Nia DaCosta vem se firmando como uma das diretoras mais promissoras da nova geração, e Hedda reforça essa impressão. O longa é uma reinterpretação da clássica peça Hedda Gabler, de Henrik Ibsen, publicada em 1891, agora revisitada sob um olhar moderno e instigante. Com Tessa Thompson no papel principal, acompanhada de Nina Hoss e Nicholas Pinnock, DaCosta apresenta uma história sobre poder, desejo e manipulação, conduzida por uma protagonista complexa, que vive presa entre as convenções sociais e suas próprias ambições.
Ainda assim, é inegável o talento e a coragem de Nia DaCosta. Adaptar uma peça do século XIX e transformá-la em uma narrativa atual é um desafio arriscado, e ela faz isso sem perder a essência da história. Sua direção é segura, sua visão estética é marcante, e sua capacidade de explorar o íntimo de suas personagens é o que dá vida a Hedda. Mesmo que o roteiro não mantenha o mesmo nível de força do início ao fim, há um cuidado evidente em cada detalhe — da construção do espaço à forma como os olhares se cruzam.
No fim das contas, Hedda é um filme sobre o aprisionamento. Não apenas o de uma mulher dentro de um casamento infeliz, mas o de alguém que tenta controlar o mundo ao redor e acaba sendo vítima de si mesma. DaCosta entrega uma obra que provoca reflexão, ainda que imperfeita. É um filme que começa com força, perde o fôlego no meio, mas termina de maneira marcante. O que fica é a imagem de uma mulher em conflito, uma diretora em amadurecimento e uma atriz em pleno domínio de seu ofício.
Em Hedda, Nia DaCosta reafirma sua voz autoral e seu olhar para o poder feminino — em toda a sua beleza, contradição e destruição. Mesmo sem alcançar o equilíbrio completo, o filme deixa claro que a diretora ainda tem muito a dizer. E se o caminho entre o início e o fim é irregular, o que existe entre esses extremos é, acima de tudo, humano.