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    Um Temporada na França: Diretor Mahamat-Saleh Haroun explica a importância de falar sobre imigrantes "sem o espetáculo de suas vidas difíceis" (Exclusivo)

    O lado humano da imigração.

    Valerie Macon / AFP

    Está em cartaz nos cinemas um drama francês muito diferente da média das produções deste país. Uma Temporada na França traz a história de um imigrante centroafricano, Abbas (Eriq Ebouaney), que trabalhava como professor em seu país. No entanto, após fugir da guerra, ele é obrigado a viver de bicos como feirante na periferia de Paris, por não possuir a documentação exigida pelo governo francês.

    Apesar da premissa, o filme não explora a miséria de Abbas, nem de seus dois filhos ou da namorada Carole (Sandrine Bonnaire), uma imigrante do leste europeu. Pelo contrário, o diretor Mahamat-Saleh Haroun (Um Homem que Grita) retrata com leveza o dia a dia dessas pessoas, seus amores, amizades e a maneira como a rotina é afetada pela condição de estrangeiro.

    O AdoroCinema conversou com o diretor sobre o projeto:

    Uma imagem diferente sobre os imigrantes

    "A representação de imigrantes costuma ser a mesma: o lado espetacular de suas vidas difíceis. Eu queria mostrar o outro lado da história, no caso, como eles lutam para encontrar um espaço neste novo local de exílio. Queria mostrar a vida íntima deles, e olhar para estes personagens como seres humanos, não apenas estrangeiros de um lugar distante. Eu queria destruir essa figura do estrangeiro e sua representação no cinema", explica Haroun.

    O cineasta completa, evocando a sua história pessoal: "Acho que a ansiedade sofrida pela maior parte dos imigrantes afeta as suas vidas íntimas. Eles ficam partidos por dentro, de certo modo, e tentam se reconstruir e erguer suas vidas ao mesmo tempo. Eu também sou um imigrante. Quando cheguei na França, no começo dos anos 1980, conheci uma série de imigrantes que enfrentavam problemas psicológicos. A questão de esperar por uma resposta sobre a documentação, o fato de não ter poder sobre a sua própria vida torna qualquer um muito frágil".

    Os fantasmas do passado

    Haroun explica porque não compôs personagens vindos de seu país de origem, o Chade: "A realidade é a que a República Centro-africana, muito próxima de meu país, enfrenta com regularidade uma guerra civil. Eu queria falar dos fatos atuais nesta parte da África. Também por esta razão, pedi ao Eriq para ler muitos livros sobre imigrantes, e ele encontrou diversos imigrantes para se inspirar na composição do personagem".

    O cineasta conclui ao comentar as cenas mais fortes do filme, quando Abbas enxerga a falecida esposa dentro de seu apartamento na França: "Quando você deixa o seu país por causa de uma guerra civil, como Abbas no filme, você sempre será perseguido por fantasmas do passado. Você nunca ficará completamente em paz. A esposa morta funciona como uma lembrança da vida passada, a violência da qual ele escapou".

     

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