George Clooney que estrela “Jay Kelly” fala sobre fama, arrependimentos e gentileza
Paulo Ernesto
Paulo Ernesto
-Redator
Crítico de cinema, roteirista e apresentador, Paulo une sua paixão por contar histórias com o amor por cultura pop. Já dirigiu curtas premiados e hoje produz conteúdos multiplataforma comentando cinema, séries e tudo que mexe com o coração cinéfilo.

Em entrevista ao AdoroCinema, George Clooney e o diretor Noah Baumbach refletem sobre carreira, família e a criação do filme da Netflix estrelado pelo ator, que discute vida, legado e a própria indústria do cinema.

Junket Productions, Inc.

Jay Kelly acompanha a jornada de um famoso ator de cinema vivido por George Clooney e seu empresário Ron (Adam Sandler). Os dois embarcam pela Europa numa trajetória intensa na qual são confrontados com as escolhas do passado, seus relacionamentos e legados.

O filme já estreou na Netflix e o AdoroCinema conversou com George Clooney e o diretor Noah Baumbach sobre a obra. Clooney começou comentando como o roteiro dialogava com sua própria trajetória especialmente o tema dos sacrifícios necessários para o estrelato.

Junket Productions, Inc.

As escolhas cobram um preço

Perguntamos a Clooney se ele também precisou abrir mão de algo ao longo da carreira, assim como o protagonista.

Ele respondeu: “Eu diria que o filme é menos sobre uma estrela de cinema e mais sobre a tentativa universal de equilibrar trabalho e família, algo em que sempre tropeçamos. As escolhas que fazemos ao longo do caminho cobram seu preço mais tarde. Sempre procurei manter família e amigos por perto, e isso faz toda a diferença. Quando as coisas vão bem, eles me mantêm com os pés no chão; quando vão mal, são eles que me sustentam.”

O ator reconhece que a privacidade, principalmente dos filhos é um dos maiores sacrifícios: “Eles não escolheram essa vida. Às vezes isso é difícil. Mas faz parte do pacto que você aceita ao escolher essa carreira.”

Ainda assim, Clooney afirma que não reclama dos custos da fama: “Eu já vendi seguro de porta em porta. Sei o que é se esforçar em condições difíceis. Vocês nunca vão me ouvir reclamar dos sacrifícios que fiz.”

Ele também celebrou a forma como Noah Baumbach retrata o universo dos bastidores de maneira “divertida e muito mais fiel” do que costuma aparecer no cinema.

Comparações com o personagem

Clooney admite que existem pontos de contato entre ele e o protagonista, mas destaca que o prazer estava justamente em explorar as diferenças: “Muitos de vocês me conhecem há anos. Eu não vivo isolado do mundo, tenho ótima relação com meu pai, sou muito próximo da minha esposa e dos meus filhos. Ao mesmo tempo, claro que reconheço algumas coisas. Na minha classe de atuação, havia caras melhores que eu que não chegaram lá, às vezes encontro alguns deles. Esse lado do universo artístico me é familiar.”

O ator conta quais perguntas surgiram quando leu o roteiro pela primeira vez: “Vi um homem cheio de arrependimentos: queria ter sido um pai melhor, ter mantido os filhos por perto, ter feito o filme para o diretor que lhe deu a carreira… Mas já parece tarde demais. Na minha idade, você sabe que não dá para recomeçar do zero. Felizmente, minha vida não é marcada por arrependimentos profundos, mas tenho alguns.”

Segundo Clooney, o filme toca em uma questão essencial: “Se você não tem família, não tem amigos… Valeu a pena ser apenas uma grande estrela?”

Ser gentil é estratégia ou personalidade?

Perguntado se sua postura sempre cordial nas entrevistas e encontros com o público é natural ou fruto de um esforço consciente, ele foi direto: “Sou filho de um jornalista. Cresci nesse ambiente, e até escrevi Boa Noite e Boa Sorte. Tenho uma ligação profunda com o jornalismo, nossa fundação trabalha para tirar jornalistas da prisão. Então não só respeito quem conta histórias, como realmente gosto dessas pessoas. Elas querem algo novo, e eu tento corresponder. Por que eu seria distante ou esnobe? Acho que o Jay é assim no filme porque ficou famoso muito jovem e nunca aprendeu a lidar com as pessoas.”

O ator também refletiu sobre como é visto: “Fiquei famoso primeiro pela TV. Quando você fica famoso por uma série (ER), está na casa das pessoas todos os dias. Elas apertam um botão para você falar ou não. Você vira quase parte da família. Por isso, a forma como me percebem sempre foi mais pessoal. E acho que a ideia que fazem de mim não está tão distante da realidade.”

O método Baumbach

Clooney, também diretor, contou como reagiu ao processo de Noah Baumbach, conhecido por rodar muitas tomadas. “Esse não é meu estilo. Se acerto na primeira, sigo em frente. Como ator vindo da TV, aprendi a entrar na cena pronto. Antes de começarmos, eu disse ao Noah: ‘Faz tempo que não trabalho com alguém que faz tantas tomadas. Vamos fazer do seu jeito, mas preciso avisar que vou levar um tempo para me adaptar’. No fim, achei fascinante e adorei trabalhar com ele.”

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George Clooney era essencial

Baumbach explicou que, para evitar que a história caísse na ironia, precisou olhar para o protagonista com empatia: “Sempre tive muito afeto por ele. Mesmo com seu lado adolescente e narcisista, via alguém que sabia que precisava mudar, só não sabia como.”

O diretor revelou que Clooney era parte indispensável do conceito: “Quando a Emily (Mortimer) e eu estávamos escrevendo, percebemos que precisávamos não só de um grande ator, mas de alguém com quem o público tivesse uma relação prévia, como os personagens têm com Jay. Eu não teria feito o filme sem o George. Ele é o DNA da história.”

Sobre trabalhar com alguém que também dirige: “Ele é muito dedicado e acho que muitos atores-diretores sentem um certo alívio ao voltar a atuar, porque dirigir é lidar com controle e falta de controle o tempo todo.”

Hollywood falando sobre Hollywood

Baumbach acredita que o filme vai além da metalinguagem: “É uma história humana, sobre mortalidade, sobre olhar para trás e para frente ao mesmo tempo. Queríamos que fosse um filme divertido, uma jornada na qual o público quisesse embarcar, mesmo sendo uma jornada sobre envelhecer e confrontar o próprio legado.”

Jay Kelly
Jay Kelly
Data de lançamento 20 de novembro de 2025 | 2h 12min
Criador(es): Noah Baumbach
Com George Clooney, Adam Sandler, Laura Dern
Usuários
2,6
Assistir em streaming

Jay Kelly está disponível na Netflix.

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