Neste filme se chora muito, e por muitos motivos diferentes, todos eles ligado à nossa própria humanidade.
Choramos pelas situações vividas pela pequena Aretha, oprimida e usada pelo pai pastor, que perde a mãe aos 10 anos, é abusada e engravida aos 12 anos e aos 14 anos... Choramos pelas situações vividas pela jovem Aretha, que continua a ser usada e explorada pelo pai, a ser igualmente abusada e explorada pelo marido cafetão... Choramos pela batalha de Martin Luther King, que o levou à morte, sendo velado pela sublime voz de Aretha...
Mas, acima de tudo, choramos impactados, subjugados pela sublime beleza e força da música de Aretha!
Várias vezes durante o filme ela nos diz que "anda no Espírito".
Sempre AMEI a música negra estadunidense, e sempre adorei assistir os filmes biográficos sobre seus maiores expoentes, como Billie Holiday e Whitney Houston, MAS, foi só o filme sobre Aretha Franklin que finalmente me desvelou, colocou a nu o porque de tanta admiração, e até identificação.
Em primeiro lugar, não é despropositado que a música negra estadunidense comece com os "Spiritual" (ou seja, a música que vem ou que é inspirada pelo Espirito), que siga a sua evolução através do "Soul" (literalmente, "alma"), passando pelo "Blues" (triste, tristeza). A música nos traz todo o contexto histórico dos negros estadunidenses, desde que foram escravizados e souberam evocar o Espírito para, não apenas resistir, mas transcender a sua situação, empoderando-se, criando e reforçando a sua identidade, infinitamente mais coesa e estruturada que a dos estadunidenses brancos.
Também enxerguei, de uma maneira definitiva que a música negra tem um conteúdo, uma bagagem, carrega uma mensagem, que a música branca "comportadinha", oca e vazia, não tem!
No caso dos EUA, interessantes foram apenas os músicos brancos que subverteram a ordem e se aproximaram da negritude, "brancos de alma negra", como Elvis Presley e Janis Joplin!