A vigésima sétima e última temporada de Malhação, intitulada Toda Forma de Amar, exibida entre abril de 2019 e abril de 2020, marcou o encerramento definitivo de uma das mais longevas produções da TV brasileira. Escrita por Emanuel Jacobina, criador da novela, a temporada foi ambiciosa ao explorar temas complexos como maternidade precoce, adoção, milícias, homossexualidade e racismo, além de apresentar um elenco diverso e representativo. Apesar de contar com uma narrativa promissora e personagens cativantes, a temporada sofreu com problemas estruturais, ritmo irregular e certas escolhas questionáveis de roteiro, que comprometeram seu pleno potencial.
Desde sua criação em 1995, Malhação passou por diversas transformações, e Toda Forma de Amar tentou se posicionar como uma temporada marcante ao trazer um tom mais realista e dramático, semelhante ao que foi visto em Viva a Diferença (2017–2018). A trama central gira em torno de Rita (Alanis Guillen), uma jovem que descobre que sua filha, dada para adoção pelo próprio pai sem seu consentimento, está viva e sendo criada pelo casal de classe média alta Lígia (Paloma Duarte) e Joaquim (Joaquim Lopes). A partir dessa premissa, a novela constrói um embate entre maternidade biológica e afetiva, abordando questões éticas, emocionais e jurídicas relacionadas à adoção. Esse núcleo foi, sem dúvidas, o mais bem desenvolvido da temporada, contando com atuações consistentes e conflitos que mantiveram a atenção do público.
No entanto, a temporada se viu dividida entre esse núcleo principal e uma gama de tramas paralelas que, embora inicialmente promissoras, acabaram prejudicadas pela falta de aprofundamento e pelo desenvolvimento apressado ou previsível. A ideia de um grupo de adolescentes que presencia um crime cometido por milicianos e, a partir daí, passa a viver sob tensão e ameaça, poderia ter sido um dos pontos altos da novela. No entanto, o roteiro tratou esse tema de maneira superficial, sem a devida complexidade que um assunto tão grave exige. Os personagens do grupo "DeuRuim", que formam o núcleo jovem, tiveram seus arcos dispersos ao longo da temporada, alguns sendo resolvidos de maneira abrupta ou deixando a desejar em termos de impacto dramático.
Outro ponto que gerou debates foi o desenvolvimento das tramas românticas. O romance de Rita e Filipe (Pedro Novaes) conseguiu cativar parte do público, mas a relação acabou sendo prejudicada por escolhas narrativas previsíveis e pela introdução de Rui (Rômulo Arantes Neto), ex-namorado abusivo de Rita, que se tornou um obstáculo forçado para o casal. A insistência em criar um triângulo amoroso sem nuances profundas transformou o arco da protagonista em um jogo de idas e vindas pouco convincente.
Paralelamente, a novela abordou a descoberta da homossexualidade de Guga (Pedro Alves) e seu relacionamento com Serginho (João Pedro Oliveira). Embora tenha sido um dos primeiros casais gays a ter maior destaque em Malhação, o roteiro tratou a relação de forma esquemática, reduzindo sua complexidade a conflitos familiares e sociais sem permitir um aprofundamento genuíno das emoções dos personagens. A trama de Anjinha (Caroline Dallarosa), jovem jogadora de futebol enfrentando o machismo no esporte, também prometia muito, mas acabou se limitando a um romance proibido com Cléber (Gabriel Santana), enquanto sua luta por reconhecimento profissional ficou em segundo plano.
A abordagem de temáticas sociais sempre foi um dos pilares de Malhação, e Toda Forma de Amar tentou seguir essa tradição. Contudo, algumas discussões foram tratadas de forma estereotipada ou apressada. O racismo estrutural enfrentado por Jaque (Gabz) e sua luta pelo reconhecimento paterno foram apresentados de maneira instigante, mas perderam força com o desenrolar da novela. Da mesma forma, a trajetória de Raíssa (Dora de Assis), que sonhava em ser cantora mas enfrentava a oposição da mãe, teve momentos interessantes, mas sua rivalidade com Nanda (Gabriella Mustafá) seguiu um caminho clichê, tornando-se previsível.
Outro problema estrutural da temporada foi o ritmo irregular da narrativa. Enquanto alguns episódios foram densos e repletos de conflitos bem trabalhados, outros se arrastaram com situações repetitivas e pouca evolução dos personagens. Isso ficou evidente principalmente na reta final, quando a necessidade de amarrar diversas tramas resultou em resoluções apressadas e pouco satisfatórias. O destino de Rita, que desaparece misteriosamente no último episódio, gerou revolta entre os espectadores, pois não apenas deixou a história inconclusa, como também enfraqueceu toda a jornada da protagonista, que lutou por sua filha ao longo de toda a temporada.
Ainda que tenha sido uma temporada com boa audiência – registrando média geral de 18 pontos, superando a antecessora Vidas Brasileiras –, o desempenho positivo se deveu mais à fidelidade do público do que à consistência narrativa. O último capítulo alcançou 23,4 pontos, impulsionado pelo início da pandemia de COVID-19, que elevou os índices de audiência da TV aberta.
O fim de Malhação como produção inédita na Globo, anunciado em 2021, trouxe um sentimento de frustração para os fãs, especialmente porque a temporada seguinte, Transformação, já estava em produção quando foi cancelada devido à pandemia. O espaço antes ocupado pela novela foi substituído por reprises e posteriormente pelo aumento da duração do Vale a Pena Ver de Novo, o que evidenciou uma mudança de prioridades da emissora.
Apesar de seus tropeços, Toda Forma de Amar não pode ser considerada uma temporada ruim. Seu mérito está na tentativa de manter o legado da franquia, apresentando uma trama central emocionalmente envolvente e personagens diversos. Entretanto, falhas na condução narrativa, no aprofundamento dos temas sociais e no desfecho controverso impediram que a temporada alcançasse o impacto que poderia ter tido. Como última edição de uma série icônica da TV brasileira, Toda Forma de Amar deixa um misto de reconhecimento por seus acertos e frustração por suas falhas, encerrando a trajetória de Malhação com um gosto agridoce para o público.