A Fonte da Juventude chega como uma das grandes apostas da Apple TV+ para 2025, carregando nos ombros não apenas um orçamento generoso de cerca de 180 milhões de dólares, mas também o peso da assinatura de Guy Ritchie na direção e um elenco de peso formado por John Krasinski, Natalie Portman e Eiza González. A promessa era clara: entregar uma grande aventura com cara de blockbuster, repleta de ação, enigmas e aquela clássica busca pelo desconhecido. Mas o que deveria ser um épico moderno no estilo Indiana Jones acaba se revelando uma aventura genérica, arrastada e surpreendentemente sem alma.
A Apple vem tentando se consolidar no mercado cinematográfico com grandes produções, mas vem acumulando mais tropeços do que acertos. Filmes como Argylle, Napoleão e Lobos — este último sequer lançado nos cinemas — já apontavam para uma certa crise de identidade dentro do estúdio, que parece mais preocupado em parecer grandioso do que em entregar boas histórias. F1, estrelado por Brad Pitt, foi uma rara exceção recente, mas A Fonte da Juventude reforça que o problema é mais estrutural do que pontual. É um filme que tenta parecer maior do que realmente é, e que, ao invés de criar algo novo, prefere copiar fórmulas já desgastadas.
Guy Ritchie, diretor que já nos entregou ótimas experiências visuais com Sherlock Holmes e The Covenant, até tenta imprimir sua marca aqui. Algumas cenas apresentam ângulos diferentes, como a câmera presa nas costas de Krasinski durante uma perseguição de moto, tentando gerar a sensação de que o espectador está na garupa. Há também uso de slow motion e cortes secos característicos do cineasta. Mas, apesar das tentativas, nada disso é suficiente para trazer frescor às sequências de ação, que soam recicladas, previsíveis e, pior, sem impacto. A ação, que deveria ser o motor da aventura, é morna — e o estilo Ritchie aparece de forma tímida, quase como um elemento decorativo.
Narrativamente, o filme tenta emular o espírito de grandes jornadas cinematográficas. As referências são óbvias e assumidas: Indiana Jones, Tomb Raider, Uncharted. Há cenas que parecem retiradas diretamente dessas obras, mas sem o charme, a tensão ou a originalidade que as tornaram memoráveis. O problema não é beber da fonte (sem trocadilho) de outras franquias, mas fazê-lo sem personalidade, sem identidade. A história se desenvolve de maneira engessada, com pistas que surgem do nada, soluções mágicas e coincidências que exigem um grande pacto de suspensão de descrença por parte do público. E quando esse pacto é quebrado, tudo o que sobra é uma sucessão de cenas desconectadas e diálogos artificiais.
Falando nisso, os diálogos são um dos grandes pontos fracos do longa. Além de parecerem saídos de um rascunho inicial do roteiro, muitos soam inverossímeis e sem qualquer naturalidade. Os personagens, por vezes, se comportam mais como ferramentas de roteiro do que como figuras humanas. Quando surge um problema, invariavelmente alguém aparece com uma resposta mirabolante — e em em algumas delas, é uma criança prodígio, que resolve mistérios e quebra enigmas como se estivesse resolvendo um quebra-cabeça de 10 peças. O roteiro não apenas subestima o espectador, mas demonstra uma preguiça em trabalhar seus próprios conflitos.
A dinâmica entre John Krasinski e Natalie Portman até tenta sustentar o filme emocionalmente, com um certo desenvolvimento de relação entre seus personagens. Eles têm carisma e são atores experientes, mas são engolidos por um roteiro que se preocupa mais em se parecer com algo do que em ser algo. O restante do elenco é completamente descartável, servindo apenas como preenchimento de tela ou peça funcional para fazer a trama avançar. Em nenhum momento se cria uma conexão real com os coadjuvantes — todos estão ali apenas para servir ao propósito narrativo mais óbvio e genérico.
O terceiro ato é, sem dúvida, o ponto mais cansativo do filme. A chegada à tão esperada “fonte da juventude” deveria ser o ápice da narrativa, mas acaba sendo o ponto mais frustrante. Tudo se arrasta, o clímax parece interminável e o roteiro tropeça em soluções simplistas, previsíveis e emocionalmente rasas. É quase como se, depois de tanto tempo prometendo um grande espetáculo, o filme entregasse apenas um banho morno. A ideia de misturar arqueologia, misticismo e ação já demonstrou sua fragilidade em outras obras (alguém se lembra de Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal?), e aqui o resultado não é diferente — é tão caricato quanto inofensivo.
Em última análise, A Fonte da Juventude é um filme que aparenta ter todos os ingredientes de uma grande aventura, mas que falha em absolutamente tudo o que se propõe. Visualmente, pode até entregar momentos interessantes; mas falta alma, falta urgência, falta uma verdadeira motivação por trás de tudo. Guy Ritchie, que já mostrou personalidade em outros trabalhos, parece aqui domado por uma fórmula hollywoodiana padronizada — e nem mesmo a força de seus protagonistas salva o projeto da mediocridade.
O resultado é uma produção cara, repleta de potencial desperdiçado, que deixa no espectador uma única sensação ao final: a de que essa jornada poderia ter ficado guardada em um baú de ideias descartadas.