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    Ana e Vitória
    Críticas AdoroCinema
    3,5
    Bom
    Ana e Vitória

    Um conto moderno

    por Francisco Russo

    Não é de hoje que ídolos da música transitam pelo cinema, muitas vezes tratado como mero veículo publicitário. À primeira vista, Ana e Vitória não foge à regra: a ideia é contar um pouco da origem do duo Anavitória, nascido no interior do Tocantins rumo ao sucesso através da internet, a partir do tom bem-humorado e espirituoso de suas protagonistas. Só que, muito habilmente, o diretor Matheus Souza vai além do convencional ao entregar um contundente painel dos relacionamentos modernos em uma geração que faz absolutamente tudo diante do celular. Bem-vindo aos millennials!

    Tal transição é feita de forma tão suave que, em vários momentos, o espectador é até mesmo capaz de esquecer que está diante de uma cinebiografia. A abertura em plano sequência em busca de Vitória logo leva ao encontro de Ana, que, com o violão em punho, se apresenta em uma festa no Rio de Janeiro. Distantes de sua cidade-natal, Ana e Vitória se aproximam de forma um tanto quanto canhestra, aos poucos entregando uma desenvoltura essencial ao desenrolar desta narrativa absolutamente plural. É no modo como lidam com os relacionamentos, uma em busca do amor de sua vida e outra apenas em se divertir naquele momento, que encontram a tão sonhada parceria.

    Diante de tal contraste, Ana e Vitória entrega não só uma visão aberta do mundo que as cerca, sem se submeter a estereótipos de afeto, como também um retrato íntimo de como esta geração se relaciona com a tecnologia. Com diálogos bastante espirituosos, o público é brindado com pérolas como o uso do Stories para atrair alguém para uma festa ou mesmo da aflição gerada pelo término de um relacionamento via WhatsApp. A sequência de uma festa onde todos, absolutamente todos, estão com o celular em punho é sintomática: mais que a dupla em foco, o filme busca o retrato de uma geração cujos sentimentos e atitudes giram em torno da imagem a ser construída, via redes sociais. O resto, é consequência.

    Para tanto, o diretor Matheus Souza explora com muita habilidade o carisma de suas protagonistas, de forma a contar uma história descolada que poderia muito bem acontecer em qualquer núcleo jovem de alguma grande metrópole. Meigas e fofíssimas, Ana e Vitória conquistam o espectador com sua sinceridade explícita aliada ao linguajar inusitado, que geram conversas nonsense tão divertidas quanto absurdas, como a chacina do formigueiro ou a camisinha idosa que não quer perder a validade. Isto em meio a um punhado de dúvidas e aflições decorrentes da busca pelo amor, tão universais quanto intrínsecas à juventude.

    Diante de tal proposta, o filme consegue driblar até mesmo a nítida falta de recursos financeiros, facilmente percebida pelo grande número de cenas em um mesmo ambiente e pelos saltos temporais existentes, sempre fugindo de externas. Há também um certo excesso na duração, que faz com que o filme se alongue mais que o necessário - uns 15 minutos a menos fariam bem à trama como um todo -, e a participação exageradíssima de Victor Lamoglia, como um dos peguetes de Vitória. Por outro lado, Clarissa Müller e Bryan Ruffo se destacam em meio a tantos coadjuvantes, justamente pelo tom espirituoso e orgânico de seus personagens.

    Agradável e envolvente, Ana e Vitória brilha justamente ao retratar os hábitos de uma novíssima geração que está ao redor, reagindo não só ao que lhe acontece como também à forma como são percebidas, seja pessoalmente ou online. Se o filme por vezes destoa por ter que retornar à questão institucional em torno da formação da dupla, especialmente a partir da presença de Bruce Gomlevsky como o produtor Felipe Simas, o desprendimento e a naturalidade das protagonistas compensam de longe tal situação. Bom filme, capaz de agradar quem jamais havia ouvido falar da dupla e, é claro, também aos seus fãs de carteirinha, pela quantidade (e qualidade) de situações envolvendo a trajetória das cantoras/atrizes.

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    Comentários

    • Neuza T
      Assisti o filme de peito aberto pq tenho minhas restrições a filme nacional, parece que vc está assistindo Globo, mas queria conhecer mais da dupla e confesso que gostei muito do filme e das músicas. É bom ver que ainda existem compositores na nova geração tratando do amor como ele deve ser tratado, com poesia e leveza. A música brasileira que toca nas rádios e TV, é um mar de sacanagem e dor de corno, show de horror. Sem falar que é tudo igual. Parabéns para as duas, inclusive por exporem suas vidas desta forma, além de um belo trabalho musical, com certeza estão ajudando a muita gente a se resolver. E parabéns ao diretor que soube conduzir o filme de uma forma leve e divertido. Quanto aos homofóbicos de plantão, só tenho a dizer que o mundo é assim e não vai mudar pq eles querem, portanto, respeite e vá ser feliz e deixe os outros serem felizes como bem quiserem. Não precisa assistir ou ouvir, escolha o que gosta e pronto, simples assim. Não seja agressivo em sua atitudes e palavras, isto não gerar nada de bom, a agressividade vai voltar para vc.
    • Neuza T
      Um tanto homofóbica a observação e se assistiu até o fim para formar tal opinião é pq estava interessada. ;-)
    • Marcelo Isoni
      Se esse filme for o retrato da nova geração, estamos perdidos.
    • Rodrigo Costa
      Só uma ressalva: *orientação sexual.
    • Guilherme Fell
      Que triste que existam pessoas que pensem assim ainda... o filme é lindo, fala sobre amor. Independente da opção sexual, o filme trata com tanto carinho que nem é perceptível a questão da opção..Desejo pra ti muito amor Cate...
    • Cate
      Pior filme que vi esse ano. Um bando de lésbicas e gays reunidos. Só fez ter uma péssima imagem da dupla. Sem pé nem cabeça!
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