O diretor inglês Michael Winterbottom quis fazer um filme-cabeça. Decidiu adotar a "santíssima trindade" da transgressão (sexo, drogas e rock and roll), mas de um ponto de vista "original": deixou a dupla central de atores com liberdade para explorar intuitivamente o que rolava. Nesse aspecto, o filme utiliza liguagem de um documentário. Matt (Kieran O´Brien) e Lisa (Margot Stilley), ele inglês, ela americana, desenvolvem intensa atividade sexual, e eventualmente de cocaína, em Londres, no verão de 2003. O equívoco de Michael Winterbottom não é o de mostrar cenas sexuais explícitas, pois isso qualquer diretor de filme pornô faz muito melhor que ele, mas sim o de não aprofundar psicologicamente a sua dupla de personagens. Tudo é superficial. Tudo é descartável. Percebe-se, então, a distância entre "O ÚLTIMO TANGO EM PARIS", de Bernardo Bertolucci (cujo tema é a sexualidade) e "9 CANÇÕES". Enquanto Bertolucci tinha Marlon Brando para dar uma dimensão psicológica ao tentar uma aproximação com a sua companheira sexual vivida por Maria Schneider no final de "ÚLTIMO TANGO EM PARIS", Winterbottom tem dois péssimos atores diante de si, além de dirigi-los muito mal. No quesito musical a coisa não melhora absolutamente nada. As 9 canções que intercalam as cenas de sexo, Franz Ferdinand, o grupo Dandy Warhols, entre outras figuras do rock inglês têm suas músicas exibidas. A cena do rock inglês atual é deprimente; dá até dó, principalmente dos ouvidos do espectador. A única exceção musical é o pianista e compositor de trilhas sonora, Michael Nyman. O objetivo de transformar relações sexuais explícitas em arte não foi atingido nem de longe. Ao invés de perder 70 minutos da sua vida assistindo a este filme pornô-chique, alugue "O IMPÉRIO DOS SENTIDOS", de Nagisa Oshima, para ver uma obra de arte verdadeira, que soma estética visual e roteiro apurados.