Jurassic World: Recomeço talvez seja o nome mais honesto que um reboot da franquia jurássica poderia ter. Anunciado três anos após o decepcionante "Jurassic World: Domínio", o novo longa chegou envolto em desconfiança e questionamentos. Afinal, o que mais havia para se contar em um universo tão explorado? A resposta veio com a escolha do diretor: Gareth Edwards. Conhecido por seu trabalho em "Rogue One" e, mais recentemente, pelo elogiado "A Resistência", Edwards tem um olhar apurado para o uso de efeitos visuais a serviço da narrativa. E em uma franquia onde dinossauros convivem com humanos, essa competência técnica é essencial.
Edwards, que iniciou sua carreira como produtor de efeitos visuais, sabe exatamente como posicionar a câmera para valorizar ou disfarçar o CGI. Em "Recomeço", ele faz jus ao título e coloca os dinossauros de volta ao centro da narrativa. Seja pelo detalhamento da renderização ou pelo espaço que eles ganham nas cenas, os animais voltam a ser criaturas imponentes e fascinantes. Edwards os enquadra de maneira majestosa, ora como ameaças, ora como figuras quase mitológicas, como se estivesse redescobrindo a franquia pelo olhar do espanto.
O elenco também contribui para a boa experiência. Scarlett Johansson, Jonathan Bailey e Mahershala Ali entregam atuações comprometidas, mesmo quando a trama não exige grandes profundidades. A dinâmica entre o trio é natural e cria bons momentos de humor e tensão, sem cair no exagero. A narrativa, dividida em dois núcleos principais, tem seus altos e baixos. O grupo que busca o DNA dos dinossauros impulsiona a história com mais firmeza, enquanto o arco da família perdida na ilha funciona mais como recurso emocional e como instrumento de urgência para o clímax. Ainda que a ideia seja válida, a alternância entre os núcleos às vezes quebra o ritmo, principalmente quando o filme acelera nas sequências de ação e logo em seguida desacelera com cenas de desenvolvimento dramático.
Apesar de não reinventar a roda, o longa acerta em seus objetivos. O roteiro, ainda que genérico em alguns momentos, tem o mérito de resgatar elementos científicos que estavam em falta nas últimas produções. Há espaço para debates éticos, explicações técnicas e a sensação de maravilhamento científico que consagrou o "Jurassic Park" original. Além disso, o filme incorpora uma leve camada de terror, especialmente em cenas noturnas ou em ambientes fechados, evocando o suspense de "O Mundo Perdido: Jurassic Park".
A direção de Edwards é o grande diferencial. Ele consegue transformar três sequências de ação em momentos memoráveis, com ritmo e composição dignos de grandes blockbusters. A trilha sonora clássica da franquia reaparece com força, arrepiando nas horas certas e reforçando o tom de aventura e nostalgia. O uso dos efeitos visuais é pontual e assertivo, e é possível ver claramente o cuidado estético em cada plano.
Em seus tropeços, "Jurassic World: Recomeço" sofre por abarcar personagens demais. Algumas relações soam superficiais e certas motivações parecem apenas justificativas narrativas para mover a trama. Ainda assim, o saldo final é positivo. Edwards entrega um filme que não tenta ser maior do que a franquia, mas entende o que a fez icônica: o deslumbre diante do desconhecido, a tensão das caçadas e a reflexão sobre a relação entre humanos e natureza.
"Jurassic World: Recomeço" não é o melhor longa da franquia, mas consegue ser o mais equilibrado desde 2015. Resgata a grandiosidade dos dinossauros, apresenta sequências emocionantes e coloca um ponto final digno no ciclo de erros recentes da série. É um novo começo que merece ser celebrado.