No início da 5ª temporada de Breaking Bad, Walter White toma café da manhã sozinho em uma lanchonete. É uma forma de matar o tempo, pois logo descobrimos que ele está lá para resolver outros assuntos. Ao retornar para o carro, descobrimos que ele adquiriu uma metralhadora M60. A abertura foi como tantas outras na série de Vince Gilligan: descontextualizada e intrigante.
Para Gilligan, a cena existia principalmente porque era "legal". Era uma maneira legal de começar a temporada, e eles teriam tempo para direcionar isso no roteiro. Como ele revelou em uma entrevista à Uproxx, aquele inocente "vamos guardar para depois" acabou sendo uma das maiores dores de cabeça que a equipe de roteiristas teve que enfrentar, e uma decisão da qual se arrependeram até quase o final.
À medida que os episódios avançavam, a equipe educadamente o lembrava de que precisava decidir, mas não importava o quanto ele pensasse sobre isso, Gilligan não sabia o que diabos fazer com aquela metralhadora.
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Seus colegas escritores tornaram-se tão insistentes que, em certo momento, Gilligan propôs o impensável: "Vamos fingir que a metralhadora nunca existiu". É claro que, para eles, isso era um pecado capital. Fazer isso não só incorreria nos famosos furos de roteiro que os fãs adoram apontar, como também violaria uma lei clássica da narrativa: que todo elemento introduzido em uma história deve ter um impacto no final.
"Nunca fiquei tão bravo comigo mesmo", lembra Gilligan em outra entrevista sobre o assunto, aproveitando a oportunidade para ensinar outros roteiristas a não fazer algo só porque é legal na hora, se você não tiver uma boa resposta para aquilo. "Fizemos isso com nós mesmos. Nos encurralamos."
Depois de refletirem bastante, eles finalmente chegaram a uma solução que os convenceu nos acréscimos. E não era uma solução qualquer: foi no episódio final que a arma finalmente se tornou importante, e Walter a usou para eliminar uma sala inteira de supremacistas brancos.
Como o trabalho dos melhores mágicos, era impossível para nós, espectadores, adivinhar que o que tínhamos visto não havia sido pensado desde o início.