Alguns filmes encontram seu verdadeiro brilho na atuação de um intérprete que eleva toda a narrativa, tornando-a mais cativante e impactante. A Verdadeira Dor, dirigido e roteirizado por Jesse Eisenberg, é um desses casos. Embora o filme conte com um roteiro sensível e bem estruturado, são as camadas trazidas por Kieran Culkin que fazem desta obra um forte concorrente nas principais premiações do cinema. Desde sua estreia, o ator tem conquistado praticamente todos os prêmios da crítica e das grandes premiações, tornando-se o grande favorito ao Oscar de Melhor Ator Coadjuvante.
O longa aborda temas profundos como laços familiares, busca por identidade e, sobretudo, a pós-memória — conceito que define como os traumas históricos podem afetar gerações subsequentes. Ainda que os personagens centrais não tenham vivenciado diretamente o Holocausto, eles carregam as cicatrizes deixadas por um dos eventos mais brutais da história. No entanto, ao invés de apostar em um tom pesado e melodramático, Eisenberg escolhe um caminho mais leve, misturando humor e emoção para construir uma dramédia acessível e envolvente.
Essa abordagem faz com que A Verdadeira Dor se torne uma experiência singular. Eisenberg, que já demonstrou talento para criar narrativas introspectivas e repletas de diálogos afiados, acerta ao balancear momentos reflexivos com pitadas de comédia. Há cenas contemplativas e carregadas de significado, mas nunca de forma sufocante. O tom do filme permite que o espectador se conecte com a história sem sentir um peso emocional excessivo, tornando a experiência tão agradável quanto reflexiva.
O grande destaque, no entanto, é Kieran Culkin. O ator, que já havia demonstrado um domínio impressionante na transição entre humor e drama em Succession, entrega aqui uma performance que mescla ironia, espontaneidade e uma camada emocional inesperada. Seu personagem exala uma energia inquieta e sarcástica, mas, ao mesmo tempo, transmite uma vulnerabilidade que se torna ainda mais marcante nos momentos de maior introspecção. A dinâmica entre Culkin e Eisenberg também merece elogios, com os dois estabelecendo uma relação que reflete perfeitamente o contraste entre seus personagens. Enquanto Eisenberg traz sua característica atuação meticulosa, sempre controlada e repleta de diálogos rápidos, Culkin se sobressai com um estilo mais solto e imprevisível, criando um equilíbrio cativante entre os dois.
A escolha de Eisenberg em manter a narrativa mais leve pode gerar algumas divergências. Há quem argumente que o filme poderia ter explorado mais o peso dramático da história, mas essa decisão se mostra acertada dentro da proposta da obra. Em momentos mais sérios, há tentativas de inserir monólogos mais carregados emocionalmente, que por vezes quebram um pouco o ritmo do filme. No entanto, o humor serve como um contrapeso necessário, impedindo que a narrativa se torne excessivamente densa.
Quando a carga dramática surge, o impacto é ainda maior justamente por conta dessa leveza predominante. Culkin, que passa grande parte do filme com seu tom sarcástico e despreocupado, entrega algumas das cenas mais comoventes quando precisa abandonar essa máscara e encarar a profundidade do tema central. Esse contraste é essencial para a força da narrativa, tornando sua performance ainda mais impressionante.
No fim das contas, A Verdadeira Dor se revela um filme reconfortante e autêntico, conduzido com sensibilidade por Jesse Eisenberg e elevado a outro nível pela performance brilhante de Kieran Culkin. A combinação entre um roteiro bem escrito e atuações inspiradas torna a obra um dos destaques da temporada, especialmente no que diz respeito à categoria de Melhor Ator Coadjuvante, onde Culkin já desponta como o grande favorito. Com mensagens poderosas sobre luto, memória e conexões familiares, A Verdadeira Dor é uma dramédia envolvente que emociona e diverte na medida certa, provando que, muitas vezes, as histórias mais impactantes são aquelas que encontram equilíbrio entre o riso e a emoção.