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    Festival de Gramado 2018: Ferrugem é o melhor longa nacional exibido até agora

    Um jovem craque, uma catadora de lixo, um viúvo roqueiro e adolescentes conectados foram os protagonistas da noite.

    Como te afeta a imagem que outros têm de você? Quem és tu por baixo dessa impressão? De certa forma a questão do ser/parecer uniu os quatro filmes apresentados no Palácio dos Festivais na terça-feira, marcada também pela variedade de gerações na telona.

    A abertura foi com Catadora de Gente, de Mirela Kruel, que dá voz à simpatica Maria Tugira, senhora com décadas de vida dedicadas ao lixão. O curta consiste basicamente num longo depoimento (filmado com sobriedade) de Maria sobre sua trajetória, seu trabalho como catadora em Uruguaiana e sua luta em nome da classe. Alvo de muito preconceito por conta do ofício, ela os desconstrói com discurso articulado que passa por política e literatura e não romantiza a rotina no lixão.

    Mais um concorrente da mostra internacional, Mi Mundial é coprodução Brasil-Uruguai-Argentina com tema amado pelos três países: o futebol. Indicado principalmente para crianças e adolescentes que aspiram uma carreira dentro das quatro linhas, o filme de Carlos Morelli lembra ABC do Amor por certa semelhança entre o protagonista e o jovem Josh Hutcherson, além da tímida subtrama amorosa.

    O principal, no entanto, são os árduos primeiros passos da carreira de jogador e a luta de um pai para manter o filho nos eixos durante a subida ao estrelato. Bacana nas cenas de jogo e ao mostrar os bastidores nem sempre expostos do gigante mercado da bola, o longa-metragem força um pouco para transmitir a mensagem educativa, perdendo seu frescor para o cansaço e a previsibilidade no ato final, que estranhamente também abandona a importância do pai.

    Primeiro de uma série de cinco curtas produzidos pelo diretor Marco Antônio Pereira em sua cidade natal, Cordisburgo (Minas Gerais), A Retirada Para um Coração Bruto não tem apuro técnico, mas compensa suas limitacoes com peculiaridades cativantes, como o roceiro que se encanta pelo rock enquanto recebe visitas por conta da morte da esposa. O senhor Ozório (Manoel do Norte) lida com a solidão e um disco voador nesse curta que é sem sombra de dúvidas um corpo estranho dentro da mostra competitiva; tosco, mas honesto.

    Cleiton Thiele / Pressphoto

    Estreando no Brasil após o Festival de Sundance, Ferrugem é excelente obra de Aly Muritiba que consegue como poucos filmes fazer um retrato de seu tempo, um tempo de muito conteúdo em alta velocidade, e daí propor várias camadas de leitura e discussão a partir da tragédia da garota que tem um vídeo íntimo vazado no grupo da escola.

    Dividido em duas partes, o longa é como uma saga de reconexão com a humanidade a partir do afastamento do virtual e uma análise do peso das redes sóciais na vivência do jovem do século XXI. Em questão também quem é esse jovem, quem são esses homens misóginos e covardes que estão por toda parte em pele de cordeiro. É uma porrada.

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