"Ah, lá vem o AdoroCinema falando de personagens gays de novo!". Pois é. Primeiro, porque o tema está longe de ser esgotado, e segundo, porque um novo filme mudou bastante a maneira como a mídia tem discutido essa questão. Trata-se de Alien: Covenant, em cartaz desde quinta-feira.
Você não deve ter ouvido falar em polêmicas sobre a homossexualidade no filme, nenhum grupo conservador pedindo o boicote e nenhum governo censurando a história no país, ao contrário de casos recentes. Isso porque os produtores e distribuidores resolveram não tocar no assunto, não fazer do tema um atrativo especial aos fãs e à imprensa.
Ou seja, existe um casal gay em Alien: Covenant - que não vamos revelar, em respeito à estratégia do filme de não desvendar a informação antes da hora - cuja sexualidade se integra de maneira natural na trama. Em determinado momento, um diálogo revela a homossexualidade dos personagens, e depois o fato não traz implicações à trama. Simples assim.
A decisão da Fox Films é totalmente diferente daquela da Disney, que discutiu abertamente, antes do lançamento de A Bela e a Fera, a homossexualidade de LeFou (Josh Gad). Quando o filme chegou aos cinemas, muitas pessoas ficaram decepcionadas: a comunidade LGBT reclamou de tanto alarde para uma menção apenas subentendida, partindo de um personagem usado como alívio cômico, enquanto espectadores esperando pela polêmica se decepcionaram devido ao minimalismo de algo alardeado com tamanho entusiasmo pelo diretor Bill Condon.
Em termos de moderação, aliás, as grandes produções têm sido peritas em apenas mencionar a existência da homossexualidade, sem qualquer demonstração de afeto por parte dos homossexuais. Nenhum toque, beijo, nada. Em Power Rangers, a Ranger lésbica não confirma sua atração por garotas: ela apenas se recusa a negar a homossexualidade sugerida por um colega. Em Star Trek - Sem Fronteiras, Sulu limita-se a encontrar seu namorado/marido, sem qualquer contato entre eles. Um suposto beijo gravado pelos produtores teria sido cortado na edição.
O recente Guardiões da Galáxia Vol. 2 foi mais longe na timidez de sua insinuação: o diretor James Gunn afirmou que existe um personagem LGBT na história, mas o AdoroCinema e o resto da mídia não conseguiram identificar nenhum traço disso na trama. De que serve a afirmação se ela não é vista no filme? Seria apenas uma ferramenta para criar polêmica? Um golpe comercial? Uma preparação para a saída do armário de algum personagem em Guardiões da Galáxia Vol. 3?
Mesmo assim, essa homossexualidade invisível foi suficiente para despertar novos protestos. Para alguns espectadores, é melhor fingir que gays, lésbicas, transexuais e transgêneros não existem. Qualquer menção à existência de uma parte considerável da população constitui uma afronta.
Ainda assim, vale pensar qual é a melhor opção. É preferível a propaganda em cima de uma representação tímida, envergonhada de se assumir como tal, ou a caricatura grotesca dos cientistas gays de Independence Day: O Ressurgimento? Talvez a resposta não seja nenhuma das duas, e sim o caminho de Alien: Covenant, ou seja, continuar abordando personagens gays, de maneira cada vez mais natural, direta e frequente, como parte integrante da história. Quem sabe assim as pessoas se acostumam à ideia, sem o peso das polêmicas...
Enquanto isso, podemos deixar os grandes anúncios do tipo "Olha só, temos um personagem gay no nosso filme!" para produções que realmente ousarem dar destaque ao tema. Talvez histórias com personagens LGBT no papel principal, vivendo sua sexualidade ou identidade de gênero de maneira tranquila, afetuosa, digna. Sem caricaturas nem medo de chocar os tradicionalistas. Estes filmes sim, vão merecer todo o alarde na imprensa e nas redes sociais. Que tal?
