Minha conta
    Admirável Mundo Pop: Nunca haverá um melhor momento para se curtir a cultura pop

    2019 encerra as histórias de Marvel, Game of Thrones, Star Wars de uma só vez -- e jamais veremos algo parecido com isso.

    Na semana passada, Vingadores: Ultimato encerrou de forma consistente e satisfatória um ciclo impressionante, difícil de ser batido na história do cinema: foram 22 filmes do chamado "Universo Cinematográfico Marvel" lançados ao longo de 11 anos. É uma média perfeita de dois filmes por ano, os quais muita gente assistiu a cada um religiosamente logo nos finais de semana de estreia.

    Como bem definiu meu colega Bruno Carmelo em sua crítica no AdoroCinema "Vingadores: Ultimato não é apenas a conclusão de dezenas de filmes, mas também o veículo de sustentação de uma marca poderosa, despertando um senso de necessidade no espectador que raramente ocorre com outros filmes."

    Ou seja, a questão aqui não seria meramente conferir se Homem de Ferro, Capitão América, Thor e companhia conseguiriam derrotar Thanos e reverter a aniquilação de Guerra Infinita: o público quer a garantia de que todos esses anos de dedicação, e as muitas horas gastas no cinema, seriam recompensadas. Não é só curiosidade, mas quase uma obrigação de confirmar se o final dessa história é digno de tamanho esforço, de uma vez por todas e o mais rápido possível.

    Isso ficou claro pela velocidade com que os fãs foram ao cinema nos dias recentes para comprovar esse desfecho. Em menos de uma semana, Vingadores: Ultimato superou o bilhão de dólares nas bilheterias globais. O número tem tudo para aumentar muito nos próximos dias. Tem cheiro de recorde no ar. Te cuida, AvatarTitanic e Star Wars.

    E por falar em Star Wars, 2019 também é o ano em que o mundo vai parar para presenciar um encerramento muito aguardado em uma galáxia muito, muito distante. Em dezembro, o Episódio IX:  A Ascensão Skywalker encerra a saga dos Skywalker (ou dá início a outra saga, conforme o título sugere). Trata-se do filme número 9 lançado em um período de 42 anos, descontando as histórias paralelas. Também é algo sem precedentes na história do cinema e impressionante por si só em se tratando da cultura pop que tanto curtimos — e a qual o primeiro Star Wars foi essencial para formatar.

    O recém-divulgado trailer de Episódio IX dá a entender que o Imperador Palpatine está de volta ao jogo. Para quem não sabe, ele é o grande vilão da trilogia original (Episódios IV a VI), em uma atuação construída nos bastidores durante a trilogia seguinte (Episódios I a III). Trazer de volta para a conclusão da terceira parte o grande antagonista das duas primeiras partes parece a coisa mais lógica a se fazer. Também parece algo arquitetado unicamente para presentear os fãs de longa data que são os reais responsáveis por manter Star Wars vivo por tanto tempo.

    Assim como ocorre com os filmes da Marvel, Star Wars também evoca no fã a necessidade de se sentir respeitado e contemplado após anos de devoção quase religiosa a Yoda, Leia, Luke e Darth Vader. É de se entender e parece justo que queiramos sempre mais e mais (e melhor), afinal, é para isso que essa brincadeira serve. A própria maneira como a franquia se desdobra e se retroalimenta justifica tamanha dedicação de quem a consome.

    Talvez ligeiramente menos grandiosa do que as franquias cinematográficas mas não menos importante, Game of Thrones também alcança seu aguardado final neste 2019 -- neste caso, antes mesmo do encerramento de sua obra original em papel. Como obra televisiva, também não existe nada parecido, tão grandioso, ambicioso e consumido por tanta gente Ao mesmo tempo. As noites de domingo tem sido emocionalmente difíceis, mas, graças às redes sociais, estão longe de ser solitárias.

    Não que tenha sido exatamente fácil desde o início. Foram oito longas temporadas, fora os muitos meses de espera entre uma e outra (e diversos invernos no meio do caminho). Notavelmente, o primeiro episódio da oitava temporada esteve carregado de referências ao primeiro capítulo exibido em 2011. Quem é mais atento e tem boa memória percebeu o carinho dedicado aos fãs perseverantes.

    Essas três franquias, cada uma a sua maneira, trazem aspectos que fazem referências aos primórdios de cada trama, de um modo que os fãs de carteirinha se sentem privilegiados de terem sido testemunhas oculares da história. Mas estamos tão ocupados saciando esses fan services e vibrando a cada resolução épica, que talvez não estejamos pensando direito sobre o que virá depois. Não somos capazes de perceber agora a magnitude de presenciar tantos eventos espetaculares se desenrolando quase ao mesmo tempo. E que assim como é satisfatório que tudo enfim termine, o gosto que virá em seguida pode ser um tanto amargo.

    Não faz muito tempo, nós fãs estávamos acostumados a ter muita paciência. Apreciar algo significava esperar por um próximo capítulo, uma novidade, um detalhe a mais que preencheria uma pequena parte de um todo distante, mas que nunca chegava de fato.  Agora, todas as peças se encaixaram juntas. Os aguardados desfechos chegaram. As jornadas exaustivas pagaram seus preços. Chegamos aos destinos, não muito sãos e talvez não tanto a salvo. Mas vivemos para ver tudo acontecer. E depois disso tudo, o que vai sobrar?

    Uma coisa é certa: não haverá tão cedo uma época incrível como esta para ser apreciador de cultura pop. Resta saber se vamos conseguir apreciar da mesma forma o que nos reserva esse futuro — dessa vez, incerto como nunca.

    Pablo Miyazawa é colunista do AdoroCinema, apresentador do programa Mitos do Pop e consome entretenimento desde que nasceu, há 40 anos, de Star Wars a Atari, de Turma da Mônica a Twin Peaks, de Batman a Pato Donald. Como jornalista, editou Rolling Stone, IGN Brasil, Herói, EGM e Nintendo World.

    facebook Tweet
    Comentários
    Back to Top