Chegando sem alarde no catálogo do Prime Video, A Avaliação logo chama atenção por seu elenco de peso, com Elizabeth Olsen, Alicia Vikander e Himesh Patel, e pela proposta ousada de explorar uma distopia com toques de ficção científica. A premissa inicial, instigante e provocadora, promete discutir questões como controle social, paternidade e os limites do governo sobre o corpo humano. A trama se passa em um futuro onde as pessoas não envelhecem, mas são obrigadas a passar por uma rigorosa avaliação de sete dias, decidindo seu futuro reprodutivo, o que abre portas para uma série de reflexões sobre a liberdade individual e a intimidade. Ao longo da narrativa, o filme mergulha em um conflito psicológico entre o casal protagonista, Mia e Aaryan, que, em meio à avaliação, enfrentam tensões e questionamentos sobre a maternidade e o relacionamento.
O roteiro, ao início, parece promissor. Sua introdução, repleta de cenas didáticas e bem construídas, faz um bom trabalho ao nos situar na realidade distópica e nas complexas relações que surgem entre Mia e Aaryan. À medida que a trama se desenvolve, o desconforto da avaliação se intensifica, e o filme começa a explorar não apenas as dinâmicas de um relacionamento, mas também os conflitos internos dos personagens e as consequências psicológicas de um governo que se intromete até nas decisões mais íntimas dos cidadãos. É um filme que te mantém no limite, com a tensão crescente entre os personagens e com a promessa de um desfecho impactante. No entanto, o filme perde força ao tentar abarcar uma gama excessiva de temas, deixando de lado uma exploração mais profunda de algumas de suas questões mais interessantes, como o próprio universo distópico que apenas vislumbramos, mas nunca experimentamos realmente. O roteiro opta por uma exposição excessiva no final, explicando demais o que poderia ser mais sutil, o que enfraquece o impacto emocional da conclusão e, por consequência, a força da narrativa.
O que realmente se destaca em A Avaliação, no entanto, é a direção de Fleur Fortuné, que, apesar de ser sua estreia em longas-metragens, consegue transitar com competência entre o minimalismo e a construção de uma atmosfera densa e sufocante. Vinda de uma carreira em videoclipes, Fleur imprime uma estética única no filme, com cenas que parecem saídas de diferentes universos visuais, mas sempre com uma sobriedade que evita exageros desnecessários. A direção de arte, somada à fotografia refinada, contribui para criar um ambiente imersivo, em que a sensação de vigilância constante é palpável. A ambientação é um dos pontos mais fortes do filme, com um cenário que mistura a calma de um ambiente futurista com a tensão de um sistema opressor, onde até os atos mais privados são avaliados e julgados.
As atuações são outro destaque do filme. Alicia Vikander, que interpreta Virginia, a enigmática avaliadora, entrega uma performance multifacetada. Inicialmente, sua personagem parece uma figura fria, quase mecânica, mas conforme a trama se desenrola, sua história é revelada, e com isso, novos aspectos da personagem surgem, tornando-a muito mais complexa e humana do que aparentava. Sua versatilidade como atriz é evidente, especialmente nas cenas mais tensas, em que a frieza dá lugar a um desconforto visível. Elizabeth Olsen, por sua vez, não fica para trás. A atriz, já acostumada a filmes com um enfoque mais humano, se destaca pela naturalidade com que interpreta Mia, uma personagem marcada pela fragilidade e pela luta interna com os próprios sentimentos de maternidade e conformidade. O elenco é, sem dúvida, um dos pontos altos da produção, e ambos os protagonistas conseguem dar vida a personagens que, embora imersos em uma realidade distópica, transmitem emoções universais que ressoam com o público.
Em seu conjunto, A Avaliação é um filme que, apesar de sua premissa forte e sua direção segura, se perde ao tentar englobar demasiados temas sem aprofundar suficientemente nenhum deles. A questão do controle social e da manipulação do corpo humano, por exemplo, poderia ter sido mais bem explorada, assim como as implicações psicológicas do sistema distópico. O filme flerta com temas profundos, mas sua falta de sutileza no desfecho acaba por diminuir o impacto da obra, deixando uma sensação de frustração ao final. Fleur Fortuné, apesar de mostrar grande potencial como diretora, acaba sendo refém de um roteiro que não consegue equilibrar o que deveria ser uma narrativa instigante com a necessidade de explicação excessiva. O filme poderia ter sido mais impactante, mais provocador, se tivesse confiado mais em sua capacidade de sugerir do que de explicar.
No fim, A Avaliação é uma experiência que te mantém interessado, mas que, ao final, deixa um gosto amargo de oportunidades não aproveitadas. Mesmo com um elenco competente e uma direção promissora, o longa se perde em sua própria ambição, tornando-se um filme de ficção científica que não entrega o impacto que sua premissa inicial promete.