Depois de atrasos causados pelas greves de Hollywood em 2023 e da mudança no título — que abandonou o “Parte Dois” para assumir o mais apelativo O Acerto Final —, o oitavo capítulo da franquia Missão: Impossível chega aos cinemas com a promessa de um desfecho épico. E mesmo que o longa tente vender a ideia de um encerramento definitivo, é difícil acreditar que essa seja a última missão de Ethan Hunt. O próprio filme deixa brechas suficientes para um possível retorno, caso Tom Cruise e a Paramount queiram seguir em frente. Ainda assim, há aqui um esforço em criar um sentimento de conclusão: personagens retornam, despedidas são feitas e há até um tom nostálgico que permeia boa parte da narrativa. O problema é que, apesar das intenções, O Acerto Final mostra com clareza que a franquia chegou ao limite da sua criatividade.
Com um orçamento inflado de aproximadamente 400 milhões de dólares, o filme investe alto, mas entrega pouco em termos de inovação. A história continua exatamente de onde parou o longa anterior, com Ethan e sua equipe em busca do código que controla a Entidade — uma inteligência artificial que ameaça dominar sistemas globais e provocar o colapso geopolítico. A premissa, embora contemporânea e promissora, é mal aproveitada. A ideia de uma IA capaz de manipular informações, criar fake news e desestabilizar nações poderia render um vilão aterrorizante e moderno, mas tudo isso fica na superfície. A Entidade nunca se impõe como ameaça real, e sua presença digital enfraquece o senso de urgência. Para compensar, o roteiro introduz Gabriel (Esai Morales), um antagonista humano que deveria representar fisicamente esse perigo... mas falha. É, com folga, um dos vilões mais apagados e caricatos da série.
Outro grande problema do filme está em seu primeiro ato, que beira o caótico, tanto em narrativa quanto em montagem. São quase 40 minutos dominados por flashbacks — alguns em cima de outros —, a ponto de comprometer a fluidez da trama. A tentativa de recapitular os eventos anteriores, especialmente do sétimo filme, transforma esse início numa espécie de “manual” para quem não acompanhou a franquia, o que é um equívoco. Afinal, um encerramento dessa magnitude naturalmente deveria se dirigir aos fãs já familiarizados com os personagens e acontecimentos. A sensação é de um roteiro inseguro, que não confia na memória do público e recorre a artifícios preguiçosos para se situar. E essa escolha ainda pesa negativamente na duração do longa, que ultrapassa as duas horas e meia e poderia ser muito mais enxuto se tivesse mais confiança no espectador.
No entanto, apesar de um início arrastado e da fragilidade do vilão, o filme reencontra seu fôlego nas sequências de ação — que, como de costume na franquia, são espetaculares. A cena do submarino, por exemplo, é extremamente bem executada, oferecendo uma tensão claustrofóbica rara mesmo em blockbusters. Já a sequência com os aviões, mesmo um pouco esticada demais, mantém o espectador preso pela veracidade do que está sendo exibido, especialmente por sabermos que Tom Cruise realmente realizou boa parte daquelas manobras. Essas cenas não apenas salvam o filme da mediocridade, como o elevam a um patamar digno dentro da própria franquia, que sempre foi reconhecida pela excelência técnica de suas cenas de ação.
Ainda assim, não há como ignorar o desgaste. A estrutura da narrativa segue o velho padrão: Ethan precisa encontrar um objeto, vai ao ponto A; surge outro obstáculo, segue para o ponto B. A trama avança como um jogo de tabuleiro, sem surpresas, e o fator “urgência” — tão essencial em filmes de espionagem — se dilui diante de uma ameaça mal explorada e de personagens que parecem repetir arquétipos já exaustivamente utilizados.
No fim, O Acerto Final não é um desastre. Está longe disso. É visualmente grandioso, tem momentos de tirar o fôlego e oferece uma despedida relativamente digna ao legado de Ethan Hunt. Mas também é um reflexo do esgotamento da fórmula. A sensação que fica é a de que já vimos o melhor que essa franquia tinha a oferecer — e talvez seja mesmo hora de parar. Ou, pelo menos, dar um longo descanso.