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    8º Congresso Brasileiro de Cinema e Audiovisual

    CARTA DE PORTO ALEGRE

    O 8º Congresso Brasileiro de Cinema e Audiovisual (CBC), que teve como tema "O que nos separa já sabemos, mas o que nos une?”, reuniu profissionais e especialistas do setor com o objetivo de debater sobre os mais diversos segmentos do audiovisual.

    Assim, entre os dias 12 e 15 de setembro, a capital gaúcha foi cenário para calorosas discussões e palco de intensos debates, que geraram um roteiro de valoroso conteúdo para nortear o futuro do cinema e do audiovisual brasileiros.

    Abaixo, você confere um resumo desde o primeiro dia do evento.

    DOMINGO - 12/09/2010

    COLETIVA

    Começou neste domingo, 12, o 8º Congresso Brasileiro de Cinema e Audiovisual (CBC), em Porto Alegre. Contudo, a cerimônia de abertura foi precedida de uma “coletiva” informal, que contou com a presença do presidente de CBC, Rosemberg Cariry, Cícero Aragon, presidente de Fundacine - RS, Juca Ferreira, Ministro da Cultura, Manoel Rangel, presidente da ANCINE e Cézar Prestes, Secretário de Cultura do Rio Grande do Sul.

    No breve diálogo com a imprensa, Cariry reforçou a importância da presença da ANCINE nos quatro dias do congresso. A tônica do discurso era de otimismo em relação ao futuro do cinema no Brasil e a necessidade uma atenção com as novas mídias convergentes (o evento também é do audiovisual), denominada por um dos interlocutores de “todas telas”.

    A grande burocracia que emperra o avanço das produções, foi um dos temas rapidamente levantados e o presidente da ANCINE afirmou que este cenário vai mudar, defendendo de forma veemente as atuais políticas do governo federal no setor, enfatizando a total capacidade de diálogo entre as partes.

    A questão das eleições também foi levantada, mas os representantes das entidades públicas, mostrando experiência na oratória, reforçaram a preocupação na descentralização dos núcleos de produção e no desafio do gargalo das salas, que devem ser enfrentados por qualquer governante que assuma o poder.

    ABERTURA

    Com cerca de uma hora de atraso, mas com o auditório repleto de gente que “vive” cinema das mais variadas formas, a apresentadora anunciou que Porto Alegre passava a ser, a partir daquele momento, a capital nacional do audiovisual. Para aqueles que acharam a frase forçada, o evento contou com cerca de 400 participantes de vários estados e além de mais de 60 entidades ligadas ao setor.

    A solenidade de abertura, infelizmente, também foi palco da leitura da mensagem do presidente de honra do CBC, o cineasta Nelson Pereira dos Santos, que impossibilitado de comparecer desejou a todos, através de uma mensagem, “votos de bons êxitos dos trabalhos”.

    Após a execução de Hino Nacional e também do Rio Grande Sul, Cícero Aragon (Fundacine –RS) tomou a palavra, salientando o aumento do número de produções e da grande importância do publico que, para ele, é um pouco de tudo (produtor, diretor, crítico). Ele frisou a necessidade de novos canais de escoamento da produção verde e amarelo, afirmando com todas as letras que precisamos pensar em modelos diferenciados, ser mais competitivos, agilizar processos e diminuir a burocracia. E fez um paralelo com um conclave católico, comparando o congresso a Capela Sistina, de onde ele esperava que as discussões e debates ajudariam a fomentar o cinema nacional.

    Após os agradecimentos de praxe, o cineasta Rosemberg Cariry (Patativa do Assaré - Ave ou Poesia) registrou a presença de veteranos do cinema no local, mas também daqueles que ele chama de “povo novo do cinema” que irá devolver o sonho ao cinema brasileiro. Com muita tranquilidade, poesia e citações que transitaram facilmente entre Napoleão Bonaparte e Glauber Rocha, Cariry deixou evidente a sua crença de que é possível fazer do Brasil uma das maiores nações do mundo no cinema. E que não é preciso se render ao mercado.

    "Os mestres budistas costumavam dizer que uma coisa é o dedo que aponta a lua e outra coisa é a lua. É preciso não confundir o dedo com a lua, nem se iludir com a abstração da lua. Muitas vezes, confundimos o nosso cinema que aponta o mundo com o mundo. Confundir cinema com mercado é confundir o dedo com a lua. O mercado pode ser importante, muito importante, mas o mercado não é o cinema. Fazer obras tendo como parâmetro exclusivo apenas o possível gosto de um mercado imaginado, em sua abstração conservadora, é se afogar tentando apanhar a miragem da lua refletida na água.“ E com a inspiração à flor da pele, vaticinou: "O mercado não pode ser um fim em si mesmo. Antes deve ser um meio para a realização do homem, da mesma forma que o dedo é um meio que aponta a beleza da lua. Temos que reconhecer: só o sonho é real".

    Sobre a nova geração, Cariry conclamou para que sejamos realistas e queiramos o impossível porque, segundo ele, eles são exigentes. "O povo novo do cinema quer o cinema como pedra filosofal, o ouro como energia espiritual concentrada, da qual falavam os alquimistas em seus sonhos experimentais. Para quem ainda não sabe, me arrisco a avisar: os alquimistas estão chegando. São artífices de todas as tecnologias e convergências digitais, têm entre quinze e trinta anos de idade. São brancos da classe média, são índios da periferia, são negros quilombolas nas favelas das metrópoles, são mulatos rebelados nos shoppings centers, são loiros dos sertões gerais, são caboclos das florestas, são sararás dos terreiros de macumba do planalto central. Um Brasil que se reinventa em cores e sonhos, em novas belezas e impossibilidades tornadas possíveis. O que aqui se reúne é uma nação diversa e unida, nestes tempos de pós-modernidades, em que o centro está em todos os lugares onde estão os homens e as mulheres em seus processos criativos. Temos que reconhecer: só o sonho é real. Sejamos realistas, vamos restituir o sonho ao cinema brasileiro”.

    Foi a deixa para a platéia aplaudir, de pé, as tão "inflamantes" palavras.

    Manoel Rangel, presidente da ANCINE, voltou 10 anos atrás para citar o quadro crítico do setor na época, com o sumiço dos investimentos e o ambiente de crise. Ao afirmar que este cenário mudou, cita a presença de um ministro no evento, a retomada da presença do Estado no cinema nacional, mas aponta que o cinema não deve ficar refém deste incentivo e sim criar uma política de desenvolvimento macro, sinalizando que o congresso deveria ser uma atividade permanente.

    Newton Cannito, diretor da Secretaria do Audiovisual (SAV), criticou o grande número de editais existentes e a burocracia existente criada pelo próprio mercado. Para ele, o modelo atual acabou fazendo com que cineastas criem sua próprias produtoras, virem "políticos" e deixem de ser artistas, focando suas atenções para os editais. "Já imaginaram o Tim Burton colocando projeto em edital?", arrancando risos da platéia ao dizer que o cineasta brasileiro tem que bancar ainda homem de marketing.

    Cannito também ressaltou a importância da crítica, que pode falar mal de uma produção, mas bem de outra, contribuindo para o processo de crescimento do produto audiovisual brasileiro. Com um estilo rápido e provocativo de falar, ele citou a importância de entender o que é o digital, ressaltando a importância de se ter "fazedores" de conteúdo, de pensar cooperativamente como aconteceu com a Pixar e a Disney, e que a produção independente deveria investir em novos formatos (auditório, programas femininos, infantil) e não importá-los, dando como exemplo o CQC que é uma reprodução de um formato argentino.

    Paula Alves, Chefe da Divisão de Promoção do Audiovisual do Ministério das Relações Exteriores (MRE), falou da importância de se usar o cinema para "vender" o Brasil no exterior e que o o audiovisual é cada vez mais usado com este objetivo. Ela aproveitou a ocasião para citar que a Espanha tem as mesmas dificuldades de expansão que o Brasil, diante da hegemonia do cinema americano. E ressaltou que o Itamaraty não mede esforços em divulgar o cinema brasileiro.

    Juca Ferreira, Ministro da Cultura, salientou que "o mercado não pode assustar a gente". Para ele, não se trata de fazer só cinema arte ou só comercial. Segundo o ministro, é necessário que se busque um equilíbrio e o governo atual investiu mais capital do que nos tempos da "falecida" Embrafilme. Ele lembrou que o Brasil é visível no mundo inteiro e que houve um upgrade nas classes sociais, aumentando o número de frequentadores das salas. Sobre a questão do audiovisual como um todo, mais especificamente a televisão, Ferreira foi enfático: "Acho que vocês têm que prestar atenção no modelo argentino, que faz cinema integrado com a TV argentina e espanhola".

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    SEGUNDA-FEIRA - 13/09/2010

    O início do segundo dia do congresso foi marcado pelos intensos debates dos Grupos de Trabalho (GT), com uma pequena pausa para o almoço e posterior retorno às discussões. Os grupos foram assim divididos: GT1- Infraestrutura e Produção; GT2 - Distribuição, Exibição e Difusão Cultural; GT3 - Formação, Pesquisa, Preservação e Crítica; GT4 - TVs, Novas Mídias e Convergências Digitais; GT5 - Direito Autoral, Direitos do Público e Gestão Coletiva e GT6 - Políticas Públicas, Arranjos Produtivos e Ações Estratégicas. Somente após as 16h, os trabalhos foram encerrados para o início do Painel de Abertura.

    PAINEL DE ABERTURA - O audiovisual no Brasil hoje: Políticas Públicas, Arranjos Produtivos e Ações Estratégicas

    Com a palavra, Manoel Rangel (ANCINE) destacou as mudanças ocorridas na política pública. "Saímos de um quadro onde toda a ação do poder público resumia-se a autorizar projetos para captar recursos e alguns poucos editais, para uma situação completamente diferente, com uma estrutura de ação ampliada, um órgão gestor para políticas públicas, uma Secretaria de Audiovisual que lida com inovação e desenvolvimento, e tudo isso de forma articulada".

    E aproveitou para salientar o aumento do apoio à produção audiovisual com números: “Em 2003, foram lançados aproximadamente 30 longas brasileiros no nosso circuito comercial, contra aproximadamente 80 longas em 2009. Deixou-se de encarar somente o cinema como produção audiovisual, abrindo-se espaço também para televisão, jogos eletrônicos e para uma proposta muito mais ampla para o audiovisual”.

    Além disso, segundo ele, começou a existir também um estímulo maior à expansão do parque exibidor, um esforço de internacionalização da produção brasileira e uma descentralização desta mesma produção, sem esvaziamento dos pólos principais de São Paulo e Rio.

    E sobre o futuro da exibição, Rangel afirmou com todas as letras que ele terá que passar necessariamente pelo Plano Nacional de Banda Larga. "Muito em breve a banda larga será tratada como um direito inalienável do cidadão, assim como a saúde, a habitação, segurança, a própria cidadania”.

    Para o presidente da ANCINE, a aproximação do audiovisual brasileiro com os países vizinhos é de extrema importância e concluiu: “Exibidores, programadores e distribuidoras precisam entender que o Brasil não é formado só pelas classes A e B. Precisamos ter 200 milhões de incluídos culturais”.

    Chico Faganello, do Fórum dos Festivais, veio direto de Florianópolis (SC) para participar dos grupos de trabalho e mostrou-se animado com os temas em discussão. Para ele, a expectativa a partir dos encaminhamentos realizados pelos grupos é grande: "As contribuições serão para os profissionais desta área e também para a sociedade que vai conhecer melhor o nosso audiovisual como fonte de geração de emprego e renda e de conhecimento do Brasil”. Ele destacou que assuntos recentes e polêmicos como a nova regulamentação das televisões, assim como a inovação no relacionamento com o público, estão entre os temas discutidos nos grupos.

    Chiquinho, como é conhecido no meio, lembrou ao participantes que nos anos 90 existiam cerca de 20 festivais e que em 2010 este número já supera 200, incluindo os internacionais. Deste total, disse ele, 85% são com entrada gratuita e 15% com atividades gratuitas. E embora já exista preconceito por parte dos que criticam o volume de festivais, ele diz que o importante é que os filmes são exibidos para públicos diferentes a todo momento.

    Newton Cannito, da SAV, ressaltou a importância do pensar digital. "É necessário que todos nós passemos a pensar digitalmente, e não mais analogicamente. Quando alguém me pergunta se a SAV vai apoiar vídeos para a internet, isso é pensar analogicamente. Se vai apoiar filmes para cinema ou para televisão, isso é pensar analogicamente", diz o executivo que define pensar digitalmente como pensar simultaneamente em todas as mídias, sem diferenciações.

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    TERÇA-FEIRA - 14/09/2010

    A tão falada expansão do parque exibidor provocou, por diversas vezes, debate entre os presentes. O fato é que existem sugestões de se usar locadoras e até lan houses como canais de distribuição, e a previsão é de que existam até o fim do ano cerca de 1200 cineclubes. A questão levantada por muitos e que preocupa a maioria é: aumentar as salas significa mais filmes em exibição ou os mesmos filmes em mais salas? Neste ponto, outra questão importante vem à tona. Existe capital para se fazer mais cópias?

    Entre os destaques do dia, a palestra de Humberto Matsuda, da Performa Investimentos, sobre as novas mídias e a necessidade de se dar a devida atenção para elas parecia ter mexido com a cabeça de muita gente, tamanha era a quantidade de informações tecnológicas e suas possibilidades. E a ideia dos organizadores era essa mesmo: fazer com que cabeças pensantes em 35mm comecem a pensar, como disse Cannito em uma de suas intervenções, a pensar digital.

    Roberto Farias (Pra Frente, Brasil) abriu sua fala se dizendo perplexo diante das novas mídias e também por ainda o considerarem um cineasta mesmo estando 24 anos sem fazer cinema. Sobre a exibição de filmes nacionais na televisão, Farias citou uma experiência mal sucedida de Olga na sessão Tela Quente, da Rede Globo, para ilustrar que o desejo de não exibir filmes nacionais poderia vir de situações como essa. Contudo, posteriormente, ele foi alertado por um participante da platéia que a sessão de filmes dedicadas somente aos produtos nacionais em outro momento, na mesma emissora, rendeu audiências expressivas. Farias salientou que bancava seus filmes e que já está na hora de acabar com esta divisão de filmes comerciais e não comerciais.

    Geraldo Ribeiro, da União Nacional de Infraestrutura Cinematográfica (Uninfra), cobra um mínimo de sensibilidade do governo brasileiro para desonerar os custos que, por exemplo, são baixos para a televisão que importa tudo com extrema facilidade ao contrário do que acontece com as produtoras de cinema que pagam altos impostos. Do jeito que está, disse ele, não existe espaço para os profissonais de cinema entrarem na televisão porque as emissoras vão preferir fazer tudo em casa.

    Ana Paula Santana, da Secretaria do Audiovisual (SAV), defende o orgão das reclamações constantes de que a secretaria não apóia os produtores e lembra que a entidade é uma prestadora de serviços, assim como as produtoras. E afirma que é preciso acabar com o fantasma do cinema comercial contra o autoral. Para ela, quem manda é o público, lembrando que a SAV destina para longas B.O. (de baixo orçamento) cerca de R$ 1.200.000.

    Entre os participantes na platéia, a questão da existência de investimento foi colocada em contrapartida com a existência de mais de 200 produtoras que nos últimos 16 anos realizaram apenas um filme. Em defesa da SAV, Ana Paula, citou que este fato pode ser resultado de problemas financeiros que fazem com que produtores abram novas empresas para driblar a burocracia e se capacitar para outro projeto.

    Alain Fresnot (Desmundo), da Associação Paulista de Cineastas (APACI), elogia o apoio existente e concorda que nunca se investiu tanto, mas que ainda é pouco se comparado ao que acontece na França. E critica a aparente sensação de que é suficiente, afirmando que estamos patinando. E para ilustrar seu pensamento faz uso de uma metáfora ao dizer que se o remédio não é suficiente, viveremos sempre na UTI. Para ele, pensamos pequeno e o valor do investimento deveria ser multiplicado, no mínimo, por 10.

    Rosemberg Cariry fez um aparte, sublinhando a necessidade deste congresso apontar soluções, uma vez que as reclamações são conhecidas.

    Silvio Da-Rin (Hércules 56), da TV Brasil, criticou a comparação com a França porque considera o parâmetro inadequado, tendo em vista que o país europeu resolveu seus problemas sociais, algo que não aconteceu no Brasil. E vai mais além, criticando o fato de uma agência reguladora (ANCINE) ter virado fomentadora, vício que os realizadores não querem abandonar. E arrematou, citando a Índia como um bom exemplo de comparação porque produz sem subsídios.

    Tetê Moraes (O Sonho de Rose - 10 Anos Depois), da Associação Brasileira de Cineastas (ABRACI), provocou reflexão rápida sobra a questão da cota de tela que não deve aumentar, independente do valor de R$ 700 milhões que o governo pretende investir na expansão da salas.

    João Batista Pimentel, do Conselho Nacional de Cineclubistas (CNC), foi taxativo ao defender que é contra o aumento do número de salas sem aumentar a cota de telas para a exibição do cinema nacional.

    Geraldo Ribeiro (Uninfra) salienta que não adianta pedir mais espaço nas televisões por assinatura ou nos cinemas porque o Brasil não produz o suficiente.

    Aletéia Selonk, da Associação Brasileira de Documentaristas (ABD), salientou a produção extremamente ativa e constante ao longo dos anos, diferente do que acontece com os longas que experimentam altos e baixos.

    Jorge Moreno, Associação das Produtoras Brasileiras e do Audiovisual (APBA), lembrou aos presentes que o fundo setorial precisaria se expandir pelo Brasil e fez questão de lembrar a todos que trata-se de um fundo de investimento, diferente de um fundo de incentivo.

    Na platéia, o discurso ufanista por parte dos membros de entidades públicas também foi objeto de crítica entre os presentes porque "vendem" uma realidade diferente. O assunto de criar para a televisão também foi criticado porque elas não querem comprar. Enquanto outro diz que não existe canal para escoar a produção nacional. A seleção baseada na análise de currículos também foi criticada porque, segundo os reclamantes, este critério aumenta a concentração de poder, mantendo os mesmos em ritmo de produção. 

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    QUARTA-FEIRA - 15/09/2010

    Com a proximidade do fim do congresso e definição dos pontos, alguns temas ganharam destaques e o "circo quase pegou fogo". A questão das salas de cinema e a cota de exibição, que permeou conversas nos outros dias, voltou à tona com força. A exigência de que pelo menos 50% das exibições fossem dedicadas para produções nacionais acabou sendo retirado na plenária depois de intensa polêmica. Para Cícero Aragon, presidente da Fundacine- RS, a iniciativa poderia "acabar prejudicando o pequeno exibidor”, mas ele reconhece que é preciso pensar em um sistema de cota de tela diferente do praticado em salas tradicionais para estes espaços.

    A inserção de mais exigências para os acordos de coproduções internacionais também foi alvo de crítica. E para a produtora Assunção Hernandez o motivo é simples: “Cada condição que você coloca torna as coisas mais difíceis”. Em função disso, o item foi eliminado das resoluções.

    Outro ponto também ligado as coproduções e que também caiu foi a exigência do coprodutor estrangeiro comprovar que se trata de um produtor independente, não ligado a nenhum grande grupo. “É absurdamente contrário ao que se vem tentando com o Brazilian TV Producers. Prejudica o trabalho do produtor”, afirmou Silvio Da-Rin, da TV Brasil.

    Para não parecer que só foram retirados pontos durante a última plenária, Cícero Aragon conseguiu inserir a proposta de se cobrar da ANCINE uma medida regulamentar que proíba a cobrança do mínimo garantido, valor cobrado, muitas vezes antecipadamente, para a exibição de filme brasileiro em qualquer meio independente do resultado de bilheteria.

    ENCERRAMENTO - PAINEL - Apresentação e aprovação das propostas dos Grupos de Trabalho e das Resoluções Finais do 8º Congresso de Cinema e Audiovisual

    CARTA DE PORTO ALEGRE

    "O Congresso Brasileiro de Cinema, com a participação de 380 representantes de 64 entidades dos diversos segmentos das cadeias produtiva e criativa do cinema e do audiovisual dos 27 estados, reunido em sua oitava edição de 12 a 15 de Setembro de 2010, na cidade de Porto Alegre, tendo como objetivo avaliar e refletir sobre a implementação das políticas propostas no III CBC, ocorrido nesta cidade em 2000 e os desafios que se apresentam na atualidade, através das resoluções aprovadas manifesta:

    - Reiteramos a fidelidade aos princípios expressos na Convenção Internacional sobre a diversidade cultural da UNESCO e a crença no potencial da criatividade do nosso povo como importantes instrumentos para desenvolvimento cultural e afirmação da nação brasileira.

    Reconhecemos os avanços já conquistados nesta última década nas políticas públicas do audiovisual, mas queremos mais. Queremos o cinema e o audiovisual como atividade plenamente sustentável, inovadora, consistente cultural e economicamente e acessível a toda população brasileira.

    - A revolução tecnológica na era da convergência digital constitui sem dúvida o maior avanço da humanidade nos últimos séculos. Tão grande ou maior que a velocidade das transformações, são os desafios a serem enfrentados, com paradigmas que apontem também para a profunda transformação do homem. Precisamos ousar. Precisamos sonhar e agir sem medo de transformar o sonho em realidade. É preciso, sobretudo unir a sociedade para as grandes transformações necessárias em todas as áreas do conhecimento humano. É longo o caminho a ser percorrido, muito já foi feito, muito mais há por fazer.

    - É preciso não só desonerar a carga tributária sobre os insumos e serviços do audiovisual como também ampliar os recursos e os instrumentos próprios de financiamento da atividade. E, antes de tudo, é preciso desburocratizar e aperfeiçoar o processo de aprovação e avaliação dos projetos culturais tendo em conta o pacto federativo e a diversidade cultural, dentro de um pensamento sistêmico que aponte um projeto amplo de desenvolvimento sustentável do audiovisual.

    - Entendemos que a nova lei de incentivo a cultura em tramitação e também propostas como  vale cultura, pontos de cultura, salas de exibição, bibliotecas apontam para a democratização da ação cultural e da economia criativa. Não obstante, alertamos que tais iniciativas poderão perder-se se não houver regulamentação das atividades, dentro do marco da Convenção da diversidade Cultural da UNESCO. Além dessa salvaguarda, necessário é ,também, ter mecanismos nacionais de distribuição e exibição e políticas que favoreçam a inserção da produção do cinema e do audiovisual no mercado nacional e internacional. Apontamos a urgência na implementação de fundos setoriais regionais de fomento ao audiovisual, dentro de um ambiente de co-produção e intercâmbios.

    - Nós queremos que o cinema nacional seja realmente expressão da diversidade e da universalidade da nossa cultura, herdeiras de povo e ordinárias e transplantadas que aqui se amalgamam. Queremos o cinema e o audiovisual brasileiro em todas as salas e em todas as janelas de exibição. Todos os municípios brasileiros devem ter salas de cinema multiusos e o nosso conteúdo deve estar em todos os circuitos de televisão, aberta, paga e em todas as plataformas existentes, notadamente no cinturão de banda larga que interligará todos os municípios brasileiros, bem como nas universidades e nas escolas. Para isso reivindicaremos a digitalização de acervos audiovisuais e sua acessibilidade ao público, através de filmotecas virtuais, com portais federais e estaduais.

    - Sabemos que a ampliação da demanda acarreta em novos desafios para os produtores. É preciso uma política consistente de formação de quadros para o audiovisual envolvendo desde a formação de técnicos ao fomento de pesquisas e cursos técnicos, com publicações especializadas que acompanhem o desenvolvimento do setor.

    - Não se constrói o futuro sem conhecimento e valoração da história. O esforço pela preservação deve ser responsabilidade de todos os envolvidos. Nós queremos não a guarda estática da produção, mas a memória viva, servindo para a formação da juventude, disponível nas grades de programação televisiva e nos centros de formação.  E aqui enfatizamos nosso apoio a maior profusão de emissoras públicas de TV educativa, visíveis em todas as plataformas, reconhecendo a importância de TV regional com janelas de intercâmbio, transmitindo para todo o país.

    - Reconhecemos o esforço na condução da formulação de uma nova lei de direito autoral e demos nossa contribuição apontando as especificidades do audiovisual. Cabe-nos agora, a responsabilidade de acompanhar a tramitação do novo projeto de lei com vistas a preservar os direitos dos autores do audiovisual. E, como complemento desse esforço, decidimos apoiar a institucionalização de uma associação de gestão coletiva dos direitos autorais do audiovisual.

    Aos nossos futuros governantes e representantes nos legislativos estaduais e federais que serão eleitos, recomendamos a imediata aprovação de projetos de lei e propostas fundamentais ao avanço e fortalecimento do audiovisual e da cultura brasileira, tais como, o PLS 116, os PLs 6722 (PROCULTURA), PL6835 (Plano Nacional de Cultura), PL 5798 (VALE CULTURA), as PECs 416 (SISTEMA NACIONAL DE CULTURA), PEC 49 (CULTURA COMO DIREITO SOCIAL), PEC 324 (AMPLIAÇÃO DOS RECURSOS DESTINADOS A CULTURA PELA UNIÃO, ESTADOS E MUNICÍPIOS), solicitamos ainda mudanças na Lei 8.666 adequando-a a natureza das atividades artísticas e culturais, a regulamentação do Capítulo 5 e do Artigo 221, da Constituição Federal,  a renovação da PL 102 –artigo 1º do Audiovisual e finalmente, a prorrogação pela ANCINE,até após a eleição presidencial, da Consulta Pública sobre a IN22.

    Finalmente anunciamos, que, neste oitavo Congresso Brasileiro de Cinema e Audiovisual, o futuro bateu à porta e nós a abrimos.

    Viva o cinema e o audiovisual brasileiro."

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    * O Adoro Cinema viajou a convite do 8º Congresso Brasileiro de Cinema e Audiovisual

    Para ver FOTOS do evento clique em 8º Congresso Brasileiro de Cinema e Audiovisual

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