Bruce Willis foi a última opção para o papel principal: Ninguém imaginava que estavam diante de um dos maiores filmes de ação do século XX
Giovanni Rodrigues
Giovanni Rodrigues
-Redação
Já fui aspirante a x-men, caça-vampiros e paleontólogo. Contudo, me contentei em seguir como jornalista. É o misto perfeito entre saber de tudo um pouquinho e falar sobre sua obsessão por nichos que aparentemente ninguém liga (ligam sim).

Duro de Matar foi um projeto quase fadado ao fracasso. O protagonista foi contratado a contragosto, mas quem se arrepende agora?

Duro de Matar começou como as melhores histórias: sendo um fracasso. Nasceu como a adaptação do romance intitulado Nothing Lasts Forever, de Roderick Thorp, que apresentava um detetive mais velho enfrentando um grupo terrorista real e tinha um estilo muito mais amargo. Queriam Frank Sinatra para o papel, mas ele recusou. E depois também foi rejeitado por Arnold Schwarzenegger. E Sylvester Stallone. E Clint Eastwood. Até Burt Reynolds e Richard Gere foram sondados e disseram não. No fim das contas, Bruce Willis apareceu como última opção e o estúdio teve que aceitá-lo.

Quem diria, para todos os envolvidos, que esse filme de ação pelo qual ninguém dava nada terminaria se tornando um clássico absoluto do gênero e o favorito de muitos espectadores para assistir no Natal.

Duro de Matar
Duro de Matar
Data de lançamento 22 de dezembro de 1988 | 2h 12min
Criador(es): John McTiernan
Com Bruce Willis, Alan Rickman, Alexander Godunov
Usuários
4,4
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O tema central do filme não é o terrorismo nem a ação vazia, mas sim como um homem quer pedir desculpas e não sabe como. Isso vem de um acontecimento real que ocorreu com o roteirista Jeb Stuart, que sofreu um grave acidente doméstico e uma forte disputa familiar. Stuart estava muito vulnerável quando escreveu o roteiro e essa tristeza foi transferida para John McClane. Depois, Steven E. de Souza juntou-se como co-roteirista e impulsionou a história para um ritmo mais leve, mais ágil e mais irônico, equilibrando o tom entre drama pessoal e entretenimento puro. O resultado foi um equilíbrio estranho: um herói falho inserido em uma máquina de ação extremamente precisa.

Os pequenos detalhes que o tornaram grande

No meio desse processo, houve curiosidades editoriais e de roteiro que ajudaram a moldar o tom final. O famoso “Yippee-ki-yay” surgiu quase como uma piada improvisada no set. A ideia de que os vilões fossem ladrões disfarçados de terroristas surgiu para evitar problemas com a censura e para manter um ritmo mais ágil. A figura de Holly, a esposa de McClane, passou por múltiplas revisões para evitar que fosse reduzida a um simples macguffin romântico. E a estrutura narrativa foi preenchida com pequenos inserções visuais: planos de pés descalços, planos do walkie-talkie, planos do relógio que depois seria chave para o desfecho. Cada uma dessas decisões, aparentemente menores, contribuiu para construir uma engrenagem de precisão narrativa que outros blockbusters invejaram durante anos.

20th Century Studios

As filmagens épicas foram outro fator que alimentou a lenda do filme. A torre utilizada — o edifício da Fox em Century City — não estava completamente terminada, o que permitiu usar áreas em construção para rodar cenas de explosões e tiroteios sem a necessidade de sets gigantescos. Willis, que filmava à noite após sua jornada televisiva, terminava muitas sequências exausto. Os dublês, coordenados por uma equipe experiente, criaram quedas que ainda hoje parecem perigosas. O filme não recorre à edição hiperfragmentada tão comum no cinema de ação atual. Deixa que o corpo do ator ou do dublê atravesse o plano, que a luz desenhe o movimento, que o espaço respire. Essa fisicalidade, essa textura tangível, é uma das razões pelas quais ele continua parecendo fresco. Até mesmo as limitações técnicas — como o uso de maquetes para as explosões exteriores — acabam somando à autenticidade visual do conjunto.

Quando Duro de Matar chegou aos cinemas em 1988, ninguém esperava que redefinisse um gênero inteiro. Era, aparentemente, outro filme de ação ambientado em um arranha-céu, com um policial cínico, um grupo de terroristas bem organizados e uma série de explosões calculadas para emocionar o público de verão. Mas o que parecia um produto rotineiro terminou se transformando em uma pedra angular do cinema comercial dos últimos quarenta anos, uma obra capaz de sustentar conversas sobre identidade, masculinidade, família, política e espetáculo com a mesma facilidade com que fazia explodir vidros na tela.

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