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    Fúria Primitiva
    Críticas AdoroCinema
    3,5
    Bom
    Fúria Primitiva

    Dev Patel estreia na direção com jornada brutal de vingança em Fúria Primitiva

    por Katiúscia Vianna

    Deve ser muito difícil tirar um filme do papel. Principalmente, se é sua primeira vez assumindo a cadeira de direção. Agora imagina dirigir a si mesmo em sequências de ação frenéticas com luzes neon e uma mão machucada. O resultado é Fúria Primitiva, longa estrelado, comandado, escrito e produzido por Dev Patel - que prova, mais uma vez, não ser mais o jovem inocente de Quem Quer Ser um Milionário?.

    Crítica de Fúria Primitiva a parte, esse texto também surge com um apelo para Hollywood: Escalem Dev Patel para grandes produções! O moço tem o carisma necessário para ser galã e já provou diversas vezes seu talento nas telonas, principalmente no subestimado drama A Lenda do Cavaleiro Verde. E dá pra ver que o ator tem vontade de trabalhar, pois ele arrisca todas as suas apostas nesse longa brutal.

    Qual é a história de Fúria Primitiva?

    Diamond Films

    Monkey Man (no original) acompanha a história de um jovem chamado apenas de Kid (Dev Patel), cujo trabalho é apanhar todas as noites num clube de luta clandestino, usando uma máscara de macaco para esconder sua identidade. Mas tudo isso é apenas uma forma de ganhar dinheiro, enquanto planeja sua grande vingança contra as autoridades responsáveis pela morte de sua mãe.

    Para isso, ele se infiltra nos locais frequentados pela elite indiana, que vive num contraste extremo em comparação aos pobres cidadãos do país. Seu plano pode não ser o mais elaborado, mas Kid é determinado e contará com alguns pontos de suporte, enquanto faz uma jornada de autodescoberta e superação de traumas. Uma curiosidade é que a história se inspira numa lenda local: Hanuman, um ser mítico, semelhante a um macaco, que representa força e coragem.

    Originalmente, Fúria Primitiva ia ser lançado pela Netflix, mas o projeto acabou sendo abandonado e só chegou aos cinemas com um novo produtor: Jordan Peele, o diretor oscarizado de Corra!, Nós e Não! Não Olhe!.

    Fúria Primitiva é uma brutal história de vingança

    Quando Lin-Manuel Miranda fez sua estreia na direção com Tick, Tick… Boom!, o artista sempre falava que, se só tivesse a chance de fazer um filme na vida, faria de tudo para contar aquela determinada história [no caso, um musical sobre Jonathan Larson]. Esse sentimento é semelhante à determinação de Dev Patel em Fúria Primitiva. Existe algo muito passional nessa jornada, mas nada que torne o filme melancólico. Pelo contrário, ele carrega uma energia brutal.

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    Isso é presente não apenas nas cenas de luta, cujas coreografias são bem inventivas e energéticas, mas também em diversos outros aspectos do longa. Dev Patel sabe exatamente a mensagem que deseja passar e não dispensa recursos para isso, com closes ou enquadramentos que apresentam a confusão de Kid. Não são cortes refinados, pois o longa não tem tempo pra isso.

    Sem falar que Patel sabe o que o público quer ver. Sejam as cores neon que transformam seu personagem um pouco mais badass como John Wick, ou nas montagens de treinamento à la Rocky Balboa, e até mesmo em cenas que objetificam o seu próprio corpo - o que rende algumas reações bem engraçadas a esse filme no Letterboxd. Só que tudo isso, na realidade, são as ferramentas que ele usa para contar as verdadeiras mensagens de Monkey Man.

    Monkey Man esconde uma crítica social profunda

    Na realidade, Kid não é um assassino profissional. É apenas um jovem que vive atormentado pela morte da mãe e o caos que destruiu sua vida. Caos esse causado pela ganância e corrupção de autoridades que pisam e enganam as classes mais baixas da população. Figuras que fingem ser deuses na Terra, mas escondem lados sombrios. Isso não é uma realidade apenas na Índia, não é mesmo?

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    Mas Kid não percebe a dimensão de sua missão no início do filme, muito menos está preparado para isso. Com garra, sorte e habilidade, ele é orientado por uma comunidade hijra. Para quem não conhece, esse grupo se identifica com um “terceiro gênero” - sendo excluído da sociedade da mesma forma que a comunidade trans sofre preconceitos no mundo ocidental.

    Isso só prova como cada elemento do filme surge para ir além da jornada de vingança. Kid, seus inimigos, seus apoiadores… Tudo conta uma história muito maior sobre aquela faísca que pode acender uma revolução diante de um mundo de corrupção. Para isso, Patel se inspira nos diferentes mundos presentes na cultura indiana. Por um lado, temos a prática realidade de diferenças de classes e castas presentes na sociedade.

    Por outro lado, existem as lendárias histórias indianas, que traçam paralelos com a realidade. O próprio ator/diretor/produtor/roteirista já declarou que essa também é uma forma de expressar seu relacionamento com a religião e como essas lendas contadas por gerações merecem ser ouvidas por outros cantos desse mundo.

    Dev Patel demanda atenção de Hollywood com Fúria Primitiva

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    Sabe quando dizem que alguém roubou os holofotes? Dev Patel foi lá e pegou a força! Sem grandes discursos e poucos diálogos, ele trabalha muito com suas expressões faciais e movimentos corporais na conturbada jornada de Kid. Ele sabe a história que deseja contar, mas não é de forma egocêntrica. Kid é um personagem imperfeito, que se esconde atrás de uma máscara de macaco, pois não tem paz em seu coração. Mas, ao longo do filme, ele se torna “o escolhido” (como outro personagem o descreve).

    E durante todo o filme, eu ficava me questionando como ele fez para dirigir e estrelar essas sequências de ação ao mesmo tempo. Tem um momento onde Kid enfrenta dois caras num espaço confinado como um elevador, onde ele precisa coordenar a coreografia entre os atores e a câmera - uma briga que inclui, mas não se limita, a segurar uma faca com os dentes até cortar a garganta do inimigo. Fazer isso tudo na estreia como cineasta? É para poucos.

    Também é para poucos conseguir espaço para fazer um filme proibido para menores, com um elenco majoritariamente indiano (destaque para os atores Pitobash, Makrand Deshpande e Vipin Sharma), estrelado por alguém que ainda (infelizmente) não é uma celebridade tipo A em Hollywood. Mas Dev Patel conseguiu. Se isso não é vontade de trabalhar, eu não sei o que é.

    Por fim, fica o questionamento comum: Vale a pena ver Fúria Primitiva? Apesar de alguns clichês e a falta de sutileza, a estreia de Dev Patel na direção é uma divertida história de vingança - com humor em momentos inesperados, mas centrado em muita ação brutal. Tem uma história profunda de corrupção por trás, mas às vezes, você só deseja ver um cara bonito enfiando a porrada em todo mundo que aparece em seu caminho. E está tudo bem, temos isso aqui também.

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