O Homem nas Trevas 2 (Don't Breathe 2)
"O Homem nas Trevas 2" é dirigido por Rodo Sayagués (roteirista de A Morte do Demônio, de 2013) em sua estreia na direção, a partir de um roteiro que ele co-escreveu com Fede Álvarez (o diretor do primeiro filme, "O Homem nas Trevas" de 2016). O longa é um sequência direta do primeiro filme, sendo produzido por Fede Álvarez, Sam Raimi e Robert Tapert, e estrelado por Stephen Lang, reprisando seu papel como Norman Nordstrom / 'O Homem Cego'. A trama gira em torno da história de um homem cego que aterroriza invasores de sua casa. A sequência se passa 8 anos após a primeira invasão; quando Norman vive isolado em sua residência junto com Phoenix (Madelyn Grace), uma garota órfã que ele começou a cuidar após um incêndio.
Quando eu assisti ao primeiro filme eu realmente me impressionei com um um Thriller de terror, suspense, com uma ambientação sombria, macabra, claustrofóbica, que nos transmitia uma tensão, um medo, uma agonia, ou seja, "O Homem nas Trevas" realmente se destacou como um ótimo filme. Aqui temos uma sequência que aparentemente é desnecessária, mas como o primeiro filme deu muito certo e rendeu uma ótima bilheteria, seria mais do que esperado que eles fossem espremer toda a história até pingar a última gota, e dessa gota preparar uma grande jarra de suco, que não deu muito certo e ficou meio amargo.
"O Homem nas Trevas 2" até soube reaproveitar e reutilizar a fórmula do antecessor, mas em partes, pois temos dois atos distintos, um que funciona muito bem e o outro que não é muito bom.
O primeiro ato é a melhor parte de todo o filme, pois temos aquela perseguição dentro da casa, aquele jogo de gato e rato que deu muito certo no filme anterior, ou seja, temos novamente um jogo de sobrevivência vividos por Norman e Phoenix contra os invasores da sua casa. Nesse primeiro ato o diretor soube utilizar muito bem o clima de terror, suspense, nos imergir novamente em uma ambientação sombria, tensa, claustrofóbica, nos apresentar a violência das mortes brutais, que foi uma das principais características do primeiro filme.
Já no segundo ato é a parte que o filme cai muito de produção, deixando totalmente de lado o terror e o suspense para mergulhar de cabeça na ação. Este ato funciona como uma missão de resgate do Norman para encontrar a Phoenix, ou seja, é a parte mais inverossímil de toda a história (o filme inteiro já é inverossímil, mas esta parte é ainda pior), onde o ar desafiador da saga é perdido, falta originalidade, o roteiro peca em exagerar no drama e cria subtramas que diminuem totalmente toda a credibilidade de toda história já apresentada anteriormente. Nesse ato o diretor perde totalmente a mão ao mergulhar a história no clichê de filmes do mesmo gênero, que é apostar na ação desenfreada. Outro ponto: a troca de cenários e a forma como o Norman chega até lá compromete ainda mais toda a história. Aquela forma implacável e destruidora do Norman é bem difícil de engolir, que por mais que ele já fosse assim no primeiro filme, mas lá ele estava em seu ambiente, conhecia cada cômodo da sua casa, projetava armadilhas e sabia aonde localizá-las quando precisasse.
Outro erro que eu considero grotesco nesse segundo filme: a tentativa de redenção, de humanização, de criar uma espécie de herói para o Norman, que pra mim não desceu, não me convenceu. Pois de fato um dos maiores acertos no primeiro filme era exatamente nos expor personalidades dúbias, personagens que poderiam ser vistos como vilões, como antagonistas, pois ali ninguém era santo e todos carregavam a sua dose de culpa. Porém, aqui temos a tentativa de redenção, de descaracterização, de heroísmo, ao tentar colocar uma personalidade que já nos foi apresentada anteriormente como um assassino e estuprador - bola fora do roteiro!
Stephen Lang (o inesquecível Coronel Miles Quaritch de Avatar) reprisa muito bem o seu personagem. Novamente temos um Norman destruidor, implacável, maquiavélico, sedento por sangue e vingança. Todas as características que engrandeceram a atuação de Lang no primeiro filme está de volta e com uma forma ainda mais brutal e violenta, e aqui ele entrega tudo e mais um pouco.
A adição da jovem atriz Madelyn Grace (O Assassinato da Cheerleader) eu considero como um acerto do filme, pois de fato ela é peça-chave e é muito importante para o desenrolar de toda a história. Apesar de achar que em algumas partes o roteiro peca ao tentar trazer o seu drama pessoal a qualquer custo, ao tentar forçar a sua busca em ser uma criança normal como todas as outras, pois de fato isso pode até funcionar em uma outra temática, mas não cabe aqui.
Tirando o Stephen Lang e a Madelyn Grace, o resto do elenco é bem genérico, bem esquecível! Como é o caso de Brendan Sexton III (Teia de Mentiras), que fez um líder de gangue que se revela ser o pai biológico de Phoenix. Uma espécie de antagonista, de anti-herói, mas que não funcionou em nenhum momento, uma atuação bem fraca. O mesmo vale para a Fiona O'Shaughnessy (Maria e João: O Conto das Bruxas), que fez Josephine, a mãe de Phoenix. Outra personagem totalmente aleatória e irrelevante para o contexto, sem contar que sua atuação é deprimente.
"O Homem nas Trevas 2" possui uma ambientação muito boa, desafiadora, com um clima soturno que foi o grande responsável em prender o espectador na trama. A direção de Rodo Sayagués é muito competente, pois ele soube trabalhar com excelência cada take, cada cena, soube extrair o melhor de cada ângulo, o que nos dava a exata dimensão de cada acontecimento bizarro. A fotografia é excelente, perfeita, muito bem enquadrada em praticamente 100% de cada cenário. A cenografia e a direção de arte é outro grande acerto. A trilha sonora é bem tensa, muito bem ajustada em cada cena, nos fazendo imergir cada vez mais na história.
Temos mais um caso em que o segundo filme não consegue superar o primeiro, e aqui isso é muito nítido, pois de fato o longa anterior é muito melhor e muito superior. "O Homem nas Trevas 2" até consegue entregar um Thriller de terror e suspense que funciona incialmente, mas ao descambar para a ação o longa perde totalmente a credibilidade. De fato o filme serve apenas como entretenimento por ser uma produção descomprometida e despretensiosa, mas é bem passável e completamente esquecível.
Ainda temos uma cena-pós crédito que deixa um arco para um terceiro filme, que eu particularmente torço pra que não aconteça, pois de fato será mais uma continuação completamente desnecessária como esta. [28/05/2022]