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    Estranhas Coisas de Paris
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    Nino G.
    Nino G.

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    3,0
    Enviada em 17 de junho de 2017
    Elena é uma personagem tão forte, livre, sensual e carismática que os momentos de sua ausência, são os pontos fracos do filme.

    Ao personificar em uma mulher o arquétipo de uma idealizada França, Renoir, expande positivamente a percepção do papel feminino, questões já evocadas e debatidas naquele período dos anos 50, mas que Renoir, insere em uma farsesca França de 1890, prestes a viver um golpe militar, onde Elena (Ingrid Bergman) é a musa capaz de influenciar o General François Rollan (Jean Marais), e consequentemente alterar os rumos políticos. Para movimentar ainda mais essa turbulenta relação, está a figura do Le comte Henri de Chevincourt (Mel Ferrer), que apaixonado pela Princesa Elena, tenta de todas formas afastar os possíveis adversários do seu enlace amoroso, algo nada simples para Henri, já que Elena é uma viúva pobre de finanças, mas rica em candidatos para um novo matrimônio.

    "Elena et les hommes" já inicia com um cômico e atrapalhado pedido de casamento de Martin-Michaud (Pierre Bertin), subitamente recusado pela Princesa. Nesse primeiro “take” já somos inseridos em marcas que tornaram o trabalho de Jean Renoir singular e próspero na gramática cinematográfica. O jogo com janelas e portas (talvez herdado do teatro e do espetáculos de circo), os efeitos de corte em planos e contra campos, o trabalho com profundidades, porém, sem acrescentar algo novo, Renoir mais do que inventar, soube, principalmente nessa película, delimitar o número necessário de recursos para contar uma história.

    Um motivo pelo qual Renoir é considerado como um modernista é que muitos de seus filmes têm uma narrativa mais frouxa se comparado com os típicos filmes de Hollywood da época, as parcelas de Renoir eram geralmente menos estruturadas e mais abertas à digressão, o que se tornaria o modo dominante de filmes de arte europeus a partir da década de 1960, mas Elena e seus homens infelizmente não são. O grande elenco e a necessidade de seguir os eventos históricos de forma bastante próxima conferem ao filme uma linha de história muito mais complicada, que é muito menos aberta e agradável do que as outras duas. As únicas digressões que Renoir permite a si mesmo são as muitas cenas de farsa, mas moldadas em um riso contido, até mesmo sem graça, devido ao nada ineditismo das piadas. Renoir pensou que seria divertido ver atores sérios em cenas que foram empurradas até o ponto de absurdo, mas as tentativas de humor forçado não funcionam.

    Elena, embora ocasionalmente sugere que o estado da nação está em jogo, representa mais um teatro do coração do que um teatro de guerra, e Renoir parece determinado a se mover completamente para fora do domínio do realismo, mas contraditoriamente é nessa estrada que ele prefere inserir seu filme, tal como no inverso do que sugere a profética sombra de guerras ou batalhas há uma paleta de cores vivas e coloridas, pois, a batalha aqui é do amor, tal como é fraseado no filme “Em um país onde se respeita o amor, não há espaço para guerras”. Além do colorido servir para contrariar as propostas de um filme de guerra, sua importância é também na perspectiva de um arquétipo da protagonista do filme, Elena é uma viúva contrariamente alegre, apesar de todas as adversidade de sua vida ainda manténs resquícios do frescor da juventude, da alegria de dias melhores e da sensualidade das cores, refletida nos seus figurinos, nos cenários e na composição colorida dos quadros — excelentemente capturados pela fotografia de Claude Renoir, sobrinho de Jean Renoir — quadros sempre ornamentados com flores, uma França primaveral e utópica, considerando os acontecimentos do passado e o futuro ameaçador.

    Curiosamente é com uma flor (margarida), que Elena presenteia o General Rollan, dizendo ser um amuleto da sorte. Entre tantas simbologias que essa flor evoca, a mais interessante se dá pela sagacidade de utilizar como um recurso para promover elos, já que o general, por vários motivos, sempre a perde, e a reparação desse amuleto só ocorre justamente quando Elena lhe oferta outra, ou seja, a própria Elena é o amuleto da sorte. As coisas boas que ocorrem ao general e consequentemente a França, ocorrem quando Elena está próxima do general. Uma segunda curiosidade é que 14 anos antes, no filme "Casablanca", é também com uma margarida que Ilsa Lund Laszlo (Ingrid Bergman) presenteia Richard Blane (Humphrey Bogart), e com o mesmo efeito de um amuleto que por fim dá sorte, mas não pode promover o enlace amoroso entre as personagens.

    Uma soma indissociável ao que nutre o filme é a qualidade de seus atores, principalmente ao considerarmos a pouca experiência ou familiaridade com a comédia e ou farsa. Ingrid Bergman como a princesa Elena Sokorowska é escada para diversos momentos cômicos, porém, raramente consegue produzir comicidade própria, o que não é de absoluto um problema no filme, sua princesa acaba por ser momentos de liberdade feminina, sensualidade e condutora das ações. Jean Marais como Gènèral François Rollan também é mais escada do que cômico, mas pontua impecavelmente o seu general e o triângulo amoroso com Le Comte Henri de Chevincourt (Mel Ferrer), porém, o ponto alto da comicidade está nas personagens que aparentam ser, uma referência às personagens como o arlequim, pierrot e colombina da commedia dell'arte, representados no filme através de Eugène (Jacques Jouanneau), Lolotte (Magali Noël), camareira da princesa e Hector (Jean Richard).

    Embora o uso de mise en scène de Renoir seja interessante como sempre, e os desempenhos positivos, este é, possivelmente, seu filme menos interessante. Pois, gera um conto superficial e menos envolvente.
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