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    Entrevista - Karim Aïnouz e Alessandra Negrini falam sobre O Abismo Prateado

    Conversamos com o diretor e a protagonista do filme baseado na canção "Olhos nos Olhos", de Chico Buarque.

    por Francisco Russo

    Um dos principais lançamentos da semana é O Abismo Prateado, longa-metragem baseado na popular canção "Olhos no Olhos", de Chico Buarque. O AdoroCinema participou da coletiva onde estiveram presentes o diretor Karim Aïnouz e a protagonista Alessandra Negrini, além de ter uma conversa exclusiva com Aïnouz. O resultado deste bate-papo você confere logo abaixo. Boa leitura!

    O PORQUÊ DO TÍTULO

    O que significa O Abismo Prateado? O diretor Karim Aïnouz explica. "Tenho uma mania de escolher os títulos dos filmes apenas depois que eles ficam prontos. Tinha a certeza de que o filme deveria ter um nome diferente ao da canção, já que é inspirado nela e não um retrato dela. Tinha na cabeça alguns títulos, como Violeta, que é o nome da personagem. Mas depois achei que seria pouco preciso, já que não é um filme sobre ela, mas um momento vivido por ela. Aí veio um título maluco, O Sorvete Solar, já que ela toma sorvete para melhorar.

    Quando estávamos terminando a montagem veio uma cena que para mim é muito emblemática, que é quando ela está na pedra do Leme. É uma cena limite, você não sabe bem o que a personagem vai fazer, e uma espécie de abismo. O abismo esteve sempre na minha cabeça, não propriamente como título mas como estado da personagem. Nesta cena em especial teve um pouco da fotografia que fez com que o mar ficasse cor de prata. Para mim o prateado sempre teve um pouco da alegria, de horizonte. Aí juntei os dois nomes, que é até uma junção um pouco contraditória. Achei super bonito, mas também um pouco de filme de terror ou de ficção científica. Você não sabe exatamente que tom ele tem pelo título. Comecei a gostar disto também, então aos 48 minutos do segundo tempo decidimos que o filme iria se chamar O Abismo Prateado."

    POR QUE "OLHOS NOS OLHOS"?

    "Esta é uma música que tem interpretações distintas e cada uma delas é muito contundente", explica o diretor. "Há ainda o desafio e a dúvida. Gosto de várias canções do Chico Buarque, mas esta talvez seja uma das mais abstratas, que te permita imaginar o que está em volta. Com isso tive uma sensação maior de liberdade para adaptar."

    DA CANÇÃO PARA O FILME

    "Havia um desafio bonito que era fazer um filme inspirado numa canção que é na verdade uma carta de amor e um poema. O desafio não era reproduzir a carta, mas imaginar as condições nas quais ela foi escrita. Este foi meu ponto de partida", contou Aïnouz, que falou ainda sobre como foi definindo alguns dos principais elementos da história. "O nome Violeta sempre esteve comigo, pois gosto muito dele. Tem uma coisa de violento ao mesmo tempo que é o nome de uma flor, é a cor de um hematoma. Achei que era muito preciso para este personagem, pois era machucado mas ao mesmo tempo muito forte. Queria também que fosse um personagem comum. Quando você lê a carta não imagina que seja uma adolescente, mas uma mulher que já passou por algumas coisas na vida. São coisas que a gente vai descobrindo aos poucos, é um exercício de imaginação mesmo, tentando encontrar um caminho."

    PROJETO ENCOMENDADO

    Ao contrário de seus filmes anteriores - Madame Satã, O Céu de Suely e Viajo Porque Preciso, Volto Porque Te Amo -, nos quais sempre desenvolveu o projeto desde o início, Karim Aïnouz foi convidado a dirigir O Abismo Prateado. O diretor comentou sobre como foi este convite. "Neste projeto houve algo de especial que foi o pontapé inicial ter vindo de um produtor. Foi uma provocação, mais do que qualquer coisa. Fiquei muito instigado com a maluquice da proposta e foi muito legal porque o Rodrigo (Teixeira) me deixou escolher qual seria a canção. Disse que a única que teria uma empatia ao ponto de conseguir imaginar como um filme seria "Olhos nos Olhos". Foi uma coincidência muito bacana, porque ele tinha os direitos desta canção."

    A PROTAGONISTA

    O diretor revelou que a escolha por Alessandra Negrini aconteceu antes mesmo de escrever o roteiro. "Foi muito bacana porque pudemos escrever o roteiro pro corpo, o olhar da Alessandra mesmo. Já o Otto foi difícil, fiquei procurando o personagem por muito tempo. Quando olhei de novo o teste dele me chamou muito a atenção a presença física e a relação do corpo dele com a lente. É o que se chama fotogenia."

    Karim Aïnouz revelou ainda que há bastante tempo tinha vontade de trabalhar com Alessandra Negrini. "Tinha muita curiosidade de trabalhar com ela. Sempre me seduziu muito as escolhas que ela fez na carreira e ao mesmo tempo por um encantamento. Passa pelo tesão, não se escolhe um ator apenas porque ele é um bom ator. Isso é uma premissa básica, mas tem que ter um encantamento com a pessoa. E a Alessandra tem algo que você vai se encantando, não é como um tapa na cara. Isto para a personagem é muito importante, para que você se interessasse aos poucos por ela."

    UM FILME DE AÇÃO

    Alessandra Negrini surpreendeu ao revelar que Karim Aïnouz havia dito a ela que O Abismo Prateado era um filme de ação. "O Karim me dizia que a Violeta era uma mulher forte e que este era um filme de ação. Isso me ajudou muito, pois tinha que demonstrar na ação. Correr, bater o martelo, chegar... Colocava muito também na respiração, para não ficar apenas no psicológico."

    DEMORA NO LANÇAMENTO

    A primeira exibição de O Abismo Prateado foi no Festival de Cannes de 2011, onde foi selecionado para a Quinzena dos Realizadores. Desde então o filme foi exibido no Festival do Rio, mas teve que esperar mais um ano e meio até enfim chegar ao circuito comercial. Karim Aïnouz falou sobre como foi todo este processo.

    "O filme levou um ano para ser feito, um tempo recorde, e aí teve um tempo recorde para ser lançado ao contrário. Foram duas as razões. A primeira foi que eu incitei o Rodrigo (Teixeira) a inserir o filme para ser apresentado em Cannes. Não sabíamos se eles iam gostar, mas deu certo. Aí o orçamento que tínhamos para lançar o filme acabou sendo usado nisto, pois Cannes é um pacote caro. Com isso o Rodrigo levou algum tempo para recuperar o dinheiro que tinha gasto.

    Outra questão foi que, quando voltamos de Cannes, eu já estava comprometido com outro filme, Praia do Futuro. Então logo em seguida tive uma série de compromissos com o filme e acabei pedindo para o Rodrigo esperar um pouco. Não queria que ele lançasse o filme comigo estando longe, gosto de acompanhar todo este processo de divulgação. Então originalmente o filme seria lançado em maio de 2012, pois até lá já teria rodado quase todo o Praia do Futuro. Mas aí tivemos problemas com chuva e tive que adiar as filmagens, então pedi ao Rodrigo que esperasse terminar todo este processo e ter um corte bacana do filme novo, que me permitisse sair e me dedicar ao lançamento de O Abismo Prateado. Quando você não tem uma major por trás é preciso cuidar de todos os detalhes, senão você não existe, ninguém sabe que o filme foi lançado."

    EXPECTATIVA

    "Este é o primeiro filme em que trabalho com uma matéria que tem lastro", comentou o diretor. "Fiz uma aposta de trabalhar com um filme inspirado numa canção, com uma atriz super conhecida e respeitada, então estou muito curioso. Para mim ele é um case, sobre o que ajuda um filme realmente. Estou trabalhando com os mesmos elementos que as grandes produções trabalham, estou muito curioso para ver se isto irá multiplicar o público do filme."

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