ellie do segundo jogo, e principalmente a forma como o roteiro quis encaixá-la na trama da segunda temporada. O maior problema que eu vejo na Bella sendo uma Ellie adulta é justamente o fato dela não conseguir convencer sendo aquela Ellie do jogo, com aquele ódio, com aquele desejo de vingança, aquela fúria que a deixava completamente cega e sedenta por vingança, que iria matar qualquer um que atravessasse em sua frente. A Ellie do segundo jogo você já se impressiona ao olhar para a capa original do jogo, onde mostra uma pessoa seca, amargurada, vazia, obscura, sombria, infeliz, completamente morta por dentro. E o ponto aqui é justamente esse na atuação da Bella Ramsey, em não passar esta personalidade da Ellie do jogo, muito pelo contrário, a Ellie da Bella é totalmente pacifista, submissa, complacente, boazinha, bobinha, que aceita todas as ordens que lhe são impostas (como na cena ridícula do conselho). Jamais você irá comprar aquela ideia que aquela Ellie esteja realmente em uma missão de vingança, pelo contrário, em vários momentos a série suaviza ela demais, a humaniza demais, a descaracteriza demais, onde ela nitidamente não se impõe como aquela Ellie do jogo.
Outro ponto em relação a Ellie da Bella Ramsey, é o fato da série querer forçar que ela nunca quis matar ninguém, além da própria Abby. Pois me parece que ela não quis matar o Owen, nem a Mel e não matou a Nora. E pasmem, na cena final da temporada ainda nos deixa com a sensação como se ela também não quisesse matar a própria Abby - ai já é demais! E tem mais: parece que a única preocupação dessa Ellie na série é com o filho da Dina, em querer voltar logo para casa, em se tornar pai. Enfim! Eu gosto muito da atriz Bella Ramsey, acho ela muito talentosa, que já se provou em seus trabalhos passados, como em "Game of Thrones" e na própria primeira temporada de "The Last of Us". Porém, nessa segunda temporada ela não se encaixou na personagem, ela não conseguiu aquela essência da Ellie como ela havia conseguido na primeira temporada. Sendo assim eu concluo que manter a Bella Ramsey como a Ellie adulta nessa segunda temporada foi um completo erro.
Outro personagem que foi extremamente prejudicado pelo roteiro foi o Tommy. O ator Gabriel Luna também teve uma ótima participação na primeira temporada. Já nessa segunda ele foi muito prejudicado pela decisão do roteiro em mudar a parte que ele estaria com o Joel na cena da morte. A partir dali transformaram o Tommy em um bunda-mole, em um personagem onde claramente não dava a mínima pela vingança do seu irmão, um completo pau-mandado onde a sua esposa que dava as ordens do que ele deveria fazer, e depois ele foi completamente esquecido na série. Ou seja, o Tommy foi um personagem completamente subutilizado, completamente inútil, onde o roteiro dessa segunda temporada o prejudicou em todos os sentidos (assim como fez com a Ellie da Bella). Mais um que não passa perto do seu personagem no jogo.
Pedro Pascal manteve o mesmo nível da primeira temporada, ou seja, esteve excelente como Joel em suas poucas apresentações. Pedro é um ator espetacular, ele consegue um nível absurdo de caraterização, como nas cenas dos embates com a Ellie, na cena da sua morte e no episódio dos aniversários da Ellie no passado. Em todas as suas apresentações ele esteve 100% perfeito e 100% fiel ao Joel da segunda temporada.
A Isabela Merced é um verdadeiro colírio para os meus olhos. Antes de mais nada eu quero deixar bem claro que a minha personagem preferida no segundo jogo é a Dina, sim, a Dina! Eu conheço e acompanho a carreira da Isabela Merced há muitos anos, desde os seus primeiros trabalhos até o mais relevante do seu início de carreira, "Transformers: O Último Cavaleiro" (2017), onde na época ela ainda usava o seu nome artístico como Isabela Monet (depois ela mudou para Merced por causa de um acontecimento pessoal). Ou seja, quando escalaram a Isabela para viver a Dina eu fiquei extremamente feliz, pois eu sabia que não tinha como dar errado, visto que ela sempre foi uma atriz talentosíssima, como muita entrega no personagem, e não deu outra, a Dina da Isabela Merced é maravilhosa. A Isabela consegue entregar uma Dina muito fiel ao jogo, muito bem caraterizada, muito bem estudada, muito bem trabalhada, sendo extremamente carismática, simpática, doce, um amor, cuja sua performance é tão boa, tão elegante, que chega a ofuscar o brilho da protagonista Bella Ramsey em praticamente todas as cenas em que as duas atuam juntas. E vamos combinar né....a Isabela Merced é muito linda!
Young Mazino é outro ator que conseguiu um ótima caracterização do Jesse do jogo, por mais que em alguns momentos ele destoe um pouco do personagem por algumas conversas e atitudes. Mas no geral ele esteve muito bem como Jesse e não comprometeu em nenhum momento.
A Kaitlyn Dever como Abby eu já mencionei praticamente tudo que eu penso acima na análise do segundo episódio. Já expliquei o porque de eu não ter gostado da escolha dela para viver a Abby. E aqui a culpa não é da atriz e muito menos da sua performance, que pra mim fica devendo na cena da morte do Joel, mas ela compensa na cena do teatro no último episódio. Kaitlyn Dever é uma ótima atriz, tem ótimos trabalhos, e eu acredito que ela entregará uma excelente atuação na terceira temporada, visto que ela será a protagonista e a dona da temporada.
Completando o elenco:
Rutina Wesley tem muito mais tempo de tela nessa temporada e ela soube aproveitá-lo da forma mais precisa. Rutina contracena muito bem com o Gabriel Luna e com os outros, ela consegue mostrar uma imposição bastante interessante (a maria do jogo também se impunha). Ela foi bem!
Robert John Burke que fez o Seth, o ex-policial que administra um bar em Jackson, tem até mais participações na série do que no jogo. Ele faz o básico bem feito e não compromete.
Catherine O'Hara fez a terapeuta do Joel e a esposa do Eugene. Uma personagem original da série que na minha opinião é completamente desnecessária.
Já o Joe Pantoliano que fez o Eugene, marido de Gail, aparece apenas em um único episódio. De qualquer forma ele ainda existe no jogo e ainda teve um contexto na série.
Sobre o elenco do grupo da Abby:
O principal, além da Kaitlyn Dever, é o Jeffrey Wright que faz o Isaac. Interessante que o Jeffrey repete o seu próprio papel do jogo, e aqui, até por razões óbvias, ele está impecável, excelente, sendo de longe um dos melhores personagens em termos de caracterização entre a série e o jogo.
Spencer Lord não me convence como Owen. O mesmo também vale para a Ariela Barer como Mel. Porém, acredito que na terceira temporada eles serão muito mais relevantes (como no jogo), o que poderá melhorar muito a atuação de ambos, já que nessa temporada é bem fraca.
Por outro lado temos a Tati Gabrielle que fez a Nora. Esta sim conseguiu me convencer perfeitamente sendo a Nora, e olha que ela teve pouco tempo de tela, mas em seu episódio com a Bella Ramsey ela já se mostrou muito bem caracterizada na personagem. Com toda certeza ela estará incrível na terceira temporada.
E por fim o Danny Ramirez como Manny, que no jogo tem uma grande importância no grupo da Abby. Outro ator que eu também aposto que estará muito bem na terceira temporada.
Sobre as qualidades técnicas:
Tecnicamente a segunda temporada continua na mesma linha da primeira, sendo uma verdadeira obra-prima. O maior destaque da temporada continua sendo a direção de arte que produz cenários impecáveis e completamente condizentes e fiéis ao jogo. A caracterização da equipe de maquiagem e efeitos é novamente um absurdo. Pois nessa temporada temos mais ações envolvendo os infectados, até com variações deles, coisa que ficou um pouco devendo na primeira temporada. A cenografia salta aos nossos olhos, e muito por nos surpreender com uma fotografia completamente maravilhosa. De fato a direção de fotografia da série é um dos pontos mais fiéis ao jogo. A trilha sonora acompanha com muita maestria todas as qualidades técnicas da série, e não era pra menos. A segunda temporada continua com um trabalho técnico e artístico de altíssimo nível.
Agora eu preciso questionar sobre o roteiro dessa temporada:
Os senhores Craig Mazin e Neil Druckmann, que eu elogiei bastante na primeira temporada, dessa vez perderam a mão. E aqui a crítica é direcionada para a produção e roteiro. Um ponto que eu elogiei bastante na primeira temporada foi justamente o fato dos roteiristas seguirem um roteiro mantendo toda a essência e teor do jogo, por mais que tivemos algumas mudanças. Pra mim este foi o grande acerto da primeira temporada. O que me decepciona bastante nessa segunda temporada é exatamente a mudança de teor e essência que eles aplicaram no principal conteúdo do segundo jogo em relação com a série, pois o jogo é pesado, cruel, sombrio, mórbido, tenso, sobre vinganças, sobre dores, sobre perdas, sobre luto, sobre traumas, com um alto nível de violência, pânico e terror. O que acontece na série é exatamente ao contrário, eles suavizaram demais, eles humanizaram e descaracterizaram demais os personagens, eles retiraram todo esse peso, esse sentimento de ódio, dor, fúria e principalmente a vingança. E a personagem da Ellie na série é a personificação de toda essa mudança que eu acabo de mencionar.
Acredito que eles optaram em seguir por este caminho de suavizar a série para justamente não elevar a classificação indicativa e conseguir atingir todos os públicos. E aqui eu preciso deixar bem claro que eu entendo que estamos falando de uma adaptação de um jogo de videogame para o audiovisual, e que uma adaptação obviamente nunca irá seguir à risca da obra original, porém, eu defendo o fato de criar, de mudar, de usar uma liberdade criativa e até mudar alguns pontos ou alguns acontecimentos, mas uma coisa tem que ser respeitado em uma adaptação; tem que manter a essência do jogo, tem que respeitar o universo original que já está criado e eternizado, pois obviamente mesmo sendo uma adaptação, mas se não existisse o jogo a série jamais existiria. Então esse discurso batido de redes sociais de: "quer fidelidade vai jogar o jogo", pra mim não cola.
E aqui eu preciso destacar justamente essas mudanças que não fazem sentido e ainda prejudicam o andamento da narrativa na história.
Você nota que eles perderam a mão na temporada na questão de suavizar e descaracterizar a Ellie, quando justamente eles querem colocar a Ellie em situações adversas para motivá-la a despertar o seu ódio e o seu desejo de vingança, como se de alguma forma isso fosse dar um choque de realidade na Ellie (que vive em Nárnia) para ela se lembrar da sua missão de vingança (pois claramente parece que ela esqueceu). Estou falando daquela cena patética no último episódio do garoto Serafita que estava sendo capturado pelos soldados da WLF. Por falar em Serafitas (ou Cicatrizes, como queiram), é impressionante a forma como a série nos apresenta o grupo dos Serafitas. A série coloca os Serafitas como vítimas da WLF, como eles fossem somente o grupo que é sempre maltratado e perseguido pela WLF, subestimando os verdadeiros Serafitas do jogo, que também são extremamente cruéis com qualquer um que não faça parte do seu grupo. Nesse ponto temos mais uma mudança completamente absurda da série, pois no jogo isso nunca existiu, pelo contrário, no jogo não existe lado certo ou lado errado, não existe vítima e nem vilão, todos são vítimas e todos são vilões dos seus atos, cada um luta em prol da sua crença pela sua sobrevivência. Esta mudança exibindo esse olhar sobre os Serafitas e a WLF não faz o menor sentido.
Por fim:
Temos aqui uma segunda temporada de "The Last of Us" muito aquém do que eu esperava. Como já mencionei anteriormente, a série é uma adaptação do jogo e obviamente vão ocorrer mudanças em relação à obra original, mas se você tira o peso do luto, da vingança e da violência da narrativa, você até pode ter uma adaptação aceitável e boa para quem não jogou o jogo, mas definitivamente não representa verdadeiramente o que é "The Last of Us".
Eu lamento, pois eu esperava mudanças (como o próprio Neil Druckmann declarou) mas que não fossem comprometer exatamente a essência do que é o jogo "The Last of Us Part II". Que não fossem retirar o peso da história e suavizar, humanizar e descaracterizar tanto um roteiro, uma narrativa e principalmente os personagens. Este é o ponto que me pega, principalmente o que fizeram com a Ellie na série, que é absurdamente inaceitável!
O que resta é aguardar a terceira temporada (que ainda não tem data de lançamento, mas eu aposto por volta de 2027) que será feita no mesmo formato do jogo, com a primeira parte inteiramente focada na perspectiva da Ellie e seu grupo (como já foi), e a segunda parte inteiramente focada na perspectiva da Abby e o seu grupo. Eu acredito que este formato funciona no jogo, mas já para a série eu acho que não irá funcionar assim tão bem; uma vez que esta terceira temporada não teremos os personagens principais como o Joel, a Ellie e a Dina, sendo que na parte da Abby só ela se destaca enquanto o seu grupo é desconhecido. Pode ser que nessa terceira temporada a série venha a perder ainda mais força e relevância com relação a primeira e a segunda.
Como um verdadeiro fã da franquia de jogos "The Last of Us", eu encerro com uma palavra que define completamente o meu sentimento em relação a esta segunda temporada da série - "DECEPÇÃO"!!!
Sem mais!
- 25/05/2025