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    Pantera Negra: Produtora cultural descreve experiência de assistir ao filme ao lado de outros 100 negros em “rolezinho” por shopping do Rio

    “Por que ainda essa estranheza com a nossa cor? Com a nossa estampa?", questiona Aline Mohamad, que relatou a experiência a pedido do AdoroCinema.

    - Que lindo! Mas o que tá acontecendo?

    - Nada não. A gente só reuniu a galera pra assistir um filme juntos.

    - Mas por que tá todo mundo filmando? Tem alguém famoso?

    - Não, só porque a gente quer mesmo?

    Essas foram algumas das perguntas que tivemos que responder a alguns transeuntes do Shopping Leblon [Zona Sul do Rio de Janeiro] na última segunda, dia 19, quando cerca de 100 negrxs (entre homens e mulheres) resolveram assistir juntos ao Pantera Negra e dar um rolezinho no shopping enquanto aguardavam o início do filme.

    Pantera Negra é um filme de grande representatividade negra. O negro super-herói, não-coitado. O exército do super-herói é 100% composto por mulheres. A mulher general não recua e, com uma palavra, faz com que todo um exército se renda.

    A história se passa na América e Wakanda, mas também se passa aqui. Tanto lá quanto aqui são nos guetos, favelas, subúrbios que se encontram os pobres, em sua maioria negros. Aqui no Rio, no entorno do Shopping Leblon, temos várias comunidades e, ainda assim, poucos negrxs circulam pelo shopping – os que se vêem com frequência são os da equipe de limpeza e segurança (no cinema, funcionários brancos cuidam da bilheteria, do caixa da lanchonete e servem pipoca, enquanto o funcionário negro limpa a pipoca que algum espectador deixou cair, acidentalmente).

    Estamos em 2018. É necessário entender que todos podemos – e devemos! – ocupar todos os espaços que queremos! Por que não causa estranheza um grupo de jovens brancos circulando pelo shopping? Por que ainda essa estranheza com a nossa cor? Com a nossa estampa? “Exótico” ainda é palavra de definição para negrxs no Leblon. Pasmem!

    “A gente quer incentivar os moradores das comunidades que ficam ao redor do shopping a ocupar esse espaço que é deles também. A Cruzada [A Cruzada São Sebastião é um conjunto habitacional da região] fica a 50 metros do shopping e os moradores não chegam nem perto. Nosso próximo passo será esse: fazer chegar essa mensagem a eles.”, disse Licínio Januário, do Coletivo Preto, um dos idealizadores do Rolezinho BlackPanters RJ.

    - Mas por que no Shopping Leblon? – me perguntou uma amiga.

    - Porque sim. Talvez para que eles saibam que existem negrxs que não se vestem de branco e caminham pelo Leblon. Para que a população do Leblon saiba que existem pretxs que não limpam privadas e nem trabalham de segurança só porque são grandes. Talvez pra chocar mesmo! Você ficou chocada? Então: Bingo!

    E assim o povo negro resiste. O povo negro vive! Salve Wakanda!

    *Aline Mohamad é produtora cultural e participou do “rolezinho” no Shopping Leblon para assistir a Pantera Negra junto com outros cidadãos negrxs, um tipo de evento que vem acontecendo no Rio (e no mundo) desde a estreia do filme.

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