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    Festival do Rio 2016: Cristiane Oliveira, Maria Galant e Verónica Perrotta falam sobre empoderamento feminino de Mulher do Pai

    Exibido durante a Premiére Brasil, o longa acompanha a história de uma jovem que precisa cuidar do pai cego, enquanto tenta se descobrir como mulher.

    Na fronteira entre Brasil e Uruguai, uma jovem precisa cuidar do pai cego após a morte da avó. Enquanto surge uma perturbadora aproximação entre os dois, uma professora uruguaia começa a afetar a vida da família. Isto é Mulher do Pai, produção composta por várias "primeiras vezes". Estreia da cineasta gaúcha Cristiane Oliveira na direção de longas-metragens. Apresentação da jovem protagonista Maria Galant. E projeto que incentivou a atriz uruguaia Verónica Perrotta a aprender português.

    Exibido durante a Premiére Brasil, a história de Mulher do Pai começou em 2004, durante a produção de Messalina, premiado curta-metragem de Cristiane, que também acompanhava uma deficiente visual. Mas a confiança e a intimidade que o cego Ruben (Marat Descartes) começa a construir com a filha é só o pontapé inicial dessa jornada. O AdoroCinema conversou com o trio Cristiane Oliveira, Maria Galant e Verónica Perrotta durante o Festival do Rio.

    Uma das frases do longa indica que "homens são como trens. Passam e nunca param." Por sua vez, são as personagens femininas que apresentam suas próprias opiniões. Jovens que tentam descobrir a si mesmas. Uma professora de outro país que mora sozinha numa cidade do interior. Uma mãe solteira que é dona do próprio negócio. Como define Verónica, "as mulheres nesse filme são aquelas que sobrevivem."

    Para esta questão, a escolha do ambiente não foi aleatória: "É uma região típica da cultura de criação de gado, que é bem representativa da cultura gaúcha. Nesse tipo de criação, não tem muito espaço para mulher, é uma cultura machista que não está somente nos homens, mas nas mulheres também. [...] "Eu quis contar uma história com mulheres fortes e um homem fragilizado, que tem um papel grande nas mulheres ao redor dele", contou a diretora.

    O empoderamento feminino da produção não fica somente em suas personagens. A trilha sonora de Mulher do Pai conta com Dona Ivone Lara, primeira mulher a ser aceita como compositora de escola de samba, e um funk original criado por MC Gi para a produção: "Aqui Quem Manda Sou Eu".

    Outro fator essencial para entender Mulher do Pai é observar como a divisão entre Brasil e Uruguai é um personagem da narrativa. Rodado no interior do Rio Grande do Sul, a produção acabou se transformando em um empreendimento imobiliário. Casas foram restauradas e estradas foram construídas para hospedar a equipe nas casas da região. "E um filme que fala de fronteiras. Não só da mistura entre as culturas desses países, mas também da fronteira da pele. Do toque entre duas pessoas e as fronteiras que criamos em nós mesmos, nossas limitações", fala Cristiane.

    Convidada pelo produtor Diego Fernandez (com quem trabalhou em Whisky), a uruguaia Verónica Perrotta contou sobre como foi se aventurar em sua primeira produção brasileira: "Gostei muito do roteiro, dessa personagem. Ela tem uma forma de pensar sem preconceitos. Para mim, foi muito desafiador, pois tive aulas de português e sobre arte da argila. [...] Mas fomos muito bem recebidos no Rio Grande do Sul, foi uma parceria linda. Até chorei com tanta emoção."

    Desafio também define o trabalho da protagonista Maria Galant, escolhida aos 16 anos após uma série de testes na região: "Era pesado ver que essa menina estava passando pelas mesmas coisas que eu, mas com um pai cego pra cuidar, uma casa para cuidar, numa vila em que ninguém gosta do pai dela. Ela tem muita força e é muito corajosa, ela sabe o que quer. Ao mesmo tempo, é muito inocente e acha que não tem capacidade de fazer as coisas por si mesma. Foi uma experiencia transformadora para a Maria como atriz, mas também como pessoa conhecer a Nalu."

    Co-produção Brasil e Uruguai, Mulher do Pai pretende abrir seus horizontes além do Festival do Rio. E já começou com pé direito. Durante seu desenvolvimento, o longa ganhou o prêmio VFF Talent Highlight Pitch Award no Festival de Berlim. Cristiane Oliveira não deixa de sonhar alto: "A estreia foi aqui. Agora ele vai pro mundo."

     

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