À primeira vista, The Orville pode parecer apenas uma paródia bem-humorada de Star Trek e, de fato, ela homenageia descaradamente o gênero da ópera espacial. Mas o que começa como comédia leve e despretensiosa rapidamente revela camadas surpreendentemente profundas, refletindo com inteligência sobre temas contemporâneos que vão muito além das estrelas.
A série evita se aprofundar em teorias reais de física espacial, mas tudo bem. Ela nunca prometeu ciência exata, mas sim uma narrativa coerente dentro do universo que constrói. E é exatamente nesse universo que Seth MacFarlane, criador e protagonista, se permite fazer o que sabe melhor: usar o humor como porta de entrada para discussões sérias e incômodas, mas sempre necessárias.
The Orville acerta em cheio ao abordar sexualidade, identidade de gênero, fé, intolerância, redes sociais e até a cultura do cancelamento com um olhar que mescla crítica social e empatia. Há episódios que funcionam como pequenos tratados filosóficos embutidos em tramas leves, com diálogos ágeis e personagens carismáticos. Quando um capítulo inteiro é dedicado a discutir o julgamento público nas redes como forma de justiça. Você entende que a série está mirando além do entretenimento. Está falando da gente, aqui, agora.
Os dilemas pessoais também são destaque. Traição, autocontrole, conflitos morais, decisões difíceis dentro de relações e hierarquias. Tudo isso aparece sem pesar a mão, com um equilíbrio quase raro entre humor e cinismo gratuito ou pregação ideológica rasa. É uma série que quer refletir, mas não quer te convencer à força.
Claro, há episódios mais fracos, vagos, ou que claramente servem apenas para preencher temporada. Nada que comprometa a experiência que, como um todo, vale cada segundo da atenção dos fãs de ficção científica, especialmente da velha guarda de Star Trek, Babylon 5 ou Battlestar Galactica.
Em resumo, The Orville é uma das maiores surpresas recentes do gênero. Leve por fora, denso por dentro e é o tipo de série que você começa rindo e termina pensando. E talvez, só talvez, desejando que a humanidade real tivesse uma nave como aquela, com menos lasers e muito mais bom senso.