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    The Last of Us: Como o episódio de Bill e Frank prova que a série da HBO é uma das melhores adaptações dos últimos anos
    Diego Souza Carlos
    Apaixonado por cultura pop, latinidades e karê, Diego ama as surpresas de Jordan Peele, Guillermo del Toro e Anna Muylaert. Entusiasta do MCU, se aventura em estudar e falar sobre cinema, TV e games.

    Estrelado por Nick Offerman e Murray Bartlett, capítulo apresenta as fases de um relacionamento durante o pós-apocalipse.

    A conversa sobre adaptações é extensa. Livros que se transformam em séries. Filmes que viram jogos. Threads no twitter que do dia para a noite são vistas como minisséries. A lista de possibilidades é imensa, e nela está inserida uma das apostas mais certeiras do audiovisual nos últimos anos: The Last of Us.

    Olhando isoladamente para a história do jogo que dá nome à nova produção da HBO, é notável o poder transformador da trama. Não se trata apenas de uma aventura no fim do mundo, mas um drama focado em personagens que perderam tudo e seguem em busca de sobrevivência, mesmo que isso signifique sacrificar sua vulnerabilidade e sensibilidade para se manter são.

    Dentre os estudos acadêmicos sobre jogos eletrônicos (sim, eles existem!), o título desenvolvido por Neil Druckmann se encaixa no tópico da narratologia. Como o próprio nome já indica, são games que privilegiam a jornada dos heróis acima de qualquer outro aspecto. Não que a esfera técnica da jogabilidade seja deixada de lado, mas a alma da IP está no modo e no que a história apresenta ao jogador. Isso já é intrínseco ao game - a sua habilidade inata de contar histórias, algo que acende as “chamas da transmidialidade”.

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    Desde o seu lançamento, lá em 2013, muitos já dizem sobre como The Last of Us se daria muito bem como um filme ou série. A Sony Pictures até chegou a investir na ideia, convidando o criador do jogo para desenvolver uma versão “mais sexy" da trama. Algo como foi visto nos seis filmes de Resident Evil, com Milla Jovovich.

    O executivo não topou o olhar do estúdio até 2020, quando aceitou a proposta de comandar The Last of Us com a HBO, ao lado de Craig Mazin, a mente por trás da premiada Chernobyl. Até a chegada do projeto à grade da emissora e ao streaming, muito se especulou sobre como essa releitura se daria na telinha. Com três episódios, o resultado tem ultrapassado expectativas.

    Bill e Frank, uma história de amor e show na TV

    Reprodução / HBO Max

    O mais recente capítulo da história de Joel (Pedro Pascal) e Ellie (Bella Ramsey) quase não tem a participação da dupla - e isso não é um problema. Para uma série que adapta e se baseia em um jogo de videogame, não há culpa em transformar pequenos trechos, vistos majoritariamente em arquivos durante a jogatina, em episódios inteiros.

    Se você já assistiu Mythic Quest, por exemplo, sabe que um dos melhores episódios da primeira temporada é praticamente antológico à trama. O que surpreende no fazer televisivo dos últimos anos, um ensinamento passado por grandes sucessos do passado, está justamente em explorar a linguagem com variados formatos e estilos narrativos. Produções seriadas tem a vantagem em relação ao cinema, já que há mais tempo para se debruçar sobre diversos aspectos da história a fim de enriquecê-la.

    O capítulo em questão acompanha o relacionamento de Bill e Frank, um casal formado anos após o início da pandemia de cordyceps. Diferente do que muitos acham, os dois já estavam no produto original. A diferença é que o destino de ambos é muito mais trágico no game do que na série. Quando os protagonistas chegam na cidade vigiada por Bill, seu parceiro já está morto. O jogo, inclusive, deixa diversos indícios de que eles viviam um romance. No entanto, Frank se enforcou por motivos obscuros em algum momento da história.

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    Como já havia adiantado anteriormente, Druckmann e Mazin exploraram acontecimentos apenas citados ou referenciados no game transformando-os em algo maior. "O quanto nos desviamos [do jogo] tem que ser proporcional ao quão bom é", disse o criador do título em entrevista ao The Hollywood Reporter.

    Apesar de muitos descreverem o episódio como filler (com uma trama que independe do arco principal), há nele o motivo de The Last of Us ser uma adaptação tão forte. Focar no relacionamento de dois personagens durante o pós-apocalipse é um exemplo de como as pessoas ainda poderiam ter a esperança de viver dignamente mesmo que tenham perdido o eixo. Mostra como duas pessoas tão diferentes ainda se entregaram para o amor, diante de um cenário totalmente absurdo, em que a vida como era conhecida se foi.

    Além de funcionar como aclimatação da atmosfera - o mundo de The Last of Us é uma droga, mas ainda há humanidade - “Por Muito, Muito Tempo” se configura como uma aula de roteiro: mostra as interações de Joel e Tess do passado; amplia e ilustra o início do caos pandêmico; indica o sofrimento do personagem de Pedro Pascal enquanto vê seu mundo inteiro desabar; e, sobretudo, ainda é eficaz ao apresentar a dinâmica de um relacionamento pelo aspecto da vulnerabilidade, da sensibilidade, com direito a rimas visuais e uma fotografia coerente ao contexto.

    Visto por aproximadamente 6,4 milhões de espectadores no primeiro dia, 12% a mais do que o episódio anterior, o capítulo destaca a força de The Last of US da HBO em reforçar o que os dois jogos da Naughty Dog fizeram com maestria no passado: mostrar como a relação entre as pessoas pode ser algo transformador, principalmente em um cenário de ruína, um lembrete metafórico de uma realidade próxima, a da pandemia da COVID-19.

    Com performances dignas do Emmy, Nick Offerman e Murray Bartlett mostram que se o medo é um dos condutores para sobreviver a este mundo destruído, as pessoas ainda podem encontrar um propósito, umas nas outras, para vencer o próximo desafio ao virar a esquina.

    Adaptar uma história boa já é um grande desafio para muitos profissionais, mas expandi-la a ponto de enriquecer cada escolha e cada personagem de maneira densa é algo pelo qual deve-se tirar o chapéu.

    The Last Of Us
    The Last Of Us
    Data de lançamento 2023-01-15 | min
    Séries : The Last Of Us
    Com Pedro Pascal, Bella Ramsey
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    4,3

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