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    Cine PE: Diretor se emociona durante apresentação de Aos Ventos que Virão

    Hermano Penna dedica a sessão do filme ao amigo Aloysio Raulino, falecido há poucas semanas.

    O último dia da mostra competitiva do Cine PE - Festival do Audiovisual reservou um dos momentos mais emocionantes de todo o evento. No palco para apresentar seu novo longa-metragem, Aos Ventos que Virão, o diretor Hermano Penna resolveu dedicar a sessão ao amigo Aloysio Raulino, falecido no último dia 18. No instante em que prestaria a homenagem a emoção bateu forte e o diretor, sem fala, permaneceu estático no palco. Segundos depois veio a homenagem, com os olhos repletos de lágrimas. O público aplaudiu calorosamente.

    Inspirado na história verídica de Zé de Julião, o longa-metragem acompanha a trajetória de um ex-integrante do bando de Lampião que, após sua morte, acaba fugindo para São Paulo ao lado da esposa. Após algum tempo na cidade, ele decide retornar à pequena cidade sergipana de Poço Redondo e se envolver com a política local. O elenco conta com Rui Ricardo Diaz, Emanuelle Araújo, Luis Miranda e Marat Descartes.

    A partir de uma bela fotografia, que explora com habilidade a luz do sertão nordestino e também o uso das sombras nas cenas noturnas ou de cativeiro, o longa-metragem possui uma estética diferenciada em relação aos demais filmes exibidos no Cine PE. Seu grande senão é o roteiro, repleto de saltos mal explicados que prejudicam a compreensão da trama como um todo.

    O diretor Hermano Penna concedeu ao AdoroCinema uma entrevista exclusiva na manhã de hoje, 2 de maio, na qual falou sobre as dificuldades enfrentadas com o longa-metragem.

    AdoroCinema: A ideia original do filme vinha da década de 1980, de quando a Embrafilme ainda existia. Ou seja, levou mais de 30 anos para que o filme fosse feito. Como foi todo este processo?

    Hermano Penna: Foram anos de luta e muito preconceito contra um filme de cangaço. Foi muito difícil conseguir o financiamento, mas por outro lado foi bom porque fui modificando o roteiro. Inicialmente era uma cinebiografia, mas aos poucos fui modificando e usando apenas alguns eventos da vida dele. É um filme que deve ter tido uns 12 a 15 roteiros diferentes.

    AC: Algo que chama muito a atenção no filme é a fotografia, especialmente a iluminação e o uso das sombras. Como foi a definição desta opção no filme?

    Hermano: Queria muito pegar aquela luz natural do sertão, houve um cuidado neste sentido. Ele foi filmado em película, apesar de querer que fosse filmado em digital. O fotógrafo não aceitou, achava que com o digital aquela luz seria problemática.

    AC: O filme trabalha bastante a questão do fim do cangaço em paralelo com a construção de Brasília, no sentido da esperança por um Brasil melhor. Reparei que o slogan do filme é "Ainda seremos o que sonhamos". O filme seria também uma mensagem de que ainda esperamos este Brasil melhor?

    Hermano: É por aí mesmo. Ainda falta muita coisa para sermos um país decente com seu povo. Haja visto o que acontece nas periferias de São Paulo, onde se vive uma ditadura com mais ferocidade ainda, repleta de chacinas. Desgastou-se muito a palavra cidadania no Brasil, então a justiça como bem comum é algo fraquíssimo no país. Temos muito o que caminhar ainda.

    AC: Este é o primeiro trabalho do Rui Ricardo Diaz no cinema desde Lula, o Filho do Brasil. Sua escolha como protagonista teve algo a ver com o filme anterior dele?

    Hermano: Sim. Assisti ao filme e fiquei muito encantado com o trabalho dele como o Lula. Convidei também por um aconselhamento do Sérgio Penna (preparador de elenco), que me ajudou a formar o resto do elenco, definido a partir de uma oficina realizada em Aracaju.

    AC: Você ficou bastante emocionado no palco ao falar sobre o Aloysio Raulino. Como surgiu a ideia de homenageá-lo?

    Hermano: A emoção com aquela dedicatória que nem consegui dizer quando me lembrei é que Aloysio, além de excepcional cineasta, era um grande amigo. Confesso que sou mais só sem ele. Porque era amigo mesmo, éramos irmãos. Era a pessoa com quem conversava sobre cinema, daí a homenagem. Não queria aquilo na hora, mas foi incontrolável. Pensava em dedicar a noite a ele, mas chegou na hora e faltou o homem!

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