Justiça tenta construir uma narrativa complexa em que diferentes histórias se entrelaçam, mas acaba tropeçando justamente naquilo que pretende exaltar: a multiplicidade de perspectivas. A repetição constante de cenas já vistas por outro ângulo torna a série cansativa e pouco dinâmica, como se a narrativa não confiasse na capacidade do público de acompanhar os acontecimentos.
Além disso, há um excesso de cenas de sexo que, longe de contribuírem para o desenvolvimento emocional ou dramático, parecem existir apenas para preencher tempo e chocar de forma gratuita. A sexualização constante empobrece a trama e desvia a atenção do que realmente deveria importar: a construção de personagens e conflitos consistentes.
O maior problema, porém, está no roteiro que frequentemente sacrifica a coerência para fazer a história avançar do jeito que deseja. Os personagens mudam de personalidade de um episódio para outro, esquecem fatos importantes e tomam decisões sem qualquer lógica humana — apenas porque o enredo precisa que façam isso.
Alguns exemplos são particularmente gritantes:
Um cachorro invade repetidamente o quintal do vizinho, mas a solução mais simples (subir o muro ou colocar uma grade) é ignorada sem explicação.
Um homem que tem a mulher atropelada decide dar uma injeção letal nela no dia seguinte, sem qualquer tempo de luto ou reflexão.
Uma mãe religiosa, subitamente, pega uma arma para matar um cachorro a tiros — uma mudança brusca que não é justificada.
Uma mulher que passou sete anos alimentando ódio pelo assassino da filha subitamente aceita ser madrinha e orientadora dele — e ainda tenta construir um romance forçado entre os dois.
Uma jovem prestes a entrar na faculdade prefere ir presa a denunciar um homem que mal conhece, com quem teve apenas uma transa.
O caso da personagem de Adriana Esteves resume bem a inconsistência do roteiro: ela já havia ouvido a confissão do policial corrupto no primeiro episódio e, mesmo assim, muitos capítulos depois volta a agir como se estivesse descobrindo tudo de novo, ignorando tanto a confissão anterior quanto o fato de que ambos já haviam desenvolvido uma convivência cordial. Até mesmo a “droga encontrada no quintal”, motivo de sua prisão, reaparece intacta sete anos depois, como se o mundo da série não exigisse mínima lógica investigativa.
A série também se apoia em ideias de vingança que soam rasas ou mal trabalhadas — como a jovem que passa anos se prostituindo com o único objetivo de se aproximar da mulher que odeia, apenas para realizar uma vingança que não muda absolutamente nada em sua vida. Essa mesma falta de coerência está presente em arcos de relacionamento: uma mulher seduz um policial cozinhando para ele, mas depois a trama insiste em transformá-la numa pessoa que “só serve alface”; um homem trai a esposa quase como se fosse uma exigência do roteiro, e não da própria personalidade.
Em suma, Justiça tenta ser grandiosa, mas frequentemente se perde em soluções artificiais, personagens incoerentes e conflitos mal resolvidos. O resultado é uma série que, embora ambiciosa, soa forçada, repetitiva e, muitas vezes, desconectada da lógica emocional e humana que pretende retratar.