O Caminho Estreito Para os Confins do Norte
Críticas dos usuários
Críticas da imprensa
Média
3,0
1 nota

1 Crítica do usuário

5
0 crítica
4
0 crítica
3
1 crítica
2
0 crítica
1
0 crítica
0
0 crítica
Organizar por
Críticas mais úteis Críticas mais recentes Por usuários que mais publicaram críticas Por usuários com mais seguidores
NerdCall
NerdCall

43 seguidores 405 críticas Seguir usuário

Crítica da série
3,5
Enviada em 17 de julho de 2025
Existe algo de profundamente melancólico em 'O Caminho Estreito Para os Confins do Norte', série estrelada por Jacob Elordi e dirigida por Justin Kurzel. Baseada no premiado romance de Richard Flanagan, a produção mergulha na história fragmentada de Dorrigo Evans, médico, soldado e homem comum diante de acontecimentos extremos. A série chegou sem muito alarde ao Brasil pelo Universal+, enquanto nos Estados Unidos foi lançada pela Prime Video — uma decisão de distribuição que, infelizmente, pode ter limitado seu alcance e o impacto que ela poderia ter tido em um streaming mais popular.

A narrativa se divide em três momentos da vida de Evans: antes da Segunda Guerra Mundial, durante sua captura como prisioneiro na construção da ferrovia da morte na Birmânia, e décadas depois, já como uma figura pública e cirurgião. A decisão de montar a série de forma não linear é, ao mesmo tempo, uma ousadia e um obstáculo. Em alguns momentos, os saltos temporais servem para enriquecer a narrativa. Em outros, embaralham a linha do tempo e comprometem o ritmo, tornando a experiência levemente confusa.

Jacob Elordi interpreta o jovem Dorrigo com intensidade, enquanto Ciarán Hinds encarna sua versão mais velha com uma melancolia quase palpável. É uma escolha certeira da produção ter dois atores diferentes para representar as fases do personagem. Embora o envelhecimento de Elordi com maquiagem pudesse ser uma saída, a presença de Hinds eleva o material, trazendo nuances que só um ator com sua bagagem consegue entregar.

A história de amor entre Dorrigo e Amy Mulvaney (Odessa Young), a esposa de seu tio, surge como um fio condutor emocional da série. No entanto, essa relação parece apressada e sem o desenvolvimento necessário para justificar o peso dramático que a série tenta trazer. A conexão entre eles funciona mais como símbolo de algo inalcançável, do que como uma história de amor que realmente convence. A impressão é de que essa trama foi pensada para dar profundidade ao personagem principal, mostrando o contraste entre o amor perdido e a brutalidade vivida na guerra. Mas o resultado é morno, principalmente quando comparado às cenas desse aprisionamento.

É justamente nos episódios que retratam o período em que Evans está preso na Birmânia que a série atinge seu ápice. Justin Kurzel parece encontrar aqui sua melhor forma como diretor. O retrato cru e implacável das condições de vida no campo de trabalho é sufocante. Os detalhes da degradação física e psicológica dos prisioneiros são mostrados com certa visceralidade: a escassez de comida, a ausência de cuidados básicos, a constante ameaça de morte. Tudo isso é potencializado pela responsabilidade de Evans, o único médico, que se vê impotente diante da dor de seus companheiros.

Essas sequências contrastam fortemente com o restante da série, a ponto de dar a sensação de estarmos assistindo a duas séries distintas: uma marcada pela brutalidade da guerra, outra pelo drama introspectivo e amoroso. E essa sensação acaba jogando contra a coesão da série. Ainda que a proposta seja justamente mostrar como a guerra moldou aquele homem ao longo dos anos, a tentativa de equilibrar os dois lados nem sempre funciona com a mesma força.

O drama pós-guerra também traz elementos interessantes. Dorrigo, agora um homem reconhecido, casado, ainda vive uma vida de traições e vazio. A guerra terminou, mas seus traumas continuam a corroer tudo ao seu redor. Hinds transmite isso com um olhar perdido, uma postura cansada, um silêncio que diz mais do que qualquer diálogo. A atuação dele é, sem dúvida, um dos pontos altos da série.

No fim, O Caminho Estreito Para os Confins do Norte é uma série que vale ser conferida. Não é perfeita — tem problemas de ritmo, falhas na construção romântica e uma estrutura narrativa que exige atenção do espectador —, mas oferece momentos de grande força emocional. Seu retrato da guerra é visceral, impactante, e as atuações principais dão conta de sustentar a densidade que a história exige. É uma série que poderia ter brilhado ainda mais se tivesse apostado em uma linha narrativa mais coesa e em uma abordagem emocional menos apressada em certos momentos. Ainda assim, o que funciona aqui, funciona muito bem.