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    Star Trek - Picard: Crítica da 1ª temporada

    Um reencontro nostálgico, porém corrido com Jean Luc Picard e Sete de Nove.

    Nota: 3,0 / 5,0

    Atenção: o texto a seguir pode conter spoilers de Star Trek: Picard.

    Sir Patrick Stewart retoma as origens de sua carreira nas telinhas como Jean-Luc Picard em Star Trek: Picard, série do Amazon Prime Video que é sequência direta de Jornada nas Estrelas: A Nova Geração. Nostálgica, repleta de personagens novos, easter-eggs e um olhar para o futuro, a produção entrega episódios concisos, porém um tanto quanto convenientes, com algumas oportunidades desperdiçadas e participações especiais memoráveis.

    Um bom começo

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    Star Trek: Picard acompanha o ano de 2399, 20 anos após os eventos de Jornada nas Estrelas: Nêmesis, com o protagonista agora como um Almirante forçadamente aposentado (no caso, demitido) da Frota Estelar. Ainda de luto pela morte de Data, que se sacrificou para salvá-lo, ele cuida de seu vinhedo na França e guarda uma sensação amarga sobre um ataque de sintéticos em Marte, que impediu que a Frota Estelar salvasse vidas Romulanas. Ele descobre uma conspiração envolvendo o assassinato de Dahj Asha (Isa Briones), uma mulher sintética misteriosa, que tem conexão com o passado de Jean Luc, e é alvo de um grupo romulano chamado Zhat Vash que tem o propósito de acabar com vida artificial.

    Produzida por Alex Kurtzman (Star Trek: Discovery), a série começa bem, apostando na nostalgia para apresentar o retorno de Picard ao público, tentando conseguir uma nave para voltar ao espaço. Porém, decai do meio para a metade da temporada, trazendo muitos elementos para pouco tempo de tela e focando em performances e arcos previsíveis. Além disso, no início, a produção não apresenta muito pano de fundo para os espectadores que não são conhecedores do universo de Jornada nas Estrelas. No meio do caminho, entretanto, Star Trek: Picard sente a necessidade de deixar tudo explicadinho — até demais, não deixando nenhuma margem para interpretação do público. No geral, as coisas são muito fáceis para Picard e seus aliados, o que acaba tirando um pouco a seriedade da situação.

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    O retorno de Picard

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    Tratando-se de uma série sobre Jean Luc Picard, uma coisa é certa: Patrick Stewart sustenta o peso da produção nos ombros, e cada monólogo seu é um deleite para os fãs de carteirinha de seu “jeitão” shakespeariano, com seu chá Earl Grey, agora descafeinado. É gratificante ver o retorno do eterno Capitão da Enterprise ao lar. Por mais que vê-lo em sua casa na Terra seja um retorno às origens, é no espaço e na ponte de uma nave espacial que ele realmente se sente mais à vontade e no controle. Com direito a soltar um “Engage” de vez em quando.

    Novatos

    Sua nova tripulação é bem diversificada e cada personagem tem potencial de ser mais desenvolvido em temporadas futuras, no entanto, neste primeiro ano, a produção não dá background o suficiente para nos identificarmos com eles. Ainda que cada um deles incite o lado paternal e responsável de Picard.

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    Michelle Hurd (Demolidor, Blindspot) é quem mais consegue brilhar, entregando uma Raffi complexa e amorosa, que despeja suas frustrações na bebida, e rouba a cena em cenas em que precisa confrontar os valores de outros personagens. Santiago Cabrera (Big Little Lies, Transformers: O Último Cavaleiro) tem a chance de interpretar diversas versões de seu personagem — não só o Capitão Rios, mas cada um dos hologramas da nave, cada um com uma função e uma parte da personalidade do herói. Ele faz um bom trabalho, mas o roteiro construído ao seu redor é bastante conveniente, e não contribui para apresentar as migalhas necessárias para explicar seu comportamento em relação à Agnes (Alison Pill) ou à Soji (Isa Briones).

    Isa Briones é outra que recebe a missão de viver duas personagens, Dahj e Soji, que não são tão diferentes assim uma da outra — talvez por serem sintéticas, talvez pela inexperiência da jovem, ou pelo roteiro não ter focado nessa questão. A atriz é ofuscada por outros personagens coadjuvantes mas consegue entregar uma heroína/antagonista perdida.

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    Alison Pill (The Newsroom, Scott Pilgrim Contra o Mundo) talvez seja um dos nomes mais proeminentes do elenco depois de Patrick Stewart. A atriz se esforça para entregar uma personagem consistente. Mas novamente o roteiro peca em dar malha para justificar suas mudanças de donzela sofredora e indefesa, para vilã manipuladora (ou manipulada) e finalmente chegar a uma redenção não justificada. O diálogo que ela tem como Soji sobre lição de moral teria mais impacto emocional se a série tivesse tido tempo de apresentar suas motivações.

    O novato Evan Evagora, por sua vez, tem potencial de crescer na produção, apesar de seu personagem Elnor ser o mais dispensável deles, presente na produção para funcionar como escada para quem os demais heróis expliquem o que está acontecendo, ou simplesmente funcionar como o lado propositalmente irritante da produção (tal como um personagem não-jogável que questiona o participante em um videogame).

    Do lado dos antagonistas, Harry Treadaway (Mr. Mercedes, Penny Dreadful) e Peyton List (Gotham, Mad Men) incitam uma curiosa trama de gato e rato dentro do cubo Borg, mas são clichês e convenientes em demasiado.

    Veteranos

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    Da mesma forma que os novos personagens coadjuvantes são um tanto quanto esquecíveis, quem merecidamente ganha destaque ao longo da temporada são figurinhas carimbadas da franquia, inundando momentos sentimentais. A produção presta uma homenagem emocionante ao relacionamento de Picard e Data (Brent Spiner), com aparições deste segundo em sequências como sonhos, alucinações ou mesmo hologramas, dando um verdadeiro sentimento satisfatório de encerramento da jornada do personagem, que certamente levou muitos às lágrimas.

    O episódio focado em William Riker (Jonathan Frakes, que dirigiu alguns episódios da série) e Deanna Troi (Marina Sirtis) é praticamente um retorno nostálgico à dinâmica que o casal tinha com Picard durante o tempo deles na Enterprise. Encaixado no conceito “engarrafado” — capítulo ambientado basicamente em um mesmo ambiente, que aborda uma história condensada e existe para aprofundar o arco de um personagem específico — ele serve para explorar a confiança de Soji em Picard e mostrar um vislumbre de como está a vida dos queridos personagens de A Nova Geração.

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    Em contrapartida, a entrada de Sete de Nove (Jeri Ryan), personagem de Star Trek: Voyager, que ainda não tinha contracenado com Picard, rouba a cena completamente em todas as sequências a personagem aparece. É curioso ver a evolução da heroína, que ainda era bastante dura e travada na série de 1997, agora é mais independente e decidida. Sua aparição explora o arco de individualidade e misericórdia, e se destacar da coletividade Borg, não só para Sete para também para Picard, que foi membro dos Borgs como Locutus. Retornar ao Cubo, desta vez retirado da coletividade e estudado como um artefato é uma surpresa bem-vinda e resgata momentos importantes da franquia.

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    Temática aprofundada

    Focando bastante no cunho político, como é tradicional da franquia, a série também consegue se aprofundar em temas filosóficos, como o preço de tirar a vida de alguém, e se humanos e seres artificiais merecem os mesmos direitos — fazendo uma analogia inclusive dos sintéticos e dos ex-Borgs.

    Ainda que tenha falhas, Star Trek: Picard prova porque é parte integrante de uma das produções de ficção científica mais celebradas da atualidade. E não é só por suas naves espaciais atualizadas e cidades futurísticas bem construídas. Nem tampouco pelas cenas de ação bem coreografadas. A série apresenta uma moral como toda boa produção de Jornada nas Estrelas e deixa espaço para que um Capitão Picard renovado abra caminho para mais histórias a serem contadas e resgatadas no futuro.

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