A vigésima segunda temporada de Malhação, exibida entre 2014 e 2015, é amplamente reconhecida como uma das mais bem-sucedidas e marcantes da franquia. Em meio a um contexto de revitalização da novela, essa edição conseguiu resgatar o interesse do público jovem ao mesclar elementos clássicos da série com inovações narrativas e temáticas contemporâneas. Escrita por Rosane Svartman e Paulo Halm, a temporada trouxe de volta um dos cenários mais icônicos da trama – a academia de artes marciais –, ao mesmo tempo em que introduziu a Escola de Artes Ribalta como espaço central para as aspirações e desafios dos personagens. Com um elenco carismático, uma abordagem dinâmica e a exploração de temas sociais relevantes, essa fase da novela não apenas reconquistou a audiência perdida, mas também se consolidou como um marco dentro da história da série.
Um dos aspectos mais bem-sucedidos da temporada foi a estrutura narrativa equilibrada entre drama, romance e ação. O enredo principal girava em torno do triângulo amoroso entre Duca (Arthur Aguiar), Bianca (Bruna Hamú) e Karina (Isabella Santoni), com uma trama construída de maneira envolvente e repleta de conflitos emocionais. A rivalidade entre as irmãs Bianca e Karina, impulsionada pelo amor em comum por Duca, foi um dos motores da história, oferecendo ao público momentos de tensão e emoção genuína. Paralelamente, personagens como Pedro (Rafael Vitti) e Sol (Jeniffer Nascimento) trouxeram leveza e comicidade, contrastando com os dilemas mais intensos de outros núcleos. Essa diversidade de tons foi fundamental para prender a atenção dos telespectadores e manter a trama sempre dinâmica.
Outro ponto alto foi a construção dos personagens, que fugiram dos arquétipos simplistas comuns em narrativas juvenis. Karina, por exemplo, começou como uma adolescente rebelde e impulsiva, mas teve um arco de amadurecimento que conquistou o público, especialmente por sua relação com Pedro, que inicialmente era baseada em uma mentira, mas evoluiu para um dos romances mais adorados da temporada. Da mesma forma, Cobra (Felipe Simas), que a princípio era visto como o antagonista impulsivo e violento, revelou camadas mais profundas ao longo da trama, tornando-se um dos personagens mais complexos e cativantes.
Além das relações interpessoais, a temporada também se destacou pela abordagem de temas sociais relevantes, algo que se tornou um diferencial e contribuiu para seu sucesso entre o público jovem. A novela tratou de questões como gravidez na adolescência, lutas clandestinas, preconceito contra dançarinos homens, tricotilomania e câncer de mama, trazendo discussões importantes para um público que muitas vezes não encontrava esses temas abordados de maneira acessível na televisão. O caso de Jade (Anajú Dorigon), por exemplo, que sofria de tricotilomania – um transtorno compulsivo que a levava a arrancar os próprios cabelos –, foi uma inovação dentro da dramaturgia juvenil, pois tratou de um problema pouco discutido na mídia.
Outro destaque foi a representatividade racial e social. A personagem Sol, vivida por Jeniffer Nascimento, foi um marco importante na representatividade negra dentro da novela. Sua trajetória como uma jovem humilde que sonhava em viver da música e enfrentava preconceitos sociais ressoou com muitos telespectadores. O núcleo da Ribalta, em especial, serviu como um espaço para que a diversidade fosse explorada, tanto em termos raciais quanto em relação às diferentes classes sociais representadas na trama.
No campo da audiência, a temporada começou com índices superiores à sua antecessora, demonstrando um interesse inicial promissor do público. Apesar de oscilações ao longo do ano, especialmente durante o horário político, a novela conseguiu recuperar fôlego e alcançou marcas expressivas, chegando a picos de 21,2 pontos em julho de 2015 e consolidando uma média geral de 15,94 pontos – um aumento significativo em relação à temporada anterior. Esse desempenho refletiu o impacto positivo da trama e a aceitação do público.
O sucesso da temporada não se restringiu apenas à audiência, mas também à recepção calorosa dos fãs. Muitos consideram essa fase de Malhação uma das melhores já produzidas, justamente pela combinação de enredo envolvente, personagens bem desenvolvidos e discussões relevantes. O legado da temporada se perpetua até hoje, com sua base de fãs ainda ativa e com personagens que permaneceram na memória do público.
Em suma, a vigésima segunda temporada de Malhação conseguiu reunir todos os elementos necessários para revitalizar a novela e reconectar-se com sua audiência juvenil. Ao equilibrar romance, drama, representatividade e debates sociais, a trama se destacou como uma das mais bem-sucedidas da história da série. Seu impacto vai além dos números de audiência, pois marcou uma geração e consolidou a relevância de Malhação como um espaço de entretenimento e reflexão para os jovens brasileiros.