Smurfs (2025) é o novo filme animado da franquia, que estava sem lançar um longa-metragem desde 2017. Aqui temos, mais uma vez, um estúdio apostando em um reboot — e, coincidentemente, no mesmo dia da estreia deste longa, tivemos outra franquia sendo reiniciada: Eu Sei o Que Vocês Fizeram no Verão Passado.
Para comandar essa revitalização dos Smurfs, foram chamados o diretor Chris Miller, indicado ao Oscar pela animação Gato de Botas (2011) e também responsável por Shrek Terceiro. Ao seu lado está o roteirista Pam Brady, cujo maior destaque na carreira é a série South Park, mas que não tem grandes créditos além disso.
A intenção da Paramount aqui é muito clara: tentar fazer com que outra franquia dê certo, como aconteceu com Sonic. Mas eu considero que o tom adotado para esse reboot é excessivamente apelativo para o público infantil.
Fica evidente que o alvo da Paramount são as crianças, mas a forma como o filme se comunica com esse público soa, por muitas vezes, exagerada. O uso excessivo de cores vibrantes torna o filme visualmente cansativo. Inicialmente, a proposta de utilizar cenários de fundo em 2D com personagens em 3D até traz um tom diferente para a franquia — e essa era, de fato, a ideia inicial do projeto —, mas essas escolhas estéticas, somadas à saturação extrema das cores, mostram-se como um recurso visual para fisgar a atenção das crianças, mesmo que isso torne a experiência exaustiva ao longo da projeção.
A proposta de revitalizar a franquia fica apenas no papel, já que nem a própria trama sustenta isso. A ideia de apresentar um Smurf sem identidade e sem propósito, em teoria, abriria espaço para explorar diversos temas. No entanto, essa temática é apenas estabelecida no início, sendo completamente deixada de lado ao longo da história, e só retorna no desfecho como tentativa de transmitir uma mensagem de autoconhecimento e pertencimento — a ideia de que todos têm sua importância e, mesmo que demore, você eventualmente encontrará seu propósito. Seria uma mensagem poderosa se tivesse sido desenvolvida de forma consistente durante a narrativa, o que não é o caso aqui.
O elenco numeroso também se torna um problema para o desenvolvimento da trama, já que em nenhum momento conseguimos criar vínculo ou interesse real pelos personagens. O grupo principal já é grande — composto por mais de quatro Smurfs —, e ainda temos inúmeros coadjuvantes, dois antagonistas (cada um com seus próprios capangas), além de uma mitologia envolvendo poderes e os Smurfs como guardiões de um certo artefato. Tudo isso é condensado e apressado em apenas 1h30 de filme, resultando em uma narrativa rasa e personagens completamente superficiais.
E aqui entra o grande trunfo de marketing da Paramount: Rihanna, que dubla a Smurfette. Com isso, era de se esperar que o filme tomasse o rumo de um musical ou, pelo menos, que entregasse canções marcantes. Mas nem isso acontece. A trilha sonora passa por uma renovação, sim, com a presença de artistas como Cardi B, DJ Khaled e até mesmo da Rihanna, mas nada realmente memorável ou que tenha impacto na narrativa. Temos, no máximo, duas canções ao longo do filme — e a mais destacada nem conta com a participação de Rihanna. Por isso, o filme nem pode ser considerado um musical. E ainda bem, porque imaginar cenas musicais, um elenco inchado e personagens não desenvolvidos, tudo isso dentro de um filme de apenas uma hora e meia, seria ainda mais caótico.
Em resumo, Smurfs (2025) demonstra um certo esgotamento criativo, e somente em boas mãos, com uma visão mais ousada e autoral, a franquia poderia ganhar novo fôlego. Fora isso, continuaremos a ver filmes repetitivos, excessivamente infantis e cansativos, que propõem temas interessantes, mas não se preocupam em desenvolvê-los de forma natural. Tudo neste novo Smurfs soa artificial e caricato — até mesmo a animação, que deveria ser o grande diferencial do projeto, não se destaca, seja pelo estilo adotado, seja pela paleta de cores saturadas e exageradamente coloridas. Podemos considerar Smurfs (2025) uma das piores animações do ano e uma das mais fracas de toda a franquia.