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    The End of the F***ing World: Uma improvável e brutal história de amadurecimento (Crítica da primeira temporada)

    A nova série da Netflix mistura romance e ironia em uma pegada cativante e violenta.

    Nota: 4,0 / 5,0

    Há duas prováveis reações iniciais a The End of the F***ing World. A primeira é uma curiosidade natural de acompanhar aqueles personagens excêntricos, e a segunda é uma rejeição ao possível teor tóxico daquilo. Afinal, o argumento inicial é literalmente um garoto que só engata no relacionamento porque quer satisfazer seus desejos psicopatas e cometer um assassinato – e ninguém melhor para ser o alvo do que aquela garota desavisada e destemida.

    Mas não demora muito para a história se provar maior e mais interessante do que isso. É até surpreendente, pois de algo aparentemente descompromissado, a série logo se transforma em uma narrativa bastante honesta sobre os enfurecidos anos da juventude e dois personagens desajustados que encontram solo comum em histórico de abuso e pouco afeto.

    Seria fácil, portanto, taxar o que acontece com eles a uma jornada à la You’re The Worst, em que dois personagens disfuncionais se conhecem e continuam sendo problemáticos juntos, aos poucos se ajustando aos modismos e compreendendo as diferenças (que não é algo ruim – porém já existe). Mas de fato a temporada está um nível acima, porque Alyssa (Jessica Barden) e James (Alex Lawther) estão em locais completamente distintos nesta jornada que traçam juntos. E, aos poucos, a convivência vai os transformando em outras pessoas, porque eles encontram ali algo que não conheciam antes. Não é sobre os relacionamentos modificarem quem são cada um deles, mas sim estimularem o próprio autoconhecimento.

    The End of the F***ing World tem o DNA de uma série britânica ao máximo. São apenas 8 episódios de 20 minutos, um modelo que funciona muito melhor que as tradicionais séries da Netflix que muitas vezes erram a mão pelo excesso. Adaptada por Charlie Covell a partir dos quadrinhos de Charles S. Forsman, ela não foge de ser um romance e uma história de amadurecimento (aqueeele coming of age), mas é muito mais obscura do que isso. James e Alyssa enxergam o mundo de formas completamente diferentes. Enquanto ele é completamente apático, ela sente tudo com uma facilidade extrema. Eles pressionam tanto um ao outro que acabam trazendo algo de novo à dinâmica, com um tipo de violência sinistra que faz com que cruzem o caminho de autoridades e se metam em uma situação ruim após a outra.

    Das referências irônicas à cultura norte-americana feitas pelos personagens (“Se isso fosse um filme, provavelmente seríamos americanos”, solta Alyssa em um momento) à frieza com que a história é contada e descobrimos mais (e menos) sobre aqueles personagens, vai se tornando mais difícil entender quem eles são. Isso acaba exigindo um certo nível de dedicação para acompanhar a temporada, pois é difícil se identificar com os narradores. Em variados momentos, eles não são nem um pouco confiáveis, modificando as explicações a respeito dos pais a cada episódio. Mas a temporada é tão rápida que devorar todos os episódios é coisa de uma tarde. E por favor, por favor, que ela não tenha uma segunda temporada. O fim da primeira é meio que perfeito.

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