Absolutamente nada do que iremos assistir na primeira temporada de "Bridgerton" será novidade - exceto pelo retrato mais ousado que a série faz sobre temas como sexo e homossexualidade; além da representatividade dos negros na aristocracia daquela época. Ou seja, não é preciso ler "Bridgerton: O Duque e Eu", livro escrito por Julia Quinn, na qual esta temporada é baseada, pra se ter uma ideia do que vai acontecer ao longo dos oito episódios que compõem "Bridgerton", neste primeiro momento, uma vez que a trama é totalmente previsível e seus passos são facilmente telegrafados pelo espectador.
Vejamos:
A série se passa numa conjuntura que é bem conhecida daqueles que são mais familiarizados com os filmes de época, principalmente, as grandes histórias de amor protagonizadas por heroínas românticas. Nessa época, as mulheres estavam relegadas - e pressionadas em direção - a um único momento: aquele em que seriam apresentadas à sociedade, de forma a arrumar (ou não) um bom casamento, que lhes garantissem um bom futuro e trouxessem prestígio às suas famílias.
A trama é uma colagem de vários elementos já conhecidos: desde os livros de Jane Austen, passando até mesmo por obras mais modernas, como a série de TV "Gossip Girl", como iremos mostrar nos próximos tópicos.
Note o casal central: o Duque de Hastings (Regé-Jean Page) é uma tentativa de emular Mr. Darcy, na medida em que ambos possuem uma personalidade mais introvertida e estão longe de serem carismáticos. Já Daphne Bridgerton, certamente, foi inspirada em Elizabeth Bennet, uma vez que ambas nutriam o sonho de se casarem somente por amor - o que era uma possibilidade rara dentro da conjuntura que elas vivenciavam. Os dois, aliás, acabam não funcionando muito bem juntos... E, chega um momento em "Bridgerton", em que a trama dos coadjuvantes é mais interessante do que a deles.
Além disso, nós já vimos vários outros tipos presentes em "Bridgerton" nos livros de Jane Austen ou em romances de época similares: a irmã que prefere o caminho dos estudos do que aquele que a levará ao casamento; a mãe desesperada pelo casamento de suas filhas; a personagem que esconde um escândalo que arruinaria suas chances na sociedade; o irmão irresponsável que não quer assumir o seu papel familiar; o irmão cujo lado é boêmio e artístico...
Já a narradora, Lady Whistledown (na voz da lendária Julie Andrews), com sua coluna sobre o cotidiano da sociedade londrina da época, sendo uma testemunha ocular de todos os acontecimentos marcantes da temporada dos bailes, certamente inspirou, posteriormente, a redatora do blog que dava nome à série "Gossip Girl", e que narrava as crônicas amorosas dos adolescentes das escolas de elite no Upper East Side de Manhattan (Nova York).
Apesar de tudo isso, histórias como as que a primeira temporada de "Bridgerton" retrata continuam a ter um apelo enorme junto ao público. É só perceber o grande sucesso que a série fez, sendo a mais vista da Netflix em 76 países. Como a série literária escrita por Julia Quinn ainda tem mais sete livros (cada um deles centrado em um dos irmãos Bridgerton), então, quem gostou dessa série não se sentirá órfão por muito tempo...