O que aprendemos ao assistir "O Refúgio", filme dirigido e escrito por Sean Durkin, é que é muito difícil você viver de aparências, querendo ser algo que você não é. Por um momento, isso pode ser até divertido e dar um senso enebriante ao você perceber que as pessoas ficam impressionadas com os seus relatos. Porém, a verdade é que experienciar algo do tipo é ficar preso às suas próprias mentiras. Uma hora, o limite chegará e quem aparenta ser o que não é vai ter que enfrentar a realidade.
"O Refúgio" se passa em 1984 e acompanha Rory (Jude Law), sua esposa Allison (Carrie Coon) e os dois filhos (Oona Roche e Charlie Shotwell) do casal no momento em que a família decide se mudar da cidade de Nova York para Londres. O motivo da mudança é uma proposta de emprego que Rory, um especulador, que vive de transações financeiras com motivações escusas, recebe.
A mudança significa uma série de transformações na vida familiar. Eles passam a viver numa cidade do interior, em uma mansão quase saída de um filme de época. Os dois filhos começam a estudar em escolas prestigiadas. Porém, o que interessa de verdade a "O Refúgio" é o retrato dos silêncios e da solidão que acompanham esta mudança e como a dinâmica familiar vai se deteriorando em decorrência da sensação de ter que corresponder a essa expectativa de uma vida elegante e abastada - que, reforçamos, não corresponde à realidade.
A direção de Sean Durkin reforça esse clima de elegância e pompa que rodeia boa parte de "O Refúgio". Porém, o que chama mesmo a atenção no filme é a atuação de Carrie Coon. O declínio emocional de Allison e forma como a atriz nos retrata isso é a representação da mensagem principal que o longa quer nos passar. A cena em que Allison toca o foda-se para Rory e suas incongruências é uma das melhores que vi neste ano, no sentido da desconstrução que faz da personagem interpretada por Jude Law e toda a hipocrisia que ele representa.