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    "Entre Lençóis" - exclusiva com diretor e roteirista

    Entrevista com Gustavo Nieto Roa e Renê Belmonte

    por Francisco Russo

    Adoro Cinema: Você é um diretor colombiano, está fazendo seu primeiro filme no Brasil. O que te atraiu a trabalhar aqui, com cinema brasileiro especialmente?

    Gustavo Nieto Roa: Como no filme, amor à primeira vista. A primeira vez em que vim ao Brasil fará 35 anos e me apaixonei pela música, pela gente, pelas paisagens, pela história. Desde então queria voltar ao Brasil. Demorei muitos anos, mas finalmente estou aqui. À parte isto, sinto que o Brasil é o país do futuro no cinema. Primeiro porque tem uma grande população, que gosta de cinema local, brasileiro. Segundo porque aqui se encontra tudo que se queira do mundo, do mais sofisticado, do mais moderno, do mais tropical, do mais saudável, do mais primitivo. Todo o mundo, todo o universo está aqui no Brasil. Não tenho que ir a nenhum outro país para fazer o filme que quero. O Brasil é um cenário maravilhoso, com gente maravilhosa, grandes músicos... Eu me dou muito bem com o Brasil.

    Adoro Cinema: Como foi a escolha da Paola Oliveira e do Reinaldo Giannechini? Por que a opção por atores conhecidos?

    Gustavo Nieto Roa: Conheci Giannechini de "Avassaladoras", "Sexo, Amor e Traição", "Sexo com Amor?"... Já tinha em mente fazer um filme com ele. Sou das pessoas que buscam fazer um filme sob medida para um ator, uma atriz ou uma situação. Quando começamos a falar da história já tinha Giannechini em mente, mas não sabia se ele aceitaria. Fiquei muito grato quando ele recebeu o roteiro e disse que tinha adorado, que era algo maravilhoso, mágico. Não conhecia nenhuma atriz, então decidi fazer um casting, conversando com muitas atrizes conhecidas. Decidi que Paola era a que melhor podia fazer este papel.

    Adoro Cinema: Algo que me chamou a atenção no roteiro é que o filme busca colocar em situação igual o homem e a mulher. Tem muito da questão do homem-objeto, que a mulher não é submissa... Obviamente isto foi intencional, até para mostrar a atualidade, mas como vocês buscaram a abordagem do assunto?

    Renê Belmonte: Honestamente não foi nem para mostrar a atualidade, é que não convivo com mulheres que fazem o tipo mulher-objeto. As mulheres com quem me relacionei sempre foram muito fortes, que sabem muito o que querem. Então foi algo até meio natural de encontrar uma voz para este homem que fosse uma voz masculina, uma voz para essa mulher que fosse uma voz feminina. Mas este tipo de coisa de submissão, de um ser melhor que o outro, dependência, não foi uma preocupação. Não é uma realidade em que convivo, então foi algo até natural de fazer.

    Adoro Cinema: Quanto tempo o filme levou para ser produzido?

    Renê Belmonte: O Gustavo teve a idéia deste filme já faz bastante tempo. Ele me falou dela três anos atrás, logo no começo das conversas sobre "Sexo com Amor?", que fiz a adaptação. O Gustavo falou que queria que escrevesse o roteiro para ele, que fosse uma história de amor de um casal, com começo, meio e fim mas que se passasse numa noite em um quarto de motel. Gostei deste desafio, de contar esta história, de conseguir fazer isto funcionar, o que é algo chave. Uma história de relacionamento é o tipo de coisa que tenho um certo prazer em escrever. Só que na época estava trabalhando em outras coisas, então ficou mais ou menos um ano esperando uma brecha na agenda para efetivamente sentar e escrever.

    Gustavo Nieto Roa: O que me chama muito a atenção é que aqui no Brasil, especialmente em São Paulo, há muitos motéis. Quando você sai de São Paulo para o Rio é um motel atrás do outro. E muito óbvios. Há em outras cidades, em outros países, mas não tão óbvios quanto em São Paulo. Eu sempre dizia "o que se passa nestes motéis?". Primeiro pensei em fazer um filme com dez histórias pequenas, distintas, sobre motel. Até que finalmente me decidi por apenas uma. E esta foi parte da motivação do filme, de fazer esta história. Era isso de ver tantos motéis e imaginar o que se passava ali. Quando propus a Renê a idéia era uma oportunidade de mostrar nesta história como está mudando a mentalidade da mulher. Porque a mulher de hoje já não é mais submissa, que espera a iniciativa do homem. Hoje é a mulher quem tem a iniciativa. Somos nós que decidimos se queremos agora. E isto não é muito claro no dia-a-dia. Não é algo que esteja acertado como uma norma, mas é a realidade.

    Adoro Cinema: As filmagens foram neste ano mesmo e o lançamento foi rápido. Teve algum planejamento para estrear nesta época do ano especificamente ou foi ocasional?

    Gustavo Nieto Roa: O cinema é dinheiro. Você investe tempo, criatividade e também dinheiro, você tem que conseguir dinheiro. Existe o ditado, tempo é dinheiro. Não podemos esperar muito tempo para exibir o filme, teve que rodar, pós-produzir e lançar, pois o retorno é necessário para produzir outro filme. Com isso planejamos para ser assim, como um grande trabalho que colhemos. A estréia do filme está toda planificada, nada foi casual.

    Adoro Cinema: Com certeza uma parcela do público irá ao cinema não propriamente interessado no filme, mas no lado sensual. São dois ícones da televisão, duas celebridades. Como vocês lidam com esta questão?

    Renê Belmonte: Quantas pessoas foram ver "Último Tango em Paris" para ver a cena da manteiga? O que leva as pessoas ao cinema pode ser a pipoca, o importante é que elas vejam o filme. O que leva as pessoas a irem ao cinema não me interessa muito, acho que se quando elas saírem do filme estiver falando do Giane pelado, da Paola pelada, aí eu terei fracassado completamente, por ter sido incapaz de colocar palavras, criar personagens, fazer situações com que as pessoas se interessassem e prestassem mais atenção do que ao fato deles estarem pelados em determinados momentos. Acho que o importante ali é a história destes personagens, o que acontece com eles, tanto momentos divertidos quanto momentos chatos. Acho que este é o ponto.

    Gustavo Nieto Roa: Para mim o importante deste filme é que quero dialogar com o público. Tenho uma conversa e falamos de amor, sensualidade, fidelidade, matrimônio, responsabilidade, camisinha, de crer em um ser superior ou não, de muitos temas que o filme aborda. Espero que o público depois de vê-lo vá conversar sobre o filme, sobre estes distintos temas. Não que diga "oh, Giane está nu", mas que diga que é uma mulher que quer igualdade perante o homem, é um homem que se sentia objeto sexual. Todos estes temas espero que o público capte e que converse.

    Adoro Cinema: Ainda sobre esta questão da sensualidade, como foi a escolha do quanto deveria ser mostrado dos atores para evitar exploração excessiva?

    Gustavo Nieto Roa: É um filme feito de comum acordo. Eu não impus algo, Giane não impôs, Paola não impôs. Giane disse que gostaria que esse nu frontal não aparecesse no filme, que era desnecessário. Ok, vamos deixar de fora. Se há algo que não está ali é porque não concordamos.

    Adoro Cinema: A última cena do filme deixa em aberto uma possível seqüência. Já está no plano de vocês?

    Gustavo Nieto Roa: Espero que Renê faça o segundo. Este filme tem uma continuidade, que queremos fazer. Eu quero fazer.

    Renê Belmonte: Não foi escrito pensando na seqüência, foi pensando em o amor perfeito sobrevive ao mundo real? Acho bacana de uma história quando ela não se encerra ali. A idéia era abrir a discussão, a possibilidade.

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