Após mais de cinco anos de espera e muitos obstáculos no caminho, a sequência de The Old Guard finalmente chegou ao catálogo da Netflix. A expectativa que se construiu em torno do projeto acabou ofuscada pelos bastidores conturbados: incêndios no set de gravações, as greves de roteiristas e atores em Hollywood, e mudanças criativas exigidas por executivos da Netflix. O resultado? Um filme que reflete exatamente esses problemas, com uma narrativa inconsistente, personagens desmotivados e um roteiro mais preocupado em preparar um possível terceiro filme do que contar uma boa história agora.
Diferente do primeiro filme, que contava com a direção sólida de Gina Prince-Bythewood — que mais tarde provaria sua habilidade em cenas de ação com A Mulher Rei —, aqui temos Victoria Mahoney, com experiência limitada na direção de episódios de séries como Suits . e The Morning Show, mas sem qualquer bagagem em grandes produções de ação. Essa troca pesa demais no corte final. Mahoney até tenta imprimir ritmo e coerência nas sequências, mas esbarra em cortes excessivos, lutas picotadas e uma condução dramática que falha em sustentar qualquer tensão real.
O que mais incomoda em The Old Guard 2 é a falta de foco e o excesso de retcons. O roteiro parece não confiar no que foi apresentado no primeiro filme, e então cria uma nova lógica, forçando explicações e introduzindo elementos que jamais haviam sido sequer sugeridos. De repente, descobrimos que há mais imortais além dos que já conhecíamos, com a desculpa de que a personagem de Charlize Theron sempre soube, mas manteve segredo. Essa narrativa preguiçosa, que depende de revelações tiradas da cartola, enfraquece o universo que o primeiro filme se esforçou para construir. A mitologia, que poderia ser expandida de forma criativa, é usada apenas como ponte para um terceiro capítulo que pode nem acontecer, dada a recepção morna dessa sequência.
O elenco, que antes parecia ter química e entrega, agora parece apenas cumprir tabela. Charlize Theron continua sendo o nome mais forte do projeto, mas sua personagem é relegada ao segundo plano em vários momentos. É como se a alma da protagonista estivesse presente, mas confinada a uma trama que não permite seu brilho. Uma Thurman, introduzida como antagonista, também é um desperdício de talento: pouco tempo em cena, sem desenvolvimento e sem peso dramático. O restante do grupo, que antes representava uma espécie de irmandade, agora parece um conjunto de figurantes, inseridos na história mais por obrigação contratual do que por importância narrativa.
Visualmente, o filme até tenta manter a identidade do anterior, mas o excesso de refilmagens e a inconsistência tonal denunciam a interferência de bastidores. Há uma clara hesitação entre o que os roteiristas queriam contar e o que os executivos da Netflix permitiram que fosse contado. O que poderia ser uma sequência ousada e esclarecedora se torna uma produção confusa, repleta de atalhos narrativos, exposições desnecessárias e diálogos sem alma.
É difícil entender como uma sequência de um filme que foi tão bem-sucedido em 2020 tenha sido tratada com tamanha negligência criativa. The Old Guard 2 não só falha como continuação, como também compromete o futuro da franquia. Ao invés de oferecer uma história completa e satisfatória, o longa aposta todas as suas fichas em um terceiro capítulo que, diante da recepção morna, pode nunca ver a luz do dia.
Em resumo, The Old Guard 2 é um claro exemplo de como decisões apressadas e interferências externas podem arruinar o potencial de uma história promissora. Um roteiro frágil, direção inexperiente, elenco desperdiçado e um excesso de promessas não cumpridas transformam essa sequência em uma experiência frustrante para quem esperava, no mínimo, um pouco mais de respeito pela obra original.