Os melhores anos do cinema do oeste ficaram para trás há muito tempo, já que os faroestes chegaram a ser o gênero por excelência, mas isso foi há muitas décadas. Por sorte, isso não quer dizer que não sejam mais feitos, mas sim que são muito menos abundantes e, é preciso reconhecer, inferiores às grandes obras-primas de antigamente. No entanto, alguns ainda valem muito a pena e hoje gostaria de falar sobre um que nem chegou a estrear nos cinemas do mundo todo: Retorno da Lenda.
Apresentado no Festival de Veneza de 2021, Retorno da Lenda é escrito e dirigido pelo pouco conhecido Potsy Ponciroli, que contou na ocasião com um elenco liderado pelo quase sempre confiável Tim Blake Nelson. Sua premissa, um fora da lei busca refúgio na fazenda de um veterano fazendeiro que vive acompanhado apenas de seu filho, pode soar como algo visto em muitas ocasiões, mas garanto que o filme contém algumas surpresas nos pouco mais de 90 minutos de duração. Infelizmente, Retorno da Lenda é um filme que teve uma distribuição muito reduzida. No entanto, agora pode ser resgatado graças a sua presença no catálogo da Netflix.

Aqui encontrarão um filme com poucos personagens e espaços reduzidos - a grande maioria da metragem acontece na fazenda -, o que nunca significa que pareça um filme barato feito às pressas. Em vez disso, potencializa-se a sensação de viver isolado da sociedade e como a chegada de forasteiros abala a vida do protagonista e seu filho.
Isso é enfatizado por um ritmo pausado que deixa os personagens respirarem e consegue uma efetiva naturalidade cinematográfica. Ou seja, não se busca nada parecido com realismo, mas sim algo muito próximo ao que no cinema clássico leva a uma sensação de proximidade com seus personagens. Os diálogos convincentes escritos por Ponciroli também têm bastante importância neste ponto.
Por isso, não esperem em Retorno da Lenda um filme em que prima a ação, mas quando chega o momento, sabe manejar bastante bem o equilíbrio entre tensão e violência para que o espectador sinta que realmente há algo em jogo. Além disso, seu bom acabamento visual apoiado na muito eficiente fotografia de John Matysiak ajuda a que se mergulhe mais no microcosmo que apresenta.

A outra cereja do bolo é o bom trabalho do elenco. É verdade que Nelson brilha com luz própria, mostrando uma desenvoltura e uma presença que deixam claro que não estamos diante de um simples fazendeiro viúvo. Tanto sua atitude como a forma de se mover - a parte física tem um grande peso no filme, e não estou pensando somente nos tiroteios - e até de falar ajudam a criar um grande protagonista sobre o qual orbitam os outros cinco personagens da função.
É verdade que talvez Gavin Lewis como seu filho seja o personagem menos estimulante, mas na hora da verdade não deixa de ser alguém com uma atitude mais passiva. Para compensar, temos Stephen Dorff como o chefe dos vilões mostrando um saber fazer indiscutível.

E se não confiam no que eu possa dizer, comento que Retorno da Lenda tem 94% de avaliações positivas no Rotten Tomatoes, contando também ali com 92% de apoio do público. E uma nota média de 7,3 no IMDb. Porque pode não ser um filme imprescindível, mas é um que vale muito a pena.
*Conteúdo Global do AdoroCinema