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Enviada em 16 de julho de 2025
O Crítico é o novo longa estrelado por Ian McKellen e Gemma Arterton, com direção de Anand Tucker e roteiro de Patrick Marber. O filme se passa na Londres dos anos 30, período em que a cidade vivia sob leis anti-LGBTQ+, com tensões raciais crescentes e um fascismo emergente que já moldava o clima político e social da época. É nesse contexto que acompanhamos Jimmy Erskine, um crítico de teatro que vê sua posição no jornal onde trabalha ameaçada por uma mudança na chefia editorial. E, para manter sua influência e seu estilo de vida refinado, ele está disposto a ir longe — ainda que isso envolva chantagens, ameaças e manipulação.

A atuação de Ian McKellen é, sem dúvida, o grande pilar do filme. Aos 85 anos, ele mostra que segue em plena forma. Interpreta Jimmy com uma vitalidade impressionante. É um personagem que exige camadas — um homem refinado, sarcástico, egocêntrico, sedutor quando convém e cruel quando necessário. E McKellen entrega tudo isso com um domínio de cena absurdo. O curioso é que o papel originalmente seria de Colin Firth, mas foi reescrito sob medida para McKellen. E foi uma decisão certeira. O ator empresta à figura de Erskine um tom que mistura deboche, elegância e uma vulnerabilidade que vai surgindo aos poucos.

É interessante ver como a presença de McKellen torna o personagem magnético, mesmo quando ele toma decisões moralmente duvidosas. Em muitos momentos, você não gosta de Jimmy, mas não consegue desgrudar dele. A performance é tão rica que a gente continua acompanhando, mesmo questionando as atitudes. O próprio ator comentou que não precisou de muito para mergulhar no personagem, já que interpreta um homem gay reprimido, numa época hostil, e que segundo ele, bastava apenas colocar “tudo pra fora”. Essa declaração explica bem o grau de entrega e intimidade que McKellen conseguiu trazer ao papel.

O filme, como um todo, é envolto naquela sutileza londrina característica — fria, elegante, contida. O design de produção merece elogios: figurinos, iluminação e direção de arte nos transportam diretamente para os anos 30, de forma quase invisível, mas muito eficiente. E esse clima combina perfeitamente com a proposta da trama, que é a de um thriller com toques dramáticos e uma pitada sutil de humor ácido. Anand Tucker conduz a história com leveza — mesmo tratando de temas como manipulação, ambição, chantagens e ameaças, ele nunca pesa demais a mão. Há um cuidado constante em manter a tensão sem transformar o filme em algo sombrio ou excessivamente denso.

Grande parte do mérito disso está no roteiro. Marber constrói a narrativa como uma teia. Cada personagem é apresentado com calma, cada relação é estabelecida com precisão. A trama parece, em um primeiro momento, até omissa, sem grandes eventos ou reviravoltas. Mas aos poucos, percebemos que tudo está sendo montado com intenção. Os personagens vão se cruzando, mesmo quando aparentemente não se conhecem. E a direção reforça isso: eles dividem o mesmo espaço, aparecem ao fundo, estão sempre no mesmo cenário. E quando o clímax chega, todas essas conexões começam a fazer sentido. As revelações são impactantes, não apenas pelo que mostram, mas porque o roteiro já vinha sinalizando de forma sutil. Nada é gratuito.

E isso funciona muito bem até certo ponto. Porque, apesar de todo esse cuidado na construção da trama e das relações, o filme sofre com uma transição de tom que é bastante sentida. Após a grande virada na narrativa, o longa sai do terreno do thriller e entra num drama que às vezes parece forçado. A mudança de atmosfera não é feita de forma orgânica. É como se o filme mudasse de gênero sem nos preparar. E logo em seguida, o desfecho chega com um ritmo acelerado demais. A sensação é de que o filme, que vinha cozinhando tudo em fogo baixo, de repente corre para acabar — sem permitir que o público processe o impacto das revelações ou acompanhe as consequências das ações dos personagens.

Esse desequilíbrio no ritmo pesa. Os dois primeiros atos são bem construídos, cheios de sutileza, com diálogos afiados e personagens densos. Mas o terceiro ato, que deveria ser a coroação disso tudo, acaba soando apressado, quase como se houvesse uma necessidade de encerrar antes de errar. E ironicamente, é essa pressa que faz com que o filme tropece. A tensão que vinha sendo cuidadosamente construída se dilui. As consequências esperadas se resolvem rápido demais. E o impacto do clímax se perde no meio da urgência em encerrar a história.

Ainda assim, O Crítico é um filme que merece ser visto. Pela ambientação impecável, pelo roteiro engenhoso e, principalmente, pelas atuações. Além de McKellen, Gemma Arterton está muito bem, e Mark Strong entrega uma presença marcante, ainda que com menos tempo de tela.

Em resumo, O Crítico tinha tudo para ser um dos grandes filmes da carreira de Anand Tucker. E em vários momentos, quase é. Mas acaba tropeçando por não saber sustentar o equilíbrio entre os tons e, principalmente, por entregar um final que corre mais do que deveria. Ainda assim, é uma obra relevante, com bons diálogos, ótimos personagens e uma atuação que só reforça o quão gigante é Ian McKellen. O filme vale a pena — mas quando os créditos sobem, é difícil não sentir que algo mais profundo poderia ter sido alcançado.
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