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    Opera
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    Kamila A.
    Kamila A.

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    3,0
    Enviada em 21 de abril de 2021
    Este curta-metragem é uma daquelas obras que será necessário assistir várias vezes, de forma a podermos absorver cada ideia apresentada. Por meio de uma grande pirâmide, vemos diversos momentos da humanidade serem representados - relacionados à revolução industrial, à religião, à violência, às relações políticas e sociais. Uma obra engenhosa e interessante!
    Vanessa Cury
    Vanessa Cury

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    5,0
    Enviada em 25 de abril de 2021
    A Harmonia da Desigualdade em Opera
    Por Vanessa e Bruno Cury, em 24 de abril de 2021

    Intrigados. É assim que podemos descrever nosso sentimento ao terminar os oito minutos e meio do curta de animação Opera (2020), indicado ao Oscar deste ano nessa categoria. Apostando fortemente que esta é superior às suas concorrentes e com um alto índice de levar a estatueta, resolvemos tecer algumas considerações e reflexões sobre essa impactante produção.

    Dirigido e produzido pelo coreano Erick Oh – que trabalhou por seis anos na Pixar e foi responsável por animações como Divertida Mente (2015) e Procurando Dory (2016) -, Opera é uma reflexão de grande escala sobre o ciclo natural da humanidade e da sua essência. Para criar a obra, o diretor se inspirou em grandes nomes do período do Renascimento, como Michelângelo (e seu mural “Gênesis”) e Boticelli. Oh também estudou como a história vem se repetindo e as principais situações que levam à ambição e a subsequente divisão de classes.
    O curta foi feito em um só plano e demorou quatro anos para ser produzido. Cerca de trinta e quatro profissionais criaram a sequência composta de vinte e quatro pequenas estruturas em forma de uma pirâmide, que é mostrada em uma ação contínua. “Dar vida ao Opera foi como fazer um relógio”, Oh explica, em entrevista aos sites AWN.com (21/08/20) e Variety (09/03/21). “Cada elemento está delicadamente conectado com o seguinte. Ações e consequências se interagem o tempo todo em um tipo de laço contínuo, mostrando o ciclo vicioso da humanidade e da história”. No próprio logo da animação podemos observar a mesmo formato dos incansáveis bonequinhos que observamos atentamente enquanto nossos olhos tentam acompanhar, atentos e também desorientados, a continuidade de um segmento ao outro.
    A animação começa e termina sem absolutamente nenhum diálogo, acompanhada de uma perturbadora trilha sonora. À medida que nossos olhos tentam alcançar (é impossível captar tudo vendo uma só vez) a descida da pirâmide, somos atravessados por uma enxurrada de cenas, que retratam lados dos seres humanos que infelizmente nos soam bem comuns e familiares. A desigualdade social é tão explícita na película que chega a ser harmônica. Todos os eventos que se passam dentro da pirâmide fazem parte de um ciclo que se repete sem fim e sem qualquer possibiliddae de ser mudado.

    Erick Oh trata de temas como racismo, terrorismo, tortura, educação, guerra, vida, morte e privilégios de uma maneira brilhante, todos interconectados dentro da pirâmide. Em uma dessas estruturas, há prisioneiros que recebem sentenças de morte simplesmente porque são diferentes de alguma maneira (eles têm cabeças coloridas que representam diversidade étnica, política, religiosa, etc). Essa cena retrata claramente todo tipo de discriminação sempre presente em nossas sociedades e culturas. O impacto é, dentre outras coisas, assistir à tantas atrocidades simultaneamente.
    Dualidade é uma marca forte da animação. Isso pode ser observado na diferença das cores de um lado e do outro da pirâmide. O lado esquerdo apresenta tons marrons e avermelhados, relacionados à atividade da mineração e também a do prazer e da luxúria (mostrados nos quadros que ilustram um bordel). Já o lado direito, é de um gélido tom de azul, que representa a indústria da pesca, o trabalho escravo, pessoas enjauladas e sendo tratadas como animais – ou seja, a frieza e a indiferença do ser humano.
    Oh também explora o abuso dos recursos naturais através de um peixe gigante que fica do lado direito da tela. Durante o dia, as pessoas comem dele e extraem sua carne para ser comercializada; mas, à noite, quando a guerra domina o cenário, o peixe sai de dentro do lago e come as mesmas pessoas que o estavam devorando antes. “Quis mostrar que a Mãe Natureza está sendo machucada e prejudicada quando passamos dos limites”, diz o diretor. Quanto mais baixa a estrutura da pirâmide, mais a situação piora. As diferenças sociais se agravam e ficam mais evidentes.
    Para não dizer que as imagens são totalmente negativas, ou que focam nos aspectos mais sombrios do ser humano, notamos com curiosidade algumas cenas onde sentimos alegria e até mesmo esperança. Uma delas mostra duas pessoas sentadas frente a frente e com linhas emboladas entre elas. Mesmo com dificuldade, um coração sai da boca de uma, contorna o emaranhado e chega até a outra. Seria o esforço do amor para se fazer presente em meio à tanta confusão e desordem?
    Opera é um filme intrigante, bastante realista e profundamente humano. Não é um filme convencional. Extremamente detalhado e complexo, a obra procede como se fosse uma pintura viva, um mural de Michelângelo, feita como se fosse um convite a questionar os mecanismos da nossa sociedade e o comportamento humano ao longo da história. “É um filme atemporal, que foi feito para ser interpretado e comentado de várias maneiras”, acrescenta Oh. Nos envolve por completo. Sentimos uma mistura de raiva, indignação, desespero, alegria e esperança em tão pouco tempo. Mesmo revendo à essa animação brilhante inúmeras vezes, podemos afirmar que ainda assim, há muitos detalhes a serem descobertos nessa pirâmide hierárquica.
    São obras assim que nos fazem continuar assistindo a filmes, curtas e documentários, sempre que podemos. Ainda que não estejamos sendo tocados de uma forma tão profunda pela grande maioria dos filmes (presos aos servicos de streamings e distantes das salas de cinema), algo tão singular como Opera é que nos faz permanecer ligados e fiéis à Sétima Arte – mesmo com a avalanche infeliz de remakes e continuações que tomam conta de Hollywood há anos.

    Nota: Excelente (5 estrelas)
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