Tanto no cinema quanto na vida real, os protagonistas de Rosa e Momo são muito diferentes no que diz respeito à idade e fama. Contudo, essa diferença é praticamente impossível de se notar em relação à qualidade da ótima atuação de cada um dos dois.
Inspirado em um romance escrito por Romain Gary, intitulado “A vida pela frente”, a obra é a segunda adaptação cinematográfica do livro e a primeira interpretação da atriz Sophia Loren em muitos anos.
Sophia Loren é uma renomada atriz italiana, ganhadora de um prêmio Oscar pela sua carreira rica em performances memoráveis. A estrela do cinema interpreta Madame Rosa, uma senhora idosa que atuou na prostituição para se sustentar, e agora, em sua própria casa, cuida das crianças de outras mulheres que não tem com quem deixar os filhos.
Além dessa longa e já difícil jornada, Madame Rosa enfrentou, em sua juventude, um dos maiores crimes cometidos contra humanidade, o Holocausto.
Como uma sobrevivente judia do Holocausto, Madame Rosa tem poucos preconceitos em sua vida. Ainda assim, se faz muito relutante, no início, em prometer aceitar a estadia de Momo, interpretado pelo jovem Ibrahima Gueye.
Ibrahima é um estreante em produções cinematográficas, porém, detentor de um enorme carisma digno de quem já é profissional no ramo. No papel de Momo, um jovem mulçumano refugiado do Senegal que vive pelas ruas Itália, o rapaz está sob os cuidados de um médico sem condições de continuar acolhendo-o.
Após roubar e empurrar a senhora, Madame Rosa, o jovem Momo nem imagina que é ela quem Dr. Cohen, o médico que o acolhe, irá, com sucesso, tentar convencer a receber o jovem enquanto um novo abrigo e responsáveis são buscados.
Em uma promessa movida a compensações financeiras para os cuidados do rapaz, Dr. Cohen firma a aceitação dos serviços por parte de Madame Rosa.
Nessa abrupta união de figuras tão divergentes está o foco, os pontos positivos e negativos do roteiro.
Em uma obra sobre o difícil e progressivo relacionamento entre um menino de rua cheio de energia e uma idosa sobrevivente do Holocausto, a produção dá pouca ênfase a cada um desses temas. Em um único momento da trama, detalhes emocionantes, porém, rasos do horror enfrentado por Madame Rosa são expostos, e Momo, nesse momento, parece nem saber do que o período se trata.
Ainda tendo como objetivo principal a criação de afinidade e laços de afeto entre as duas figuras, o desenvolvimento das cenas não contribuiu o suficiente para reforçar com sutileza essa difícil tarefa entre os personagens. Em 1 hora e 34 minutos, o filme parece correr ou ser editado de tal forma que, em uma cena, o desafeto entre os protagonistas seja expressivo, e logo na outra, uma relação forçada de empatia e aceitação surja unindo os personagens.
Esse breve clichê cinematográfico reduz o que poderia ser uma excelente produção. Contudo, não a reduz o suficiente para nos impedir de sentir e solidarizar com a situação dos envolvidos.
Com deteriorações no estado de saúde de Madame Rosa, o triste pacto selado entre os novos amigos acarreta impactantes e inusitadas jornadas para o cumprimento da promessa e para a tentativa de manter permanente a vida e o carinho experimentado pelos dois.
Rosa e Momo falha em convergir de maneira natural para o início da amizade entre seus personagens tão distintos, mas nem por isso deixa de acertar na continuidade do desenvolvimento dessa relação. Da mesma forma, essa bela produção falha muito menos no ar elegante e carismático de suas interpretações, se não dizendo que é impecável nesse fato.