Eu saí da sessão de Coringa: Delírio a Dois com uma sensação que poucas vezes senti no cinema: desgosto absoluto. Não me entenda mal, eu sou fã de filmes ousados e de interpretações arriscadas, mas o que testemunhei foi nada menos que um exercício de narcisismo pretensioso por parte do diretor e uma falta de compreensão profunda do que realmente fez o Coringa de 2019 um sucesso.
Primeiramente, o roteiro é um desastre. Tenta emular a intensidade psicológica do filme original, mas acaba se perdendo em uma série de metáforas baratas e de simbolismos que não levam a lugar nenhum. A narrativa não flui; ao contrário, tropeça em si mesma enquanto tenta (sem sucesso) ser "mais profunda" do que realmente é. Parece que o filme se encanta tanto com a ideia de ser "arte" que esquece o básico: contar uma história envolvente e coerente.
O diretor, que claramente se acha um gênio incompreendido, nos submete a uma estética que parece existir apenas para chocar, mas sem propósito algum. As cenas são longas demais, mal editadas, e muitas vezes sem relevância narrativa. Parece que ele se esqueceu de que o choque, por si só, não é arte – e é exatamente isso que ele tenta vender aqui. Um festival de estranheza gratuita e fetichização do sofrimento. O que deveria ser um retrato visceral da loucura se torna, ao invés disso, uma caricatura grotesca. A direção de arte parece uma colagem de referências sem coesão – quase como se tivessem pegado o que sobrou do figurino de outros filmes sem pensar duas vezes.
As atuações, especialmente a do protagonista, são exageradas ao ponto de serem quase cômicas. O que no filme original foi um estudo meticuloso de um homem caindo na insanidade, aqui parece uma interpretação forçada, sem sutileza. A todo momento, os atores parecem desesperados para ganhar aplausos, jogando a nuance pela janela em troca de gritos e gesticulações excessivas. O diretor claramente não tem controle sobre o elenco, permitindo que cada um exagere na própria intensidade de forma descoordenada.
E sobre a trilha sonora? Um insulto ao espectador. Tentando, sem sucesso, imitar a crueza do violoncelo do filme anterior, aqui temos uma trilha que não apenas é repetitiva, mas também estridente, sufocando qualquer momento de possível introspecção. A trilha não serve à narrativa; ao invés disso, se torna uma distração dolorosa.
Eu gostaria de poder dizer que há algo redentor no filme, mas, honestamente, há muito pouco. Talvez uma ou outra cena isolada tenha algum valor visual, mas nada que consiga mascarar a verdadeira falha central de Coringa: Delírio a Dois: uma total e absoluta falta de respeito pelo público. O diretor está tão preocupado em parecer subversivo que esquece de oferecer qualquer substância. É como se estivéssemos assistindo a um adolescente rebelde tentando chocar os pais, mas sem a maturidade de realmente entender o impacto de suas ações.
Esse filme não só falha em capturar a essência do personagem Coringa, como também representa uma regressão em termos de narrativa cinematográfica. O que poderia ter sido um retrato perturbador e profundo de um vilão icônico se torna um exercício vazio de vaidade artística. Uma verdadeira perda de tempo e, francamente, um insulto a quem esperava algo digno da grandeza do primeiro filme.