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    A Vida em um Dia 2020: Para diretor Kevin Macdonald, filme produzido na pandemia reforça sentimento de união (Entrevista)

    Com produção de Ridley Scott, filme conta com filmagens caseiras de milhares de colaboradores ao redor do mundo.

    A Vida em um Dia 2020 é uma sequência do filme A Vida em um Dia, de 2011, e retrata um único dia em nosso planeta a partir de gravações cedidas por pessoas de todo o mundo. Dirigido por Kevin MacDonald, vencedor do Oscar pelo filme O Último Rei da Escócia, a obra possui diversas passagens que falam sobre vida, morte, solidão e união, e também é produzida por Ridley Scott.

    O documentário faz parte do YouTube Originals e acaba de estrear globalmente durante o Festival de Sundance 2021, um dos mais conhecidos do cinema. A Vida em um Dia 2020 chegará à plataforma online em 06 de fevereiro e sua exibição será gratuita para o público.

    O AdoroCinema entrevistou Macdonald sobre seu novo projeto. Confira a entrevista completa abaixo:

    Você já imaginou fazer um filme durante e sobre uma pandemia mundial?

    Nós [da equipe] não percebemos que seria uma pandemia, obviamente. A pandemia estava começando quando começamos a falar sobre isso. Foi em fevereiro, março, que deveríamos começar a falar em revisitar a ideia de A Vida em um Dia 2020. E eu disse ao produtor: 'Bem, seria um pouco chato se o filme falasse apenas sobre a COVID. Mas acho que a COVID terá acabado de qualquer maneira, será um detalhe no filme. Tudo vai acabar em maio ou junho', foi o que pensei e obviamente eu estava errado. Mas, na verdade, nem tudo é sobre COVID no filme. E de certa forma uma das coisas mais legais sobre o filme é que ele traz um escape do mundo com COVID. Há pessoas no interior da Sibéria, em uma fazenda na Turquia... Temos todas essas pessoas que estão no campo e moram em um lugar bonito, sem precisar se preocupar com doenças. Então essa é uma das alegrias do filme para mim.

    É até estranho pensar que a realidade já ultrapassou a ficção. Então, no futuro, como você se vê fazendo filmes? Você tem intenção de seguir mais o caminho do documentário?

    Bem, eu já fiz documentários e filmes de ficção no passado, e no mês que vem tenho dois filmes saindo. Um é um filme de ficção chamado The Mauritanian, com Jodie Foster e Benedict Cumberbatch. E é um tipo de filme comercial, mais mainstream. E então este filme, A Vida em um Dia 2020. Eles são completamente diferentes. E são ambos fascinantes em suas próprias maneiras de trabalhar, porque cada um exige habilidades diferentes. A Vida em um Dia 2020 é mais como um filme experimental. Para que você possa se divertir mais, não precisa se ater a nenhuma regra. Você está criando as regras à medida que avança. E isso é legal. Mas acho que tivemos muita sorte, de uma forma ou de outra, que o filme tenha sido feito durante a COVID, porque isso dá profundidade e maturidade ao filme. Acho que o último A Vida em um Dia, o que fizemos há 10 anos, talvez não tenha isso.

    O filme fala sobre isolamento e a vida durante a pandemia. Mas você encontrou pontos de conexão entre as milhares de histórias que protagonizam o filme. Qual delas mais chamou sua atenção?

    Tínhamos 13.000 horas de material. E é impossível para qualquer pessoa assistir a essas coisas porque isso levaria anos. Então, eu tinha uma equipe de 40 ou 50 pessoas que estavam assistindo e falavam todas as línguas diferentes. E eles me enviaram o que achavam mais interessantes. Então assisti talvez 400 horas, ainda muito material, mas apenas uma pequena proporção do total. Mas também assisti com três editores. E o interessante é que todos nós concordamos sobre quais eram os bons personagens. Você encontra esses pequenos momentos mágicos, personagens mágicos. Meu favorito pessoal é muito difícil. É como perguntar qual é o seu filho preferido, é muito difícil dizer. Eu me sinto protetor com todos eles. Mas um dos meus favoritos é definitivamente o homem que ama suas aranhas. E ele está cuidando de cada uma delas. Eu acho ele muito cativante. E há algo no homem que é muito simbólico para a época de COVID: a voz dele. Ele mal consegue falar, porque parece que não falava há meses. E sua alegria genuína e interesse por suas aranhas é engraçado, mas também muito doce.

    É por isso que tive três editores, porque há muito trabalho a fazer. Mesmo depois de selecionar, fizemos uma montagem sobre COVID ao redor do mundo e seus efeitos nas pessoas. É muito trabalhoso agrupá-los, colocá-los juntos, é uma enorme quantidade de trabalho. E também, para mim, a maior parte do tempo que gastei foi para descobrir como a estrutura vai funcionar. Como as pessoas se conectam a outras coisas? Há muita arte nisso. Às vezes você vê "fogos de artifício", uma conexão forte. E às vezes não. Às vezes é confuso ou não acrescenta em nada. É como um quebra-cabeça: você está tentando encontrar uma maneira de tudo se encaixar para que haja um fluxo, como um fluxo musical. Esta é uma história de sentimentos e temas.

    O que você espera que seu novo filme possa entregar ao mundo na forma de mensagem e reflexão, especialmente em dias como estes?

    Acho que o filme claramente tem uma mensagem de unidade. Quando eu assisto, sinto que todos no mundo valorizam e se preocupam com seus medos, com o mesmo pequeno número de coisas. Todos nós compartilhamos muito em comum em termos dos fundamentos básicos do ser humano. Então, eu acho que o filme mostra que o ódio, as diferenças de cultura e coisas que as pessoas acentuam, às vezes por motivos negativos, são muito menores em comparação com o que que todos temos em comum. E que todos nós somos criaturas muito simples que desejam as mesmas coisas na vida. É inspirador ver isso e sentir esse propósito comum, a semelhança com todos ao redor do mundo. Todos nós estamos passando pela mesma coisa juntos. E de certa forma, é por isso que COVID foi bom para o filme, porque reforça o tema de comunhão de unidade. Acho que é reconfortante ver isso.

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