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    Quentin Tarantino fala sobre Django Livre em entrevista exclusiva

    Cultuado diretor fala sobre a estreia em faroestes e sobre o trabalho com nomes como Jamie Foxx e Leonardo DiCaprio. A estreia acontece em janeiro de 2013.

    por Lucas Salgado

    Falta menos de um mês para o lançamento de Django Livre no Brasil, que acontece em 18 de janeiro de 2013. Enquanto a data não chega, os fãs de Quentin Tarantino podem conferir essa entrevista exclusiva com o cultuado diretor, cedida ao AdoroCinema pela Sony Pictures. Ele falou sobre como foi trabalhar com Jamie Foxx, Leonardo DiCaprio e Christoph Waltz. Confira como foi o bate papo!

    Levou um longo tempo até você fazer um faroeste, algo sobre o qual você falava há bastante tempo. É um sonho que está se tornando realidade?

    Eu sempre quis fazer um faroeste. Para mim, ter a oportunidade de fazer filmes já é a realização de um sonho, não importa quase seja o seu gênero. Quando eu estava rodando Cães de Aluguel, foi a realização de um sonho fazer um filme de gângsteres. Eu gosto da ideia de me arriscar em gêneros diferentes; um filme de guerra, de gângsteres, um filme de artes marciais e agora, um faroeste. Eu sempre gostei de faroestes, e tiveram alguns elementos de faroeste nos demais, então, na verdade, depois de disfarçá-los algumas vezes – sobretudo no caso de Kill Bill - Volume 2 e Bastardos Inglórios – é ótimo poder agora fazer um faroeste propriamente dito. E mesmo assim, não se trata de um faroeste propriamente dito, porque se passa no sul dos EUA. Até nesse ponto, eu estou distorcendo um pouco os fatos.

    E você tem um caubói alemão.

    Sim, mas também tem um aspecto interessante que é o fato de um italiano, Franco Nero, ter interpretado Django naquele primeiro filme. E teve também outro com Terrence Hill, intitulado Django, Prepare a Coffin, em que ele, obviamente, interpreta o mesmo personagem. Mas, depois, há outros 39 filmes de Django que não têm qualquer ligação com Django, e às vezes, nem têm um personagem chamado Django neles. Então, eu acho que nós nos inserimos numa longa lista de sequências oficiosas de Django com algo além do personagem de Franco Nero. Entretanto, ao mesmo tempo, fazer com que ele liberte um escravo é uma coisa legal, e ainda inserimos na mistura algo único, esse alemão como um dentista caçador de recompensas! (risos)

    Como você escalou Jamie Foxx?

    Nós nos encontramos, e ele foi simplesmente fantástico. Ele compreendeu a história, o contexto da história e a importância histórica do filme. Ele atua por mim, ele atua pelo cinema, atua por si mesmo, mas também atua pelos seus ancestrais. Ele tem a oportunidade de fazer as coisas que os seus ancestrais não puderam. É uma história muito importante para ele e para a sua raça; e para pessoas de todas as raças e para todos os americanos. E ele compreendeu isso. Ele entendeu 100%. Ele é um ator fantástico e tem o físico perfeito para o personagem, mas tem o aspecto de que ele é um caubói; tem algo de caubói nele. Quando eu o conheci, pensei que, se escalassem negros nas produções de faroeste da TV nos anos 1960, eu podia imaginar o Jamie tendo seu próprio programa de TV. Ele fica ótimo montado sobre um cavalo e com esse figurino.

    Leonardo DiCaprio como Candie, o senhor de escravos, é uma escalação incomum. Por que o escolheu?

    Sinceramente, ele fez chegar a mim o seu interesse. Eu tentei não ser muito específico ao escrever o personagem no roteiro, tentei não descrevê-lo demais, para deixá-lo aberto a interpretações. Mas eu estava pensando em usar possivelmente um ator mais velho. E aí o Leo leu o roteiro e gostou, e nós nos reunimos e começamos a conversar. Eu comecei a imaginar como seria mais fácil transformar o personagem num Calígula; um jovem imperador. O pai do pai do seu pai começou a plantação de algodão, o pai do seu pai deu prosseguimento ao negócio e o tornou lucrativo, e o pai dele o tornou ainda mais lucrativo. Agora, ele é a quarta geração de Candies a assumir o negócio do algodão, e ele se entedia com isso. Ele não se importa com o algodão; por isso, se interessa pelos lutadores Mandingo e tudo mais. Mas ele é um jovem príncipe muito petulante. Ele é um Luís XIV em Versailles. E tem um componente disso, se você analisar bem; se você é dono de uma fazenda agrícola e tem empregados brancos trabalhando para você, e todos aqueles escravos negros e uma extensão de terra gigantesca, você poderia muito bem ser um rei no seu próprio reino. A casa grande seria o seu palácio e todas aquelas pessoas seriam os seus súditos. De fato, você tinha o poder de um rei. Então, eu quis explorar, de fato, essa ideia, do rei Luís XIV, só que no sul dos EUA. Candieland é uma comunidade completamente fechada, com cerca de 100km de extensão, ou seja, é um feudo. Ele tem o poder de um rei; ele pode executar pessoas e fazer o que quiser.

    Depois de Jackie Brown, esta é outra investigação de questões raciais. Você tem alguma hesitação em abordar temas como esses?

    Não tenho hesitação alguma. Eu sei que algumas pessoas sempre terão suas opiniões sobre isso, mas depois isso passa e o filme é o filme. Além disso, eu nunca deixo que nada nem ninguém me impeçam de fazer qualquer coisa. Então, não, isso não me importa, e sempre que alguém fala demais sobre isso, eu digo: “É, é verdade, mas ao mesmo tempo também é um faroeste legal”.

    Quais foram os desafios de se filmar um faroeste?

    O clima! (risos) O clima é o maior problema; as questões sobre as quais você não pensa quando está assistindo a um faroeste. A chuva, ou a completa mudança da luz que está acontecendo aqui. A luz que nós tínhamos no começo do dia era totalmente diferente. Esse é o maior problema, porque a luz muda e, de repente, você não consegue concluir a cena. Esses são os maiores desafios, mas todo o resto é simplesmente um sonho.

    Há um maior foco sobre um ou dois personagens neste do que nos seus últimos filmes. Ele será um pouco mais centrado?

    Não, ele é definitivamente um épico. Eu não considero faroestes spaghetti como “exploitation films”. Eu os considero um tipo de faroeste tão legítimo quanto os norte-americanos e, na verdade, eu costumo gostar mais deles. E, francamente, minha intenção não é fazer nada exploratório, porque estou lidando com um material que já é exploratório em si. Eu não quero fazer ninguém pensar que as mulheres do filme, ou os personagens escravos, são explorados. Estou, na verdade, mostrando como eles eram explorados. Eu não os estou explorando, estou sendo uma testemunha desse fato.

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