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    Ellen Page acusa Brett Ratner de comportamento homofóbico e abusivo no set de X-Men - O Confronto Final

    Atriz fez relato severo sobre os casos de assédio em Hollywood e revelou que trabalhar no filme de Woody Allen é o maior arrependimento de sua carreira.

    Kevin Winter / Getty Images

    Inúmeras mulheres falaram sobre suas terríveis experiências de má conduta e abuso sexual com o diretor Brett Ratner. Nesta sexta-feira (10), foi a vez de Ellen Page quebrar o silêncio sobre seu encontro com o cineasta no set de X-Men - O Confronto Final. Inspirada pelas recentes acusões de assédio contra várias personalidades de Hollywood, a atriz falou sobre os absurdos cometidos por homens de poder e sobre a luta de mulheres desprivilegiadas.

    "'Você deve transar com ela para fazê-la perceber que ela é gay'", assim começou o relato de Page, que hoje é assumidamente homossexual. Segundo ela, a frase foi proferida pelo diretor Brett Ratner durante um encontro entre elenco e equipe antes das filmagens de X-Men - O Confronto Final. Ele havia dito isso para uma mulher dez anos mais velha que Page, apontando para a jovem atriz, que tinha apenas dezoito anos de idade.

    "Eu era uma jovem adulta que ainda não tinha me assumido para mim mesma. Eu sabia que era gay, mas não sabia, por assim dizer. Eu me senti violada quando isso aconteceu. Olhei para os meus pés, não disse uma palavra e assisti quando ninguém mais falou nada", continuou ela, comentando sobre ter se sentido envergonhada pelo o que era, o que chamou de "uma manipulação cruel, destinada a oprimir e reprimir".

    "Este homem, que me escalou no filme, começou nossos meses de filmagem em um evento de trabalho com esse abuso horrível e incontestável", disse Page sobre Ratner. "Ele 'me assumiu' sem consideração pelo meu bem-estar, um ato que todos reconhecemos como homofóbico. Eu continuei a observá-lo no set dizendo coisas degradantes para as mulheres", disse ela, relembrando uma ocasião quando ele fez comentários humilhantes sobre os órgãos genitais de uma mulher.

    Anna Paquin, que interpretou a Vampira em O Confronto Final, confirmou a história de Page em seu Twitter: "Eu estava lá quando esse comentário foi feito. Estou com você, Ellen Page".

    Em seu relato, Page também descreveu uma briga que teve com Ratner. Na ocasião, o diretor a pressionou ;na frente de outras pessoas, para usar uma camiseta dizendo "Team Ratner". Quando ela usou, respondendo não estar no time dele, os produtores do filme foram avisar que ela "não podia falar come le assim". "Eu estava sendo repreendida, mas ele não estava sendo punido nem despedido pelo comportamento descaradamente homofóbico e abusivo que todos testemunhamos", afirmou ela.

    Neilson Barnard / Getty Images

    A atriz ainda comentou sobre outras situações de assédio que passou na indústria cinematográfica, já que atua desde os dez anos de idade:

    "Quando eu tinha dezesseis, um diretor me levou para jantar (uma obrigação profissional e muito comum). Ele acariciou minha perna debaixo da mesa e disse: 'Você tem que dar o primeiro passo, eu não posso'. Eu não dei o passo e tive a sorte de me afastar dessa situação. Foi uma realização dolorosa: minha segurança não estava garantida no trabalho. Uma figura de autoridade adulta para quem eu trabalhava pretendia me explorar fisicamente. Fui abusada sexualmente por com uma pegada meses depois. Um diretor me pediu para dormir com um homem em seus vinte e poucos anos e para falar sobre isso. Eu não fiz. Isso foi exatamente o que aconteceu durante os meus dezesseis anos, uma adolescente na indústria do entretenimento", desabafou ela.

    "Olhe o histórico do que aconteceu com os menores que descreveram o abuso sexual em Hollywood. Alguns deles não estão mais conosco, perdidos para o abuso de substâncias e o suicídio. Seus vitimadores? Ainda trabalhando. Protegido mesmo quando escrevo isso. Você sabe quem eles são; eles foram discutidos a portas fechadas tantas vezes quando [Harvey] Weinstein foi", escreveu Page. "Se eu, uma pessoa com privilégio significativo, permaneço relutante e com tal risco simplesmente dizendo o nome de uma pessoa, quais são as opções para quem não tem o que tenho?".

    Mark Mainz / Getty Images

    A atriz ainda comentou sobre a epidemia de violência contra as mulheres, que "afeta desproporcionalmente mulheres de baixa renda, particularmente mulheres de mulheres cor, trans e homossexuais e mulheres indígenas, que são silenciadas por suas circunstâncias econômicas e uma profunda desconfiança de um sistema de justiça que absolve o culpado diante de evidências esmagadoras e continua a oprimir pessoas de cor". Ela relembrou mulheres que lutaram pelos direitos femininos e foram prejudicadas, desacreditadas ou até mortas por isso, mas deram a possibilidade de mulheres como ela, branca, cis e lésbica, pudesse ter privilégios frente aos homens, héteros e brancos.

    Page destacou, novamente, que as pessoas não esqueçam homens de poder que cometeram assédios e abusos mas continuam protegidos pelo status quo, intocáveis, sendo, inclusive, celebrados. Entre eles, o Presidente dos Estados, Donald Trump; Bill Cosby; o cineasta Roman Polanski, e Woody Allen.

    "Eu fiz um filme Woody Allen e é o maior arrependimento da minha carreira", disse Page sobre Para Roma Com Amor. "Estou com vergonha de ter feito isso. Eu ainda tinha que encontrar a minha voz e não era quem eu sou agora e me senti pressionado, porque 'é claro que você tem que dizer sim a este filme de Woody Allen'. Em última análise, no entanto, é minha escolha quais filmes eu decido fazer e eu fiz a escolha errada. Cometi um erro terrível."

    Finalmente, a atriz desejou que estes homens assumam a responsabilidade por seus atos e que, como resultado, as vítimas sejam curadas. Ela ainda agradeceu a quem teve a coragem de apontar os abusos e traumas sofridos, e clamou para quem lesse seu texto não tomasse o comportamento desses assediadores como normal, não comparasse atos errados ou criminais por grau de severidade e não se permitisse calar as vítimas que têm coragem de falar.

    Por mais pessoas como Ellen Page.

    Por mais solidariedade com as vítimas.

    E por mais indivíduos dispostos a ouvir.

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