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    Mostra SP 2019: "Um filme nunca termina onde termina", afirma diretor Elia Suleiman (Entrevista)

    Cineasta e ator palestino esteve em São Paulo para apresentar seu novo filme, O Paraíso Deve Ser Aqui.

    Em O Paraíso Deve Ser Aqui, de Elia Suleiman, o próprio diretor torna-se um personagem de uma história que pode ser vista como global. Trata-se de um homem que passeia por diversas cidades do mundo, incluindo Nova York e Paris, inicialmente para se deslumbrar com a vivacidade e a essência de superioridade que rondam tais locais. Mas, aos poucos, o protagonista interpretado com sutileza por Suleiman passa a compreender, aos poucos, que tais lugares são tão complexos quanto a Palestina, lugar onde nasceu e vive até hoje.

    Como diz a nossa crítica, "Suleiman não pretende fugir da Palestina, apenas sonha que ela se desenvolva – e indica, na simplicidade de suas imagens mudas, o futuro que desejaria para o seu povo". O Paraíso Deve Ser Aqui vaga por sonhos, realidades, falsas impressões e um novo olhar sobre um lugar que já se conhece há muito tempo. O filme foi exibido na 43ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo e o cineasta compareceu ao evento para falar com a imprensa - assim como para receber uma grande homenagem: o Prêmio Humanidade.

    Em entrevista, Elia Suleiman deixou claro que não tem a intenção de sublinhar mensagens políticas em seus longas, afirmando que a imagem já diz muito por si só: "Você primeiro precisa maximizar a imagem e o prazer da imagem. Consequentemente, quando você está contemplando o que viu, chega ao lugar racional ou intelectual que traduz emocionalmente o que sentiu enquanto assistia a tal imagem. Então, eu não gosto de vir com uma mensagem política na sua cara, porque no começo tudo é muito tênue, você apenas aceita o que vê. Se você tem um senso de autoridade para pensar que vai ensinar alguma coisa a alguém, está fadado ao fracasso desde o início. O prazer está no compartilhar, para início de conversa. Então, eu não venho logo com um diagrama político. E acho que mesmo nos meus filmes anteriores que são bem mais políticos, eu nunca lhes digo nenhuma informação. Não faço filmes em prol da informação nem da educação política. Faço para que desfrutemos do prazer de assistir uma imagem. E minha crença é sempre a de que o filme não termina onde termina. Ele continua com o espectador", diz.

    Por se tratar de uma história que toca em temas universais, tais como a repressão policial, racismo e imigração, O Paraíso Está Aqui garante diferentes olhares (de diferentes partes do mundo) sobre as mesmas questões. E o próprio protagonista, que mais observa do que fala, é também uma extensão do espectador no próprio filme. Sobre a construção de seu personagem, Suleiman disse que muitas de suas referências vieram de seus pais.

    "Eu acho que isso vem da outra dedicação que coloquei no filme, que são meus pais, porque meus pais eram esses pais carinhosos e eram cheios de humor. E também meu irmão - eu era o caçula e fui muito influenciado. Eu acho que foi por esse tipo de ambiente familiar que foi muito divertido. Meu humor no filme provavelmente vem desse personagem que foi estruturado e influenciado por isso; e também da melancolia que esse personagem possui. Mas esse personagem neste filme específico é um pouco diferente do personagem que eu era antes, acho que por causa de uma dose crescente de melancolia e definitivamente uma grande dose crescente de desespero. Esse personagem se torna, nesse sentido, um tipo de personagem frágil. É uma pessoa muito frágil e vulnerável que não era realmente o personagem que eu tinha nos meus filmes anteriores. Ele observa a tudo à sua volta, e isso foi algo que eu criei na intuição assim que começamos a filmar. Ele também está reagindo e também o mundo o está absorvendo... Puxando-o para essa realidade. Meu personagem, assim como eu mesmo, está se agarrando na esperança", explica.

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